Tema de reportagem veiculada na edição de sábado na Gazeta do Sul, os casos de prostituição no Bairro Goiás causaram grande repercussão. Na semana passada, moradores de algumas ruas relataram que a situação estava ultrapassando o limite de apenas atuação dos profissionais do sexo e causando constrangimentos, ao se depararem com garrafas de bebida, urina, fezes humanas, camisinhas e até pinos de cocaína em frente às suas residências, além de atentados violentos ao pudor e sexo explícito.
Nessa terça-feira, 7, uma das líderes que dominam o comércio da prostituição nas ruas de Santa Cruz do Sul procurou a Gazeta para dar sua versão dos fatos. A travesti Nicolly Micaeli Lisboa, de 28 anos, tem sua casa de pensionato no Bairro Senai. Ela admitiu os excessos dos profissionais do sexo no Goiás, mas afirmou que isso ocorreu há algum tempo e não agora, nos últimos dias. Confirmou ainda que não haverá mais prostituição a céu aberto nas ruas alvo das reclamações dos moradores.
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“Vamos sair do Bairro Goiás, em virtude de todo esse problema causado. Eu entendo os moradores e não ia gostar que fizessem isso na frente da minha casa ou da minha mãe, por exemplo. Ali são moradores mais de idade, e precisamos respeitar, assim como eles precisam nos respeitar também”, comentou. Nicolly disse que se assustou com a repercussão do caso após a matéria veiculada na Gazeta do Sul no fim de semana.
“Acompanhamos a divulgação que saiu no final de semana. Creio que a população que fez essa manifestação não está a par do que está acontecendo. As fotos tiradas pelos moradores foram feitas há dois meses, pois algumas meninas que estão ali eu tirei na época das primeiras reclamações”, salientou ela, que organiza ações solidárias para crianças carentes nos bairros Senai e Pedreira.
A líder das travestis conta que, após as primeiras manifestações divulgadas pelos moradores em junho e uma reunião com chefes das forças de segurança, foi realizado o que ela chamou de “pente-fino”. “Tiramos as travestis que estavam barbarizando na área, fazendo sujeira. Isso é algo que não tolero. Durante a Oktoberfest, como vieram pessoas de fora, houve uma certa dificuldade, até em virtude do estacionamento que ocupou outras áreas onde atuávamos, mas agora voltou ao normal e não vamos mais estar no Bairro Goiás.”
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O novo ponto fixo para as travestis foi determinado no início da Avenida Paul Harris, na esquina da Rua Capitão Fernando Tatsch, onde há mais pontos comerciais que não funcionam à noite e madrugada, sem residências. Conforme Nicolly, a determinação é inclusive para proteção das próprias travestis, pois alguns moradores já teriam jogado água, ovos e até pedras nelas.
“Tenho imagem disso também. No diálogo, tudo se resolve. Me prontifico a dar meu WhatsApp particular para que os moradores me avisem assim que acontecer qualquer coisa ou excesso, e não chegar nesse ponto extremo. Na cidade não vai mais ser aceito travesti que bebe e usa drogas, ou que cometeu roubos. Tiramos de cena essas pessoas que estavam barbarizando e denegrindo a prostituição, que é legalizada no Brasil. Estamos ali porque temos muitos clientes que nos procuram”, disse ela.
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“Buscamos voz, pagamos impostos, gastamos no município, usando meios de transporte, consumimos no comércio e temos direitos. Existem pessoas que fizeram essas coisas ruins na frente das residências sim, mas foram duas ou três que já tirei daqui da cidade. Essas estragam a nossa imagem e criam essa marginalização. As outras estão ali para sustentar famílias e pagar estudos”, salientou Nicolly, que trabalhou como prostituta por mais de dez anos e atualmente gerencia o grupo que atua nas ruas.
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