A família Mayer, de Rincão do Sobrado, no interior de Passo do Sobrado, já praticamente no limite com Santa Cruz do Sul, foi surpreendida há cerca de três meses por um visitante inesperado, que não titubeou em se tornar hóspede em uma estufa de tabaco quase centenária existente na propriedade.
Em certo dia de outubro, seu Ivo José Mayer, 78 anos, deu-se conta de que um casal de aves estava habitando a construção, pouco usada desde que deixaram de plantar tabaco, há mais de dez anos. Mas não era qualquer espécie: nada menos do que urubus, que haviam construído o ninho no chão, a um canto, e já estavam empenhados em chocar os ovos. Passados exatos 33 dias, eles finalmente eclodiram, e então o casal de urubus tratou de se esmerar em alimentar os dois filhotes.
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Quem descreve a situação é o produtor de hortaliças e verduras Sérgio Luiz Mayer, 53, filho de Ivo e Selmira Maria Mayer, 75. “Um dia o pai chegou para nós e contou que tinha visto aves grandes voando para dentro da estufa antiga, já meio abandonada, entrando pelas aberturas de ventilação. E disse que achava que eram urubus”, explica Sérgio. “A gente riu e duvidou, dizendo que não podia ser, que devia ser outra espécie. Mas então fomos mesmo conferir e qual não foi nossa surpresa quando nos deparamos com o casal de urubus já às voltas com o ninho.”
Conscientes quanto à necessidade de preservação da natureza, de todos os elementos do meio ambiente, os Mayer não titubearam em deixar que os urubus permanecessem no local, e sem serem incomodados. Na medida em que o tempo ia passando, e que a notícia chegou aos ouvidos de vizinhos ou de outras pessoas, cada vez mais curiosos apareciam para ver as aves ou para se informar a respeito.
“Até deixamos que os vissem, mas nunca que alguém incomodasse eles”, frisa. “Uns até diziam que era para espantar eles dali; afinal, eram urubus. Mas por acaso não são importantes na natureza, como lixeiros que limpam o meio ambiente dos restos de animais, e assim causam um bem a todos nós?”, indaga Sérgio.
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Desse modo, nas últimas semanas, os Mayer testemunharam o empenho do casal de urubus em tratar os filhotes. “À medida que eles crescem, os pais têm cada vez mais trabalho, em providenciar alimento, em idas e vindas constantes”, comenta.
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As avezinhas, ainda pequenas, têm penugem branca, ao contrário dos adultos, de penas pretas. “Já com o instinto de preservação, quando estão mais grandinhas e sentem alguma ameaça, a forma como elas se defendem é: tão logo algo se aproxima delas, ou intuem perigo, vomitam as carniças que engoliram”, frisa o agricultor. “Com o mau cheiro, o forte odor, o que se aproximou acaba indo embora.”
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Ele acredita que a “família” de urubus terá de permanecer mais algumas semanas no local até os filhotes estarem em condições de voar junto, em segurança e em condições de sobreviver na natureza. Até lá, terão de ser alimentados, e tendem a exigir muitas viagens dos pais em busca de comida na redondeza.
Um bom refúgio
Sérgio afirma que nas proximidades de casa há uma antiga pedreira, que é explorada por um de seus irmãos, Cristiano, 45, que reside em Santa Cruz, enquanto outro irmão, Rogério, 49, também é verdureiro, mas em Linha Áustria. “Eles certamente se mantinham na pedreira, mas o pai comentou que viu as mesmas aves tentando se instalar antes em um plátano oco, onde as galinhas costumavam fazer ninho”, ressalta. “Como certamente as galinhas os afugentaram dali, concluíram que entrar pelas aberturas da estufa de tabaco antiga lhes garantiria um bom refúgio. E deu certo.”
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Cuidados redobrados com o meio ambiente
Os cuidados e a proteção a esses visitantes incomuns e inesperados, o casal de urubus, são apenas uma das facetas da consciência de preservação ambiental da família Mayer. Na propriedade de 10 hectares, a 12 quilômetros de Santa Cruz e a sete da sede de Passo do Sobrado, eles estão acostumados a testemunhar os passeios de dezenas de espécies de aves. Os açudes grandes próximos das duas casas, a de seu Ivo e de dona Selmira e aquela em que Sérgio mora sozinho, são um convite a mais para atrair passarinhos diversos e outros animais.
Enquanto se dedica, desde o início do ano, ao cultivo de inúmeras espécies de verduras e hortaliças, tendo a ajuda da noiva Sandra, 40 anos, nos cuidados da plantação, Sérgio alimenta e desfruta da agitação de vários pássaros.
“Para se ter uma ideia, há uns tempos apareceram no pátio, bem perto de casa, dois casais de cardeais, muito bonitos”, cita. Ele não só decidiu protegê-los e alimentá-los, como levou ao pé da letra a responsabilidade. “Fui até a Agropecuária Kroth, ali no Belvedere, e pedi alguma indicação de ração ou de alimento ideal para essa espécie. Assim, agora estou tratando eles com uma mistura de painço, alpiste, milho moído, quirera, a capricho”, frisa Sérgio.
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O resultado é que os cardeais já têm a companhia de canários, pombos, rolinhas, chupins e uma infinidade de passarinhos. “É um privilégio!”, define.
Já em sua plantação de hortigranjeiros, que ocupam em torno de meio hectare, Sérgio e os pais, com a ajuda de Sandra, cultivam um amplo mix, de repolho verde e roxo a pepino, brócolis comum e de cabeça, alface verde e crespa, moranga cabotiá, aipim e batada-doce. Os produtos são comercializados junto a clientes de Santa Cruz do Sul e de Passo do Sobrado, basicamente em contatos estabelecidos via WhatsApp.
“As pessoas nos enviam mensagem dizendo quais os itens que querem, e a gente faz a entrega a domicílio, com presteza e agilidade”, cita. Menciona que atendem independentemente do volume ou do valor da compra, apenas cobrando uma pequena taxa de entrega para aquisições que perfazem menos de R$ 15,00. “Mas para encomendas acima de R$ 15,00 entregamos sem cobrar qualquer taxa a mais”, ressalta. Segundo ele, ao lado dos pais, e por sugestão da noiva, decidiu apostar nas verduras e hortaliças, depois de trabalhar por vários anos como empregado em um frigorífico.
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