Santa Cruz do Sul

“Vamos ter que pensar Santa Cruz de outro modo”, diz geólogo

No início de maio, moradores dos bairros Belvedere e Margarida precisaram deixar suas casas em meio ao risco de colapso. A Defesa Civil ordenou a desocupação na área com risco de desabamentos e deslizamentos de terra, afetando 751 imóveis. Passados 21 dias, parte deles voltou para suas moradias. No entanto, conforme o secretário municipal de Segurança, José Joaquim Dias Barbosa, o retorno não é recomendado porque, no momento, não é possível garantir a segurança no local.

De acordo com o geólogo da Secretaria de Obras, Edgar do Amaral Santos, o Bairro Belvedere e parte do Margarida são regiões de encosta íngreme e, à medida que as rochas presentes nos declives se transformam em solo – e também pela presença de fraturas e falhas –, há a criação de espaços que permitem o movimento da água no interior do solo. “Em episódios de chuvas intensas, esses espaços são preenchidos por muita água, o que aumenta o peso da encosta, ocasionando movimentos de massa, também chamados de deslizamentos”, detalhou.

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Santos explicou que, quando as regiões de encostas são ocupadas, normalmente são feitas ações que podem contribuir com a situação dos movimentos de massa. Além disso, em casos específicos, a impermeabilização das cidades pode agravar o problema. Isso porque as águas das superfícies impermeabilizadas são direcionadas a canalizações subterrâneas que, eventualmente, podem se romper ou entupir. “A água tenderá a erodir essa porção subterrânea e causar movimentos de massa. Então, no geral, as canalizações ajudam a evitar deslizamentos por direcionar as águas, mas podem estar relacionadas às enchentes”, afirmou.

Áreas com falhas geológicas

O geólogo José Alberto Wenzel informou que essas áreas se encontram em uma zona de fratura e falhas geológicas. Trata-se de uma linha de aproximadamente 8 quilômetros, de noroeste a sudoeste. Ela é interceptada por outras falhas e fraturas, conforme estudos que apontam a fragilidade geotécnica nos lugares afetados.

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Para Wenzel, é necessário realizar um levantamento geotécnico aprofundado nas regiões afetadas para controlar e compreender os riscos. E a partir desses resultados, elaborar um novo Plano Diretor para o município. “Vamos ter que pensar Santa Cruz de outro modo. Os planos diretores que vieram até agora vão ter que ser totalmente repensados em função da nova realidade”, frisou.

O ambientalista, que é coordenador do Movimento pelo Cinturão Verde, defendeu ainda a necessidade de escutar o recado da natureza. “Ou acordamos e mudamos o processo de desenvolvimento, principalmente de urbanização, ou vamos enfrentar cada vez mais, de forma mais intensa e mais frequente, verdadeiros desastres.”

Wenzel: escutar o recado da natureza | Foto: Julian Kober

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Julian Kober

É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.

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