Ruy Gessinger: ‘Urnas. A quem serve o retrocesso?’

Eu ainda peguei, como juiz, a época da redução a termo através da máquina de escrever Remington. Muito cuidado para colocar sob a folha de papel uma de carbono, para obter uma cópia. As prateleiras estavam repletas de processos já findos. Mas não se permitia, de jeito nenhum, incinerar ou mandar dar outro fim para essa papelama. Nas audiências tinham que ser reduzidos a termo os depoimentos. Depois vinha a conferência, sempre alguém alegando que não fora isso que o depoente dissera.

Gravar a audiência, nem pensar, mesmo porque ainda não havia tecnologia adequada.

Nos estabelecimentos bancários havia centenas de escriturários. O dinheiro dos correntistas era lançado numa grande folha, onde eram registradas as saídas e ingressos.

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Muito se usava o cheque.

Quando eu era criança, eu fui uma ou duas vezes com meus pais votar no Centro de Santa Cruz. Havia horrores de folhetinhos no chão com o nome dos candidatos. Meu pai era do partido do Norberto Schmidt e a mãe votava pelo partido do Euclydes Kliemann. Era tudo num papelzinho. Diziam, na época, que era um problema as contagens dos votos.

Quando ainda havia o voto físico, eu era juiz eleitoral. A Unisinos engatinhava com a informática. Me reuni com alguns próceres e bolamos uma maneira de totalizar rapidamente os votos. A contagem era nas mesas, que forneciam o boletim, o qual ia para o computador.

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Eu sempre ouvira que as urnas não podiam dormir sozinhas. Que durante a madrugada poderia haver uma “insônia”.

Ora, a lei dizia que as apurações deveriam iniciar no dia seguinte ao da eleição. Bueno, conclui que no primeiro minuto seguinte ao do dia da eleição era lícito iniciar a contagem.

Foi o que fiz. Convoquei os mesários e abri as urnas no primeiro minuto depois da meia-noite, com fiscais dos partidos e a imprensa.

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O presidente do TRE não gostou. Mas fui em frente, pois houvera a concordância de todos os partidos e do MP. Horas depois estava tudo resolvido e proclamados os resultados.

Como presentinho, o TRE se reuniu e me aplicou a pena de Censura. Amigos pediram para eu recorrer. Declinei porque nada de grave aconteceu. Não se anulou nada.

Levei algumas “caronas” nas promoções.

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Mas a grande vitória de todos nós, como magistrados e cidadãos, foi o advento das urnas eletrônicas. O que alguns mal informados estão querendo fazer é tornar a votação insegura, mais complicada.

E querem voltar ao voto com papel? De novo com dias e dias para a apuração?

Tomara que não se complique um sistema que funciona muito bem. Papel é retrocesso.

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Espera-se prudência por parte dos congressistas.

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