Uma obra que propõe o resgate dos principais momentos da história de uma localidade, bem como recupera e fixa elementos de identidade e memórias de sua população, de certo modo é uma biografia daquela comunidade, considerada na coletividade. Com o lançamento de Vale Verde, obra assinada por três pesquisadores, o município com esse nome ganha, em grande estilo, e com todas as letras, a sua biografia. Uma biografia, naturalmente, que seguirá agregando novos fatos a cada dia, mas que jamais poderá deixar de ser de consulta obrigatória para todos os que, na atualidade ou no futuro, vierem a se ocupar do histórico local.
Sob o selo da editora Catarse, de Santa Cruz do Sul, gerida pelo jornalista e professor Demétrio de Azeredo Soster, o volume de 250 páginas foi lançado nessa sexta-feira, em cerimônia às 16h30, no anfiteatro do Centro de Cultura João Gomes Mariante, e, em segundo momento, às 19 horas, na festa da Comunidade Evangélica, no Ginásio 25 de Julho. Foram ocasiões em que os jornalistas Guilherme Ubatuba e Cláudio Froemming e o professor e pesquisador Josinei Ricardo de Azeredo, formado em Letras e Literaturas em Língua Portuguesa, puderam interagir com a comunidade, a qual presentearam com o esforço de cinco anos de pesquisas, estudos e entrevistas.
Fica a obra idealizada pelos três, agora, como referência para todos que se ocuparem da história do Vale do Rio Pardo. E fica ainda como um modelo e exemplo inspirador para os historiadores e especialistas de outras localidades da região, com a tarefa de olhar o passado, para iluminar o presente e planejar o futuro.
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Ainda que se ocupe de Vale Verde, no Vale do Rio Pardo (a 130 quilômetros de Porto Alegre e a 32 km de Santa Cruz do Sul), município hoje com 3.531 habitantes, a obra de Ubatuba, Azeredo e Froemming traz informação valiosa e interessante para toda a população da área central do Rio Grande do Sul. Guardadas as peculiaridades de ocupação ou os acontecimentos específicos de determinada região, muitos municípios comungam de uma mesma formação étnica, o que lhes permite compartilhar essas identidades.
E, no caso pontual de Vale Verde, como os pesquisadores evidenciam, os primeiros apontamentos efetivos do local remontam a 1754, com a oficialização de uma área de terras em nome do paulista Lourenço Bicudo de Brito. É a partir dessa data, portanto, que o livro resgata os 267 anos decorridos, como inclusive referem no subtítulo, até chegarem ao século 21 e, assim, sistematizarem os 25 anos de independência política e administrativa do atual município. Os autores efetivam o que se pode chamar de resgate minucioso de elementos da própria história, da ocupação, do perfil étnico, dos pilares econômicos, das atividades produtivas primárias e da gradativa transformação e industrialização. E, claro, o volume é precioso pela recuperação de personagens, biografias, riquezas culturais, turísticas, arquitetônicas e artísticas.
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A seleção de imagens é um ponto alto do livro, a ponto de o leitor poder manusear a obra ao acaso e viajar no tempo, a instantes de décadas passadas, através das mais de cem fotos, num elogiável trabalho de sistematização e identificação. Muitas delas, uma vez mais, ajudam a contar a história e a memória de toda a região, das localidades vizinhas, e não apenas de Vale Verde. Mas muito especialmente para essa comunidade, o que Ubatuba, Azeredo e Froemming disponibilizam é um encontro com as suas origens, apontando as famílias que mais fortemente se fixaram no imaginário local, os patriarcas, os fundadores, e com eles igualmente os empreendimentos, no futuro núcleo urbano mas também nas localidades de interior.
As três estações de trem, ao longo da linha férrea que corta esse território, merecem uma referência à parte, por ajudarem a contar o enredo da ocupação no Estado e do escoamento de produtos ou do abastecimento. E há, claro, os mais variados aspectos pitorescos, como a predileção das carreiras de boi e de cavalo. Há muito a usufruir nesse oportuno e valioso registro histórico.
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VALE VERDE: 267 ANOS DE HISTÓRIA E 25 ANOS DE EMANCIPAÇÃO, de Guilherme Ubatuba, Cláudio Froemming e Josinei Ricardo de Azeredo. Santa Cruz do Sul: Catarse, 2021. 250 p. R$ 50,00.
“Antes da chegada do homem branco nas terras que hoje são compreendidas como Vale Verde, por certo índios guaranis inúmeras vezes percorreram este local. No entanto, não há relatos de eles terem se fixado de um modo mais contínuo. A primeira pessoa a chegar mais especificamente em Monte Alegre, todavia, foi o capitão-mor e descendente de portugueses Lourenço Bicudo de Brito, por volta de 1753 ou 1754. Ele tomou posse de uma terra que viria a ser oficializada em 1754, quando o governador do Rio de Janeiro e Minas Gerais general Antônio Gomes Freire de Andrade, que fora nomeado principal comissário português para a execução do Tratado de Madri nas divisas sul e oeste, formalizou a ‘1ª sesmaria de campo’, por meio de uma ‘carta de sesmaria’.”
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