Na minha coluna de 8 de julho, destaquei alguns autores gaúchos que contam em suas obras com personagens descendentes de imigrantes alemães. É claro que existem mais e nem todos cabem neste espaço. Mas, hoje, por questão de proximidade e de justiça, quero referir uma obra – A valsa da medusa – da santa-cruzense Valesca de Assis. Lançada em 1989, pela Editora Movimento, acaba de receber nova edição, a quarta, agora pela Bestiário.

Ambientada integralmente no interior de Santa Cruz do Sul, mais precisamente em Rio Pardinho, a obra abriga ficção e realidade, desembocando numa leitura fluente, agradável e surpreendente. Reli o romance, que é breve, e não contive a emoção ao me deparar com o comovente desfecho de uma história de amor intenso mas improvável, o que já se antecipa na epígrafe da narrativa: “Senhores, gostaríeis de ouvir uma história de amor e de morte?”, que Valesca traz do clássico Tristão e Isolda.

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A protagonista é a imigrante Pauline Eick, no entanto um ex-soldado – Tristan Waldvogel – se alça ao mesmo plano, uma vez que assume destacado papel na comunidade em que se insere. Em 1850, o governo brasileiro, na iminência de uma guerra contra Oribe e Rosas e necessitando engrossar a tropa, importou em torno de 1800 homens, mercenários alemães.

A guerra, em 1851, durou pouco e os soldados ficaram ante três opções: voltar para a Europa, engajar-se ou aceitar terras para aqui permanecer. Em torno de 450 teriam optado por ficar no Brasil. No grupo desses últimos, estava Tristan Waldvogel, que escolheu a Colônia de Santa Cruz para se fixar. Ele tinha em torno de 30 anos, solteiro e, mesmo sendo um brummer, tinha bom nível cultural, apreciava música, teatro, livros.

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Valesca registra que “para os brasileiros, brummer não passa de um mercenário, um comerciante de sua própria coragem”. No mesmo barco que o trouxe a Rio Pardo, encontrou um médico, doutor Robert Avé-Lallemant, que, em missão oficial, vinha do Rio de Janeiro para uma inspeção na colônia recém-criada. Lallemant solicitou que Tristan comunicasse sua vinda ao diretor da colônia, João Martinho Buff.

Chegando ao destino, contou com o auxílio do colono Jacob Eick na escolha de um lugar para construir sua morada. Teria que ser uma área alta, a fim de evitar possível enchente do rio Pardinho, que, sem demora, veio a acontecer, causando imensa destruição. Como tinha boa cultura, Tristan foi escolhido para ser o professor da comunidade. Trabalhava em escola improvisada, quase sem remuneração, porém tornou-se referência e elemento basilar para o desenvolvimento da localidade.

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Entre os brasileiros que já moravam no local, está uma vidente, meio guru, Cláudia Santo Roque, amiga íntima de Pauline. Prediz que esta se apaixonará por um homem lindo, culto que chegará a ela por causa de uma mordida de cobra. Nessa condição, quem chegou foi Tristan Waldvogel, instaurando-se uma trama de amor proibida de acontecer.

Como no paraíso, Pauline aqui é a maçã proibida de ser tocada. Ao lado dessa paixão interdita, Valesca traz à tona as grandes dificuldades enfrentadas pelos colonos. Caíram no nada e tudo estava por ser construído: escola, igreja, estradas, pontes. Era urgente aprender a língua, absorver costumes, resolver questões de comércio, de saúde, enfim, há indignação pelas promessas oficiais não cumpridas. Ler A valsa da medusa é também uma bela forma de comemorar o bicentenário.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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