Eis que chegamos a 2021, e o 2020 tão impossível de dimensionar ficou no passado. Ficou no passado, pelo avançar irrefreável do calendário, mas talvez não desapareça nunca, ao menos não tão cedo, da memória e do imaginário das gerações atuais. Foi, sem dúvida, um ano muito complicado em todos os espaços. Muitas, milhares de vidas foram perdidas, vidas que poderiam ter permanecido, que poderiam ter chegado a 2021, e que estariam convivendo com os seus talvez ainda por muitos anos.
Mas houve a pandemia, houve um vírus, que devolveu a humanidade a sua verdadeira condição: de refém do destino, da onipotência da natureza, do mundo como ele sempre foi, e sempre será. E nesse mundo, com a finitude inerente a tudo, e assim à própria condição humana, cabe aprender, evoluir. Se nos dignamos a nos chamar, a nós próprios, de Homo sapiens, que façamos jus, sendo sábios, e não o contrário, que, infelizmente, é o que mais se tem visto e exposto em sociedade.
E uma das primeiras decorrências do gradativo acesso ao que, digamos, se possa chamar de sabedoria (que também pode ser maturidade, evolução pessoal e coletiva) é que somos parte do mundo natural, do meio ambiente, da natureza. Parte: mísera parte, frágil, finita, como todos os demais seres, da flora, da fauna, do micro ou do macrocosmo. O ser humano não está aí para ser o dono do que vê ou do que o cerca; ele é PARTE do que o cerca. Como tal surge, sem nunca ter certeza de onde veio, e como tal partirá, para ser novamente incorporado à natureza, como tudo mais: animais, pássaros, plantas, o próximo e o distante de nós.
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A consciência de que não somos donos da água, do ar, da terra, do fogo, do universo, de que meramente coexistimos nesse espaço que nos foi dado dividir com todo o resto, é condição vital para mudar nossa relação com o todo. Quando a água escasseia, isso ocorre para todos; quando o ar fica irrespirável, como o temos deixado, isso afeta a tudo e a todos, inclusive a todas as espécies que nada fizeram para degradar a natureza, que apenas… existem. E, no entanto, sem culpa, elas sofrem, e muito mais do que nós. Quando faz calor ou frio, ligamos o ar-condicionado; quando falta água, reclamamos. Na natureza, no mundo real, não existe arcondicionado, nem telentrega de água.
E é nesse mundo, o real (natural, e não artificial), que devemos aprender a viver, e pelo qual cabe-nos zelar, a partir deste 2021. Ou fizemos um planeta melhor, mais saudável e sadio, com perspectiva de futuro para cada ser existente, ou jamais esse mundo poderá ser bom e benéfico para qualquer um de nós. Se há algo que 2020 deve ter nos ensinado é que somos falíveis, e não exatamente sábios (os tais Homo sapiens). Então, que em 2021 assumamos nossa condição e nossas limitações, e que devolvamos a todas as espécies seu direito a uma vida plena e digna. Ou o planeta acabará por se livrar, com alguma objetividade, da única espécie que tem colocado tudo em risco.
Um bom 2021, e que possamos construí-lo juntos, com justiça, ética e dignidade. Unidos, e jamais desunidos.
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