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“Vamos verificar quem fez o pedido”, diz diretora envolvida na polêmica sobre o livro “O Avesso da Pele”

A  diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, Janaina Venzon, em entrevista ao Portal Gaz, disse que nesta segunda-feira, 4, será verificado quem realizou o pedido do livro “O Avesso da Pele” para ser trabalhado com alunos do 1º ano do Ensino Médio, no educandário localizado em Santa Cruz do Sul.

A situação ganhou ampla repercussão após Janaina ter publicado um vídeo, na última sexta-feira, 1º de março, em  suas redes sociais criticando o teor de palavras usadas pelo autor Jeferson Tenório, na obra que aborda o racismo estrutural.

“Os livros são analisados pelos professores. Os didáticos a editora traz para a escola, um exemplar de cada, para ser analisado pela coordenação pedagógica para ver qual será utilizado em sala de aula. Eles olham folha por folha. Para fazer o registro da encomenda dos exemplares, a coordenação pedagógica faz o pedido no sistema utilizando o meu CPF”, explica.

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Para obras de literatura, a diretora ressalta que o acesso aos livros é por um sistema on-line do Ministério da Educação (MEC), sem acesso ao exemplar na íntegra. “Não é enviado à escola um exemplar para ser lido e verificarmos se pode ser trabalhado no Ensino Médio ou no Fundamental. O MEC oferta os livros e os professores escolhem. Eles podem visualizar a capa do livro e uma síntese, apenas”, diz.

Conforme Janaina, a situação de quem fez o pedido do livro “O Avesso da Pele” será verificada. “Pode ser um pedido de um professor ou da própria supervisão. Não culpo os professores ou a coordenação pedagógica, pois simplesmente o livro estava ofertado pelo MEC.”

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Ela também destaca que não tira o mérito do livro, mas questiona como devem ser trabalhadas essas palavras – segundo ela, de  baixo calão e conteúdo de ato sexual entre personagens – dentro de uma instituição de ensino. “Antes da distribuição das obras, a bibliotecária fez a leitura dos exemplares, e ela acabou achando muito forte algumas palavras. Poderia ser um vocabulário diferenciado”, finaliza.

A aprovação do livro “O Avesso da Pele” consta na portaria 140 de 14 de setembro de 2022, ainda no governo Jair Bolsonaro. A nota foi publicada no Diário Oficial da União dois dias depois e cita que as obras literárias receberam pareceres antes de constarem na lista. O documento é assinado por Gilson Passos de Oliveira, secretário de Educação Básica substituto. Oliveira também é conhecido por ter atuado como diretor de políticas públicas para escolas cívico-militares.

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O que diz o MEC

Na noite desse sábado, 2, o Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Comunicação Social, disse o livro do autor Jeferson Tenório traduzido para 16 idiomas e ganhador do Jabuti, principal prêmio literário brasileiro, foi incluído no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) por meio de portaria em 2022 depois de passar por uma seleção publicada em edital de 2019.

Conforme o MEC, a escolha das obras literárias a serem adotadas em sala de aula é feita pelos educadores de cada escola a partir de um Guia Digital onde as obras integrantes do programa estão listadas para conhecimento de professores e gestores. “Os livros são distribuídos às escolas somente após a escolha dos profissionais de educação, realizada em sistema informatizado do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).”

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O órgão destaca que a formalização da escolha dos livros didáticos é feita via internet. Apenas após a compilação dos dados referentes aos pedidos realizados pelas instituições é que o FNDE inicia o processo de negociação com as editoras. “O envio de obras literárias para escolas sem o devido e expresso interesse das instituições é falso, uma vez que os exemplares não estão disponíveis fisicamente ainda, sendo que eles sequer foram adquiridos das empresas editoras.”

O texto finaliza dizendo que a aquisição das obras se dá por meio de um chamamento público, de forma isonômica e transparente. “Essas obras são avaliadas por professores, mestres e doutores, que tenham se inscrito no banco de avaliadores do MEC. Os livros aprovados passam a compor um catálogo no qual as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica, tendo como diretriz o respeito ao pluralismo de concepções pedagógicas.”

O autor

O autor e professor Jeferson Tenório foi o primeiro escritor negro e o mais jovem a ser homenageado com o patronato da Feira do Livro de Porto Alegre, na 66ª edição, em 2020. Nascido no Rio de Janeiro em 1977 e radicado em Porto Alegre, Tenório é formado em Letras pela UFRGS. Ainda é mestre em literaturas Luso-africanas pela UFRGS e doutor em Teoria Literária pela PUC-RS.

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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