Fechando quase seis meses de atendimentos no plantão 24 horas do Hospital Santa Rosa de Lima, disponibilizado graças aos convênios com os municípios de Arroio do Tigre e Estrela Velha, uma avaliação, realizada na semana passada, mostrou que muitos usuários do serviços procuram a instituição de saúde para casos eletivos, ou seja, quando não são casos de urgência nem emergência. Em entrevista ao “Giro Regional” da Gazeta FM, na manhã da última terça-feira, a secretária da Saúde de Arroio do Tigre, Verediana Limberger, destacou que algumas coisas estão preocupando. “O serviço, de um modo geral, está muito bom. A gente se preocupa quando alguém critica alguma coisa, mas podemos garantir que estamos bem servidos no que se refere a urgência e emergência, no entanto precisamos fazer algumas ressalvas para manter este serviço em funcionamento”, disse.
Para o médico Mauro Gimenez Olazar, que também participou da roda de conversa, o ideal seria que todos fossem atendidos sem espera. “Infelizmente todos conhecem a realidade do nosso estado, do nosso país e do nosso município. Nós não temos como sustentar um atendimento desta maneira. E foi por essa maneira que se colocou o nome de urgência e emergência. Mas o brasileiro tem um órgão que se chama umbigo e cada um pensa só no seu e acha mais fácil ir até o hospital do que esperar em uma fila no posto de saúde quando o caso não é grave. Isso acaba onerando o serviço e consequentemente o inviabilizando”, explicou. O profissional da saúde ainda destacou para qual motivo o plantão foi criado. “O serviço está disponível para garantir que ninguém morra sem atendimento, para que ninguém deixe de ser atendido quando realmente é necessário, e não para satisfazer as necessidades de quem acha que não pode esperar”, pontuou.
De acordo com a administradora do Hospital Santa Rosa de Lima, Madalena Pasa, a única maneira de garantir a continuidade dos atendimentos 24 horas via Sistema Único de Saúde (SUS) é a conscientização. “Só o bom senso da nossa população é que vai garantir que o plantão permaneça em funcionamento, pois o papel do hospital é salvar vidas e não para fazer consulta. Essas consultas tiram o tempo dos nossos médicos, das enfermeiras e enfermeiros, dos técnicos em enfermagem, das meninas da limpeza, pois nós não temos gente sobrando e também não há condições de contratar mais gente. Eu espero mesmo que as pessoas se conscientizem, pois se continuar do jeito que está eu não vou deixar o nosso hospital virar um postão”, declarou.
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Atualmente, conforme a secretária da Saúde, o convênio entre o município e o hospital garante, além dos atendimentos de urgência e emergência, alguns leitos de observação, suturas e duas cirurgias de emergência. “Essas cirurgias não somos eu ou administradora do hospital que escolhe quem vai fazer, mas sim o médico diante da necessidade do paciente que chega”, explica. O médico ainda citou o que se enquadra dentro daquilo que o plantão atende. “Quando nós temos uma situação de emergência? Uma complicação de diabetes: uma hipoglicemia muito severa ou uma hiperglicemia. Isso é gravíssimo; crises convulsivas ou epilepsia; desconforto respiratório grave: aquelas pessoas que têm um enfisema gravíssimo ou crianças com asma; dor no peito associada a falta de ar; estados de coma; intoxicação por veneno; lesão na coluna; parada cardiorrespiratória; perfurações no peito, abdômen ou cabeça; politraumatismos; tentativas de suicídio com graves danos ao corpo; trauma craniano grave. Isso é emergência e existe um tempo de para esses casos. E esse tempo é zero. O paciente chegou e tem de ser atendido”, explicou.
Conforme Olazar, há a possibilidade de ser implantado o Protocolo de Manchester. Criado em 1997, ele prioriza os atendimentos conforme a sua urgência ou emergência. Ele também explicou o que caracteriza uma urgência. “Alterações de sinais vitais; pressão muito elevada; crise de asma; desmaios; diminuição do nível de consciência; dor abdominal ou de cabeça intensa; febra alta: acima de 39 graus; hemorragias; náuseas, vômitos e diarreias persistentes; sangramentos vaginais com dor abdominal; trauma craniano leve. Isto é urgência”, detalhou.
No entanto, contrariando aquilo que determina a função do plantão, os casos mais atendidos são os eletivos. “Os casos eletivos são: ardência para fazer xixi; crises nervosas; dores musculares; dor de cabeça leve; entorses; febre abaixo de 39 graus; fraqueza; falta de apetite; gripe; dor de garganta, ouvido e dente; insônia, tosse há vários dias”, explica Mauro. Segundo ele, esses casos devem ser atendidos nos postos de saúde ou consultórios.
Dois dos casos mais curiosos e fora dos padrões já atendidos durante o plantão foram comentados pelo médico Mauro. “Chegou um paciente, durante o plantão que um colega cobria, às 4h30 de domingo para segunda-feira, dizendo que teria que viajar em seguida para mostrar exames. Esses exames, inclusive, não haviam sido pedidos pelo sistema da emergência, eram apenas exames eletivos.
Um outro caso foi de um rapaz que procurou a emergência porque estava com câimbra. Algo que é surreal para a nossa realidade”, disse.
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