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HISTÓRIA

Uma visita ao Museu da Aviação de Sobradinho e uma ‘viagem’ a bordo do ‘Domingueiro’

Olavo Wilke em visita ao Museu da Aviação de Sobradinho

Na semana passada, a qual marcava o Dia do Aviador (23 de outubro), o Museu da Aviação de Sobradinho, que fica junto à Casa da Cultura Amário João Lazzari, recebeu a visita de um sucessor da história da aviação local. Olavo Alberto Wilke, 73 anos, filho do pioneiro Alfredo Wilke, atualmente residente em Arapongas, no Paraná, esteve acompanhado de Leila Antônio e Roberto Köhler, integrantes da comissão de fundação do espaço dedicado a resgatar e valorizar a trajetória da aviação no município e as pessoas envolvidas. Além de conhecer o Museu, Olavo relatou que o ‘Domingueiro’, avião experimental construído por seu pai, retornou para próximo da família depois de uma longa viagem.

Ele contou que sua paixão pela aviação veio da influência do pai, que foi quem fez para ele seu primeiro aviãozinho para brincar, no qual entrava e pedalava. Depois de construir dois planadores, Alfredo se dedicou ao projeto do avião experimental ‘Domingueiro’, construído com motor de fusca, que foi finalizado por Olavo, em Mato Grosso do Sul, onde este passou a residir.

Roberto, Olavo, Leila, Juli Moraes (diretora de Cultura) e Gabriele (funcionária do Museu Municipal) | Fotos: Nuria Turcato

O filho recorda que, por motivos de saúde, foi necessário pausar seus voos e, para que o ‘Domingueiro’ não ficasse parado, foi vendido, tendo sua pintura modificada. Após alguns anos, o avião foi novamente vendido, desta vez para um comprador do Paraná. Tempo depois, em um determinado pouso emergencial na beira de uma praia, o avião bateu em uma vala na areia e quebrou, sendo recolhido e guardado em um galpão. Um novo proprietário então surgiu na história e o restaurou, mas novamente passou por um incidente que o deixou com uma asa quebrada.

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Olavo lembrou que, quando soube que seria criado o Museu da Aviação em Sobradinho, resolveu procurar o ‘Domingueiro’, buscando informações até descobrir o paradeiro do avião. Depois de conversar com familiares das pessoas que o haviam adquirido, Wilke o reencontrou.

Com o ‘Domingueiro’ mais próximo da família, pretende fechar negócio e reaver o avião histórico, o trazendo posteriormente para o Museu de Sobradinho. Primeiramente ele veio ao município para visitar o espaço. Se fechado o negócio, pretende recuperar o ‘Domingueiro’ e, futuramente, trazê-lo a Sobradinho.

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O ‘Domingueiro’ construído por Alfredo e Olavo

Rememorando o pioneiro Alfredo, em um breve histórico da família

Alfredo Wilke, filho de Augusto Wilke e Bertha Procknow Wilke, nasceu em Dona Francisca, na época distrito de Cachoeira do Sul, em 6 de março de 1922. Serviu no Exército e, em seguida, no ano de 1941, mudou-se para Sobradinho, morando inicialmente com seu irmão mais velho, Herbert Wilke. Trabalhando na oficina mecânica da então empresa Textor & Wilke e incentivado por seu irmão, iniciou um curso de Rádio Técnico, estudando por correspondência nos momentos de folga e à noite. Conseguiu o diploma de rádio técnico pelo Instituto Universal Brasileiro, profissão que exerceu até se aposentar, em 1981.
Em 1949, Alfredo casou-se com Ledy Weber Wilke, e tiveram um filho, Olavo Alberto Wilke, formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), atualmente residente em Arapongas (PR).

Alfredo e Ledy

Na sua profissão de rádio técnico, Alfredo foi sempre um grande curioso por novidades, e assim começou vendendo rádios alimentados por baterias. Para alimentar as baterias vendia junto o cata-vento que as carregava. Tudo isso era levado e montado na casa do comprador. Posteriormente, juntamente com seu irmão Herbert, compraram em São Paulo um kit de televisor e o montaram em casa, fazendo funcionar pegando o sinal da TV Piratini, de Porto Alegre. Era mais um chuvisco do que imagem, mas foi um começo.

