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Uma promessa para Gilda

Há um tempo recebi um telefonema de Gilda. Uma senhora muito simpática que se encontrou em um texto que escrevi para esta coluna. Gilda queria dizer que tinha gostado muito do que leu e havia lembrado de sua infância. Descobrimos em poucos minutos de ligação que temos em comum, além de um certo modo de enxergar a vida, as aventuras no teatro e a paixão pela cozinha. Então combinamos, Gilda e eu, que nos encontraríamos para um café. 

Gilda me deu seu endereço e número de telefone. Anotei tudo em um dos meus blocos confusos, cheio de rascunhos de pautas. Desliguei o telefone imaginando como seria encontrá-la. Ela me contaria sobre suas peripécias de décadas atrás e eu divagaria sobre meus sonhos. Falaríamos muito. Quem sabe ela até me ensinasse alguma receita. Gosto muito da cozinha. Cada vez mais. Seria um belo encontro. 

Mas eu não fui. Não telefonei para Gilda e não compareci ao encontro. Não por motivos poéticos como de Fernando Pessoa, que acreditava que o encontro do escritor com o leitor poderia revelar a quem o lia que ele não era exatamente aquilo que escrevia. “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”. Por isso, para ele, era melhor não comparecer ao encontro. Tão belo. 

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Eu, no entanto, não fui por motivos banais. Porque deixei me engolir pelos dias. Por pura falta minha. Então hoje, perto de um novo ano, vim prometer algo à Gilda. Mas antes disso, preciso me desculpar. Pela promessa não cumprida. É por isso que o nome dela está no alto desta coluna. Como um singelo pedido de desculpas. Assim como já estiveram Bebela e Clarice. Talvez por minha veia feminista. Ou porque foram elas, para mim, pessoas especiais. 

Decidi também que não vou prometer nada para 2017. Afinal ainda temos seis dias de 2016. E quanto podemos fazer nesse tempo? 144 horas. 8640 minutos. É preciso bem menos para telefonar. Para estar presente. Para fazer com que as pessoas se lembrem que são especiais. Para bons cafés e divagações, que nos fazem encontrar algum sentido neste caos. Para agradecer. Perdoar. Abraçar. É preciso bem menos. 

Sempre gostei desta época do ano. Talvez por culpa da minha mãe, que sabia tornar tudo especial. Alimentava nossos sonhos com árvores de Natal feitas de laranjeira e enfeites de papel. Nos fazia acreditar que havia algo mágico ali. E por certo havia. A magia de uma mãe. Que me fez acreditar nos outros. E sonhar com um mundo melhor. E lutar por ele. Todos os dias. 

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Obrigada, mãe. Por tudo. Por vezes penso que as pessoas nem sempre entendem o quanto podem impactar na vida dos outros. Com gestos tão simples. Obrigada Gilda, pelo telefonema. E, antes que o tempo e o espaço terminem, prometo, desta vez, eu vou comparecer ao encontro. 

TI

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