Com dez bairros e mais de 14 mil pessoas afetadas diretamente pelas enchentes de maio, Rio Pardo enfrenta uma situação de calamidade pública de difícil solução. As demandas vão desde a atenção básica, como distribuição de agasalhos e cestas com produtos essenciais, até a recuperação de estradas, pontes e a infraestrutura fundamental. Com o propósito de tornar essa atuação mais precisa, ágil e qualificada, o Ministério Público conduz uma força-tarefa.
O grupo de trabalho conta com representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário, clubes de serviços, grupos de voluntários, forças de segurança e salvamento e outras instituições envolvidas nos atendimentos. As reuniões semanais servem para apresentar o balanço das ações dos dias que se passaram, identificar carências e êxitos e ainda traçar estratégias para a sequência. O objetivo é que essa atuação conjunta permaneça pelo menos até o fim deste ano, mas poderá ser ampliada se as necessidades da população rio-pardense ainda não tiverem sido supridas na totalidade.
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Conforme a promotora Christine Mendes Ribeiro Grehs, a força-tarefa surgiu da constatação de várias entidades e do poder público de que a tragédia provocada pelas cheias não se encerrou após as águas baixarem. “As pessoas ainda estão desesperadas, com suas vidas descontroladas pela falta de habitação e por terem permanecido em abrigos”, observa. Diante desse cenário, o Ministério Público propôs uma reunião com todos os envolvidos nos atendimentos à população e disponibilizou o espaço para as discussões.
A partir das percepções de cada profissional ou voluntário que foi a campo prestar auxílio, afirma Christine, foi possível organizar e agilizar as ações para garantir a melhor resposta. No primeiro encontro, as funções e áreas de atuação de cada entidade ou órgão público foram definidas. Para os subsequentes, foram estabelecidas metas semanais. “Desde a última reunião, todos os grupos foram a campo, fizeram cadastros e tiraram fotografias, tudo para que tenhamos esses dados à mão”, acrescenta.
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Durante as conversas, outras iniciativas importantes também foram cobradas e incentivadas, como o aluguel social junto ao mercado imobiliário e as doações por parte da população. Com o apoio da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e todas as suas áreas de atuação, a força-tarefa ganhou ainda mais qualificação e possibilidades. “Queremos continuar dessa forma até o fim deste ano, depois todas as instituições voltarão a trabalhar como faziam antes.”
Christine destaca o papel fiscalizador do Ministério Público, mas também a função de estar atento às necessidades da comunidade. “É uma honra para nós podermos contar com esse grupo, e acreditamos que essa mobilização seja porque as pessoas nos enxergam como um catalisador de seriedade.” A promotora aposta na vontade e na credibilidade de todos os componentes para atender, com êxito e qualidade, às demandas de todos os atingidos pelos eventos climáticos extremos e as consequências deles.
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Depois de uma catástrofe que está exigindo o máximo das capacidades do poder público de Rio Pardo, os clubes de serviço e entidades beneficentes estão demonstrando sua força no amparo das famílias vítimas das enchentes e enxurradas. Representante do Rotary Club Tranqueira Invicta, Maria Beatriz Moraes salienta o empenho dos Rotarys de outros municípios e até de outros países para arrecadar e encaminhar doações. Segundo ela, a força-tarefa se tornou fundamental para direcionar as ações e contemplar as prioridades com rapidez.
O clube representado por Beatriz envolveu cerca de 35 pessoas em várias frentes de trabalho, com foco nos bairros Guerino e Jardim Boa Vista. “Se não houvesse essa integração, poderia ocorrer de um grupo de necessidade ser atendido várias vezes e outro ficar desassistido”, frisa a voluntária. Já Teresinha Person, do Rotary Club de Rio Pardo-Inovação, chama a atenção para os impactos psicológicos demonstrados pelas vítimas da tragédia. “Algumas pessoas estão voltando somente agora para as casas e outras nem têm para onde voltar. Estas estão muito vulneráveis e precisarão de apoio profissional.”
