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CONVERSA SENTADA

Vacina, chegou minha vez

Eu tinha três opções para me vacinar. Unistalda, onde se situa nossa fazenda. Cinco mil habitantes. A maioria de pessoas com poucos recursos. Achei que não me seria lícito tomar o lugar de alguém pobre. Essa é a palavra: pobre. A maioria é de uma pobreza digna. São pessoas honestas, respeitosas, todos se conhecem. Mas ficaria horrível tirar de qualquer habitante sua chance de se vacinar.

Teria a possibilidade de optar por Xangri-Lá, onde estou recluso naquele paraíso. Tenho tudo de que preciso. Mas nem tudo são flores na rica e pequena cidade. Quem passa pela estrada do mar e cruza olhando à esquerda vê inúmeros casebres. Tem muita gente pobre, conquanto não haja criminalidade. Daí que eu digo que são heróis os garis, os pedreiros, pintores, cortadores de grama, catadores de latas de cerveja.

O novo prefeito, meu amigo Celsinho, recém assumiu, está fazendo o que pode. Mas seria muito feio eu me vacinar lá, considerando que as vacinações estão atrasadas. Esses dias passei por um lugar de vacinações e dava pena de ver pessoas de idade na fila, num sol inclemente. Lá estão no calor, sem se queixar, conformados, mas sem uma cadeira para sentar. Vamos ser francos: uma coisa é uma pessoa que teve condições de manter boa saúde e outra é um peão de obras, embora ambos tenham a mesma idade.

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Descartei Xangri-Lá.

Restou Porto Alegre, onde também tenho casa.

Quando soube que haveria vacina para as pessoas de 75 anos, me dirigi à Capital e fui direto no Barra Shopping. Não quis ir aonde haveria filas na calçada, pois temia aglomerações. Optei pelo drive-thru. O pátio de estacionamentos estava lotado. Em seguida, todavia, consegui entrar. Em 30 minutos, cheguei ao subsolo onde aguardavam os enfermeiros. Mostrei minha identidade e a conta de luz para provar que também morava em Porto Alegre. Me fizeram algumas perguntas e o pessoal do Exército, que coordenava toda a operação, se mostrou duma gentileza ímpar. Fiz a vacina em questão de 30 minutos.

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Dia 8 será o reforço. Os militares me deram uma caderneta onde tudo está apontado. Que organização!

Aqui na praia, 90% dos caminhantes são jovens. E acreditem, pasmem, não usam máscaras.

Será que não se flagram? Será que não atinam que a doença é muito dolorosa?

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Praza aos céus que o Presidente, os governadores e os prefeitos cuidem mais da administração, de preferência fiquem mais quietos, unam-se, as eleições estão longe e deixem o resto para os médicos e trabalhadores da saúde, esses anjos do bem.

Moro: eu não disse desde o começo? Ovelha não é para mato.

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