Em 1768, a imperatriz russa Catarina, a Grande, se ofereceu para ser vacinada contra a varíola, em um esforço para mostrar aos súditos que a técnica médica emergente era segura. Na ocasião, a Rússia enfrentava uma severa epidemia de varíola.
Ela contratou o médico inglês Thomas Dimsdale, que defendia um método de inoculação de pus de doentes com sintomas leves de varíola em pessoas saudáveis para que eles não se infectassem – um método que era usado havia tempos em países orientais.
Ela foi inoculada em segredo, mas a carruagem mais rápida da Rússia ficou a postos caso algo acontecesse a Catarina e seus súditos quisessem linchar Dimsdale. A operação foi um sucesso, Catarina se recuperou em poucos dias, e o método de inoculação preventiva se espalhou.
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Tudo isso aconteceu 30 anos antes do médico inglês Edward Jenner se consagrar ao vacinar o jovem James Phipps com fluidos das pústulas de vacas com varíola bovina, que preveniram Phipps de contrair a doença. O método ficou consagrado por ser mais seguro que a inoculação em pessoas saudáveis do que o pus de pacientes com varíola.
A história é o melhor exemplo de como, na ciência, nem sempre a primeira vacina é a melhor. “As pessoas acham que a vacina mais útil é que a sair primeiro. A vacina mais útil é a que tenha o resultado completo, integral, mais positivo para o público”, afirma o médico Márcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP (CPCE-USP) e mestre em saúde pública.
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“Um pedaço sempre é o preço, mas outro muito importante é a segurança. E outro é a eficácia. E o último pedaço é a logística. A vacina que tiver o melhor balanço entre preço, eficácia, segurança e logística, é a vacina que vai dar certo. E talvez seja mais de uma porque elas podem ser parecidas”, explica. “A vacina que ganhará é a que nessa combinação tiver o melhor perfil. Pode ser a terceira ou a quarta, pode sair meses depois da primeira ou daqui anos.”
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Ceticismo
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Especialistas em saúde pública e a própria OMS têm alertado que a busca pela vacina mais efetiva não será um processo rápido – nem vai se encerrar com a descoberta do primeiro imunizante. “O cenário realista provavelmente será mais parecido com o que vimos com o HIV/AIDS”, disse ao Washington Post Michael Kinch, especialista em desenvolvimento e pesquisa de medicamentos da Universidade de Washington.
“Com o HIV, tivemos uma primeira geração de medicamentos bastante medíocres. Receio – e as pessoas não gostam de ouvir isso, mas estou constantemente dizendo isso – que temos que nos preparar para a ideia de que não teremos uma vacina muito boa. Meu palpite é que a primeira geração de vacinas possa ser medíocre.”
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