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Uma viagem pela Índia, o país das contradições

Diz a História que em 1500 o português Pedro Álvares Cabral foi incumbido de conduzir frota de navios à Ásia, refazendo o caminho então recentemente descoberto por outro navegador, Vasco da Gama, que contornara a África para chegar à Índia. No meio do caminho, a comitiva de Cabral desviou-se da rota (com ou sem intenção, vá-se saber) e chegou a uma nova terra. O resto do enredo sabemos bem. 

Cabral quis acreditar que teria chegado ao destino final. Não por acaso, os nativos desse novo território ainda hoje são chamados de… índios. Depois, Cabral de fato seguiu viagem até Calicute. Por lá, os portugueses permaneceram, na chamada Índia Portuguesa, até bem além da própria independência do  país em relação à Inglaterra, que ocorreu em 1947. Só nos anos 1970 o governo português devolveu a área em definitivo à Índia.

Hoje, enquanto seguimos denominando nossos nativos de índios, numa espécie de licença poética, vemos a Índia, o objetivo da viagem pioneira na qual os portugueses chegaram ao litoral do Brasil, impor-se no mundo. Os indianos propriamente ditos agora ocupam o sexto lugar no ranking da economia mundial, e algumas de suas organizações estão amplamente globalizadas, com atuação saliente no Brasil (que, aliás, é o nono na economia e chegou a almejar a quinta posição).

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A ASCENSÃO

Se na economia a Índia aparece para o mundo, em questões sociais o país ainda é um flagrante enigma. Caracterizado por ser o segundo mais populoso na atualidade, com cerca de 1,252 bilhão de pessoas (pelos dados oficiais divulgados), deve ultrapassar a China, líder nesse ranking, dentro de poucos anos. 

A Índia é uma das civilizações mais antigas no planeta e concentra igualmente uma ampla mescla de etnias, religiões e culturas, com hábitos e costumes díspares e quase inconciliáveis, com suas castas. Por séculos, a região foi sendo dominada por diferentes povos, dos antigos vedas aos mongóis e aos muçulmanos, além dos marajás, que detinham o controle e o poder sobre áreas específicas. 

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Por volta de 1850, os ingleses acabaram ocupando o território, que ficou conhecido como Raj Britânico (ou “reino”). Deixaram a região em 1947, após Gandhi ter liderado o movimento de desobediência civil que resultou na independência. Com esta, a região se partiu, ficando a Índia com os hinduístas e o Paquistão como nação muçulmana: Paquistão Ocidental e Paquistão Oriental (na região de Bengala) – e este mais tarde se emancipou e virou Bangladesh, em 1971.

De certo modo, uma vez que os poderes que agiam no atual território indiano nunca convergiram e só guerreavam entre si, foi a colonização inglesa que acabou por dar mais unidade ao todo. E foram também os ingleses que, acima de costumes, crenças e religiões, buscaram fixar uma história ou recuperar textos clássicos. Na infraestrutura, legaram a esse amplo território uma das mais vastas malhas ferroviárias do planeta, ainda hoje plenamente em uso, e sem a qual as comunicações e os deslocamentos teriam sido muito difíceis.

Um país que atrai a atenção

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Por estradas, por rios ou pelo ar, hoje turistas são atraídos pelo universo místico da Índia, na qual convivem cerca de 3 mil religiões. Os visitantes vão do sopé do Himalaia, no Norte, à região de Goa, no litoral Sul, e buscam em especial os templos. Em todas as áreas, mas em particular nas megalópoles, como Nova Délhi e Bombaim, defrontam-se com o caos nas ruas, o trânsito caótico, a poluição indescritível e uma população indigente imensa. 

Cerca de 900 milhões de indianos vivem com renda mensal de US$ 6,00 (algo como R$ 20,00). Com tal poder aquisitivo, pode-se ter noção das suas limitações. Para estes, as necessidades básicas ainda são ideal inalcançável, mas a aposta em áreas como tecnologia da informação e eletrônica permite ao País ostentar excelente desempenho na economia. 

Hoje, na medida em que parcelas da população ampliam suas possibilidades de compra, a economia cresce a passos bem mais largos do que a transferência dos benefícios ao todo da nação. Uma melhora real nas condições de vida, de higiene e de cuidados ambientais tende a ocorrer em ritmo muito, muito lento. 

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Quem circula por cidades como Agra, onde está o Taj Mahal, vai se defrontar, no entorno, com miséria extrema. O mausoléu foi erguido entre 1632 e 1653 pelo imperador Shah Jahan para homenagear sua segunda esposa, Mumtaz Mahal. É considerado a maior prova de amor de todos os tempos. 

Na Índia, de fato, há muito para ver, mas a poluição e o caos urbano acabam por inibir a movimentação. No início de novembro, por nove dias, em cobertura à 5ª Conferência das Partes (COP5) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, realizada em Nova Délhi, pude conferir de perto a paisagem (altamente poluída, é verdade) da área metropolitana e também a Agra do Taj Mahal. 

Por mais respeito que se deve ter (e que tenho) por culturas diversas, aventurar-se no ritmo de vida dos indianos é, em metáfora, um “programa de índio” – que, desconfio, deixaria até os nativos que os portugueses encontraram no Brasil de cabelos em pé.

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