Aguçado pela ideia de vender televisores e já com seu sócio na época, Erich Streck, montaram uma repetidora de TV, instalada em uma torre de 12 metros de altura, feita de eucaliptos, no local conhecido como “Morro dos Lazzari”. Depois de muito trabalho, muitas viagens de jipe, até mesmo a noite, e muitas experiências, conseguiram captar o sinal, ainda em preto e branco, da TV Piratini. Olavo recorda que era uma festa na época, onde juntava a vizinhança em sua casa para ver, quando aparecia, alguma imagem.
O tempo passou, conseguiram então que a própria TV se interessasse e montaram então uma torre definitiva, que possibilitou a Sobradinho ter as primeiras TVs (os dois primeiros clientes foram Romalino Bertó e o Dr. Adolpho Sebastiany).

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Mas a paixão do “Seu Alfredo” era mesmo por aviões, coisa que dividia com seu irmão Herbert. Desde pequeno sonhava em voar, de qualquer maneira. Enquanto seu filho Olavo crescia, ele o presenteava com miniaturas de aviões e planadores montados a partir de kits comprados na Casa Aerobrás, em São Paulo.
Quando Olavo tinha sete anos de idade, Alfredo resolveu fazer seu primeiro “avião” movido a pedais de bicicleta para o pequeno entrar dentro e pedalar pela rua (Av. Mundstock, na Baixada) onde moravam. Como a hélice era ligada aos pedais, girava e parecia que era o que movimentava o avião.

O sonho de construir seu próprio planador nunca o abandonou e, em 1978, começou a construir o seu “Mustang”, com 15 metros de asa e 5,5 metros de comprimento, levava somente o piloto, a partir de desenhos em escala tirados de revistas e com orientação do seu filho, já formado engenheiro civil e piloto pelo Aeroclube de Santa Maria. Conforme Olavo, foram cinco anos para ficar pronto, mas foram muitos finais de semana desfrutando em voos sobre a pista do “Campo de Aviação”, na companhia de amigos e familiares, até sofrer um pequeno acidente em que o planador se tornou irrecuperável. Foi o bastante para pensar em um segundo planador, menor que o primeiro, apenas 10 metros de asa: nascia o ‘Tico-Tico’. Mais dois anos de trabalho e pronto, de novo voando no “Campo de Aviação”.

Mas a ideia de construir seu avião nunca abandonou Alfredo. Usando as asas do ‘Tico-Tico’ começou a projetar o seu ‘Domingueiro’, nome sugerido por tratar-se de um lazer para os fins de semana. Seria um avião todo em madeira, aproveitando a experiência com os planadores, e usaria um motor de fusca 1200 cc. Começou assim a trabalhar no seu sonho. “Sempre que o visitava, lá estava ele com os seus rascunhos para me mostrar e trocar ideias. Alguns o chamavam de sonhador, ou até mesmo de adjetivos bem desanimadores, mas não desistiu. Também teve os amigos que o incentivaram, assim ganhou de presente o motor de fusca de um amigo que acreditou no seu trabalho”, conta Olavo.

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Alfredo Wilke e o avião Domingueiro

Mais dois anos de trabalho e estava concluído o protótipo do ‘Domingueiro’. No grande dia do primeiro teste, familiares e amigos se reuniram no “Campo de Aviação”. Piloto de teste – Olavo Wilke: “Lá vamos nós para a primeira decolagem – sucesso”. Faltando alguns ajustes, mas o avião estava voando. Após essa vitória, desmontado o avião para os ajustes necessários, foi guardado em casa. Alfredo Wilke foi acometido de um câncer e veio a falecer em 13 de janeiro de 1987.

O ‘Domingueiro’ foi levado para Fátima do Sul (MS) pelo seu filho Olavo, que o terminou e voou por muito tempo naquelas paragens. Em 1995 sofreu nova remodelagem e posteriormente fez um longo percurso com diversos pilotos e proprietários.

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