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No Bairro Ramiz Galvão, um dos mais atingidos na Cidade Histórica, os trabalhos tiveram o apoio do Rotary Club Satélite, presidido por Luiz Henrique Mello. “Trabalhamos aos sábados e domingos, às vezes até as 21 horas, para tentar encontrar as pessoas em casa”, revela. A partir das conversas com a população, fez-se um levantamento com as principais necessidades. “Descobrimos que alguns ainda nem conseguiram se cadastrar nos programas de ajuda, então elaboramos um relatório e apresentamos à promotora”, relata.
O Grupo Escoteiro Itacolomi já prestava auxílio à Defesa Civil em situações de dificuldade e foi acionado logo nos primeiros dias de maio para ajudar na retirada de pessoas ilhadas. Conforme o presidente Márcio Mota, oito pessoas atuaram na linha de frente. Posteriormente, montaram e distribuíram marmitas e se integraram ao Centro de Referência em Assistência Social (Cras) para cadastrar 149 famílias nos bairros Fortaleza e São Jorge. “Essa força-tarefa está muito bem composta, tem um encaminhamento muito bom e é fundamental para o município após uma catástrofe que nunca tínhamos visto.”
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A Unisc também ingressou para preencher algumas lacunas. Conforme a vice-reitora Andréia Valim, a atuação é multidisciplinar e vai desde empreendedorismo e gestão para facilitar a retomada da atividade econômica até assessoria jurídica por meio do Gabinete de Assistência Judiciária (GAJ). “São pessoas em situação de vulnerabilidade que precisam de assistência e não têm condições de pagar por um advogado.” Educação e saúde são outras frentes abrangidas pela instituição de ensino.
Com chamados variados, urgentes e em diferentes locais do município, o prefeito Rogério Monteiro afirma que o trabalho da Prefeitura e seus órgãos tem sido incansável desde o primeiro dia em que as chuvas causaram estragos em Rio Pardo. Na compreensão dele, a força-tarefa entre os três poderes e as demais instituições é o resultado de uma importante soma de esforços para garantir o melhor atendimento possível aos mais de 14 mil rio-pardenses atingidos diretamente pelas enchentes.
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Passada a primeira fase, que consistiu no fornecimento de abrigo, agasalhos, alimentos e água, bem como na limpeza das residências, a segunda etapa, liderada pela Secretaria de Trabalho, Cidadania e Assistência Social, tem como objetivo viabilizar o retorno das vítimas às moradias. “Diante disso, lidamos com a necessidade de móveis, eletrodomésticos e outros itens básicos para que uma casa se torne um lar”, observa Monteiro. Em paralelo, é preciso realizar os cadastros e encaminhar documentos para solicitar os auxílios dos governos estadual e federal. “A força-tarefa nos ajuda muito e suprir essas demandas só será possível através dessa união.”
Outro benefício é o aluguel social, cuja lei foi modificada recentemente para corresponder à nova realidade pós-enchente. Agora, famílias que estão desabrigadas podem receber até R$ 600,00 de auxílio para custear as despesas com moradia. Os valores foram definidos após pesquisa de preços estipulados no mercado imobiliário local. Conforme a Prefeitura, atualmente seis pessoas estão com os pedidos em processo de análise. Além do contrato, é necessário um laudo técnico para que o pagamento da quantia mensal seja aprovado.
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Moradora da Travessa do Camargo, a diarista Sandra Mara Linhares, 39 anos, perdeu todos os pertences de dentro da residência. Na área, conhecida pela pobreza extrema e também por ser uma das mais atingidas pelas enchentes dos rios Jacuí e Pardo, poucas moradias ficaram de pé. Depois de ser retirada, Sandra e a filha Paloma, de 10 anos, ficaram por um mês em um abrigo. Com a normalização do nível das águas, elas puderam retornar e iniciar a limpeza. “Não temos nada dentro de casa. Estamos nós duas dormindo no chão e está sendo muito difícil”, lamenta.
Ela recebeu um fogão novo por intermédio do Rotary Club e foi cadastrada junto à assistência social, mas ainda aguarda o recebimento de móveis, eletrodomésticos e utensílios básicos. Depois de já ter passado por essa situação tantas vezes, a diarista não tem mais dúvidas: quer morar em outro lugar. “Se conseguirmos uma casa nós vamos nos mudar, não tem mais condições de permanecer lá.” Mesmo com todas essas dificuldades, Paloma frequenta a escola, mas Sandra continua sem trabalhar e sem perspectivas para o futuro.
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