Luis Ferreira

Vai se transformar em algo diferente

Quantos inícios de ano teremos pela frente? Os filósofos estoicos, que voltaram a ser populares nos últimos tempos, ressaltaram a curta duração da vida para valorizá-la. Um dos mais famosos é Marco Aurélio, o imperador romano autor das Meditações.

Sobre isso, escreveu:
“Recorda que meramente vives o presente, que é um momento brevíssimo. Todo o resto é passado ou incerto. Pouco é o que cada um vive. Diminuto é o pedaço de terra no qual se vive. Breve é a mais longa fama póstuma.”

O tempo é curto para desperdiçar e o que existe vai terminar, mas não necessariamente desaparecer. Vai se tornar outra coisa. “Alguém teme a transformação? Pois o que pode existir sem ela?”, questiona Marco. Essa é a lei. O corpo só se desenvolve com a transformação dos alimentos que ingerimos, o fogo da lareira que aquece vem da metamorfose da lenha.

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“Não vês então que tu mesmo se transformas e isso é igualmente necessário à natureza do Todo?” Dito de outra forma, tudo é movimento, o repouso é uma ilusão. Nada é absolutamente estático, nem mesmo na morte. Só minha visão limitada me impede de ver, além da aparente imobilidade da mesa na sala, a efervescência dos átomos que a compõem. Ou a atividade frenética dos micro-organismos, da vida invisível que nos cerca em todo lugar.

O mundo também caminha para se transformar em algo diferente, não se sabe o quê. Nossas ações ou omissões vão decidir. Uma casa sem reparos nem manutenção está condenada à ruína pela ação do tempo, e não é diferente com a vida coletiva. Engana-se quem pensa que é possível manter um determinado estado de coisas para sempre, uma ordem social/cultural imutável.

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E não é por acaso que qualquer ano se inicie, invariavelmente, com ares de mudança, promessas e projeções de uma vida mais satisfatória. Depois a euforia passa, semanas e meses se sucedem, caímos na repetição de velhos hábitos e nos rendemos à rotina, mas o desejo de mudar continua lá. Todos querem mais, mesmo quem não têm motivo para se queixar.

Volto a Marco Aurélio e repito palavras escritas há quase dois milênios: alguém teme a transformação? O que pode existir sem ela?

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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Ricardo Gais

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