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Meio Ambiente

Uva-do-japão avança e ameaça espécies no Cinturão Verde

Foto: Alencar da Rosa/Banco de Imagens

Um estudo feito por acadêmicos do programa de pós-graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) mostra que a uva-do-japão já toma conta de pelo menos 23% de toda a extensão do Cinturão Verde. A espécie exótica, nativa da Ásia, tem disseminação muito mais rápida do que as nativas da Mata Atlântica e já provoca o desaparecimento de algumas espécies.

Em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9 na manhã dessa segunda-feira, 23, o doutorando responsável pelo trabalho, Patrik Gustavo Wiesel, detalhou alguns pontos. Segundo ele, a Hovenia dulcis (nome científico da planta) possui um comportamento invasor agressivo. Isto é, se dissemina rapidamente e provoca danos ao ecossistema onde está inserida. “Ela produz uma quantidade muito grande de sementes e, comparativamente, se reproduz muito mais rápido que a maioria das demais árvores do Cinturão Verde”, explicou.

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Por ter um sabor adocidado, os pseudofrutos carnosos produzidos pela uva-do-japão são muito atrativos para a fauna, o que também contribui para aumentar o problema. Uma característica da espécie é ser caducifólia, ou seja, perde totalmente as suas folhas durante os meses de inverno e retorna à forma tradicional na primavera e no verão. “Ela tem as folhas em um tom de verde claro totalmente diferente do restante, então é muito fácil perceber onde está presente.” Foi essa percepção que motivou o acadêmico a dar início ao estudo.

Wiesel salientou que a situação não ocorre somente em Santa Cruz, mas em todas as áreas de Mata Atântica. Para enfrentar a invasão, alguns estados, como Santa Catarina, já proibiram a venda e o plantio de mudas, bem como empregam ações para controlar a uva-do-japão e substituí-la por outras espécies nativas. Em Santa Cruz, a lei 9.090/2022, que alterou o Plano Diretor de Arborização, proíbe o plantio da Holvenia dulcis nas calçadas do município. São proibidas também a canela-tempero, cinamomo, eucalipto, figueira-benjamin, ingá, jambolão, ligustro, pinus e ciprestes, bem como espécies com espinhos.

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O avanço da uva-do-japão sobre o Cinturão Verde, enfatizou Wiesel, começou pelas bordas, onde a vegetação é mais fragmentada, e seguiu para o intrerior. Atualmente, os exemplares estão presentes em praticamente todos os pontos, com exceção do entorno do condomínio Costa Norte, entre os bairros Universitário, Renascença, Santo Inácio e Jardim Europa. “Hoje nós temos 23%, mas talvez nos próximos anos a invasão cresça para 25% ou 26% e assim a biodiversidade nativa vai despencando”, comentou o doutorando.

Meio Ambiente quer saber mais

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade informou que tomou conhecimento do estudo a partir de uma breve apresentação feita durante a Semana Municipal do Meio Ambiente. A pasta, entretanto, já estava ciente da presença indevida da uva-do-japão no território do município.

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De acordo com a diretora Josiane Frantz, já existe a exigência, em todas as solicitações de licenciamento ambiental, da remoção da espécie da área em questão. Em caso de solicitação de plantio de árvores, o solicitante é informado de que é proibido o plantio. Josiane salienta ainda que a secretaria tem interesse em conhecer os resultados do estudo de forma mais detalhada.

Invasão ameaça as espécies nativas

De acordo com o especialista, a invasão prejudica os demais vegetais dentro do ecossistema, que acabam desaparecendo. “Nós percebemos que onde a Nectandra megapotâmica (canela-preta) tem conflito com a uva-do-japão, a canela acaba morrendo.” Essa situação também afeta outras variedades que compõem o dossel da floresta (parte composta pelas árvores mais altas). “Outro ponto que percebemos é que onde há grande aglomeração de uva-do-japão, começam a aparecer outras espécies exóticas invasoras na base.”

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Entre os exemplos citados por ele estão a Licuala grandis (palmeira-leque), a Eryobotria japônica (ameixa amarela) e o Citrus limônia (limão-cravo). “São todas espécies que a população gosta, mas que em um ambiente florestal se tornam um problema.” Outras invasoras elencadas pelo acadêmico são a Persea americana (abacateiro), em uma área específica no Bairro Arroio Grande, e a Archontophoenix cunninghamiana (palmeira-real). O estudo está em fase de conclusão e posteriormente será transformado em artigo para publicação em revista científica.

*Colaborou o jornalista Ronaldo Falkenback

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