É verdade que o Brasil é referência em vacinação, sendo responsável por um dos maiores programas de imunização do mundo. Ainda assim, a Covid-19 chegou como um desafio totalmente novo para as autoridades de saúde. Em Santa Cruz do Sul não foi diferente, conforme avaliou o coordenador do setor de imunizações da Secretaria Municipal de Saúde, Róger Rodrigues Peres.
É consenso entre os profissionais que essa campanha é um esforço inédito. “Claro que já houve outras grandes campanhas que exigiram muito trabalho e planejamento, mas essa parece para todos que está sendo algo muito diferente”, diz. Ao elencar essas diferenças, Róger cita as incertezas sobre a compra e a distribuição das vacinas e também o pouco conhecimento da ciência sobre a doença.
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Ainda na questão do planejamento, o coordenador relata a dificuldade de organizar as aplicações para públicos que ultrapassaram as 5 mil pessoas em um só dia. “Nós não somos promotores de eventos, não temos expertise com grandes públicos. É algo diferente de tudo que estamos acostumados, mas vendo outras experiências conseguimos planejar melhor as situações.”
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Para dar conta dessas mudanças, a Secretaria de Saúde precisou ampliar significativamente seu quadro de pessoal, a frequência das atividades e a quantidade de material movimentado. “O setor de imunizações triplicou de tamanho. As idas e vindas de carros, caixas térmicas, gelo, seringas, os recipientes para descarte, tudo isso triplicou”, afirma. Além disso, os servidores precisam estar sob constante capacitação, em função das várias mudanças nas normas técnicas.
Róger recorda que outras campanhas são planejadas pelo Ministério da Saúde, enquanto a campanha da Covid-19 teve participação ativa dos governos estaduais e das prefeituras, ocasionando distinções nas regras entre Estados e municípios.
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Com tantos profissionais envolvidos no planejamento e tantas alterações, a secretaria enfrentou também o desafio de se comunicar com a população. “Se era difícil para os profissionais entenderem cada momento da campanha, as mudanças e essa situação do produto que chegava em pouca quantidade e para onde seria destinado, eu compreendo perfeitamente a população que também não entendia qual grupo estava sendo vacinado e em que local deveria ir”, comenta Róger.
Conforme o coordenador, o objetivo da Prefeitura sempre foi receber e aplicar as vacinas o mais rápido possível; contudo, isso não pode ser feito de qualquer forma. “Existe uma diferença entre nós termos pressa e agilidade. A pressa faria com que nós errássemos, talvez não pensando o suficiente sobre qual decisão tomar. Mas temos que ter sim agilidade, receber o produto, armazenar corretamente, planejar os melhores pontos para acesso do público e aplicar o quanto antes”, completa.
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Róger destaca ainda que a vacina é um produto sensível e que demanda diversos cuidados com seu armazenamento e transporte.
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“Existe todo um processo de sair da central e acondicionar em uma caixa térmica com gelo, sem encostar no produto para que não congele. Ele precisa ficar entre 2 e 8 graus, não importa se está frio ou quente. Quanto tempo demora até o local, chegando lá quem é que vai receber, quantas doses tem, qual o lote, quantas pessoas estão na fila. Precisa ter seringa em quantidade suficiente, e não pode ser qualquer seringa, não é qualquer agulha. Cada vacina tem uma dosagem, algumas precisam de diluição, o tempo útil após a abertura varia. Existe toda uma complexidade”, explica o coordenador.
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Outro desafio ressaltado diz respeito ao imediatismo. Muitas vezes as doses chegavam ao Rio Grande do Sul para então haver uma reunião entre Estado e municípios e definir a distribuição e os novos grupos contemplados. “As pessoas perguntavam como seria na semana que vem, para poderem se programar, levar o filho, sair mais cedo do trabalho. Eu também adoraria saber e informar, mas por exemplo, se uma remessa estava programada para terça-feira, as regras só eram definidas para nós na segunda”, afirma. Dessa forma, segundo Róger, não era possível fazer planejamento de médio e longo prazo, o que acabou por também dificultar a organização.
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