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Uma paixão de décadas

Minha paixão pelo jornal começa ainda piá. Morava na colônia. Todos os domingos, depois do culto na Igreja Evangélica Luterana São Paulo, de Arroio do Meio, ia com meu pai à estação rodoviária. Lá, muitas pessoas aguardavam o ônibus do Expresso Azul vindo de Porto Alegre trazendo uma carga preciosa: exemplares dominicais do Correio do Povo, envoltos em fardos com um atilho de arame.

Assim que o veículo estacionava, um funcionário da rodoviária saltava com um alicate para liberar os exemplares. Todos ali eram assinantes do chamado Correião, a versão original do jornal da então Companhia Caldas Júnior, tamanho standard, bem maior que o tablete atual.

O Correio Infantil, suplemento destinado à gurizada, era separado pelo meu pai e entregue a mim num ritual dominical. O caderno trazia muitos passatempos e um texto seguido de perguntas de interpretação. As respostas, em forma de concurso, eram enviadas por carta e o resultado era publicado na edição seguinte.

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De lá para cá, meu gosto pelo jornal só aumentou. A proliferação de plataformas e ferramentas de acesso a conteúdos se multiplicou. O moderno de hoje em dia é obsoleto. Por isso, minha fidelidade ao jornal “em papel” segue intacta.

Tenho assinatura dos três jornais diários de Porto Alegre e leio vários outros do interior pela internet. Recebo pelos Correios outros tantos, mas há três meses não passa um único carteiro aqui em casa.

O ritual de folhear o jornal com a caneta numa mão e cuia de chimarrão na outra é um hábito arraigado mantido até mesmo quando vou à praia. Sentar à beira-mar e degustar um amargo com notícias é sagrado. Nestes tempos de crise – do vírus da Covid-19 e da falta de credibilidade de parte da imprensa –, continuo devoto do “jornal em papel”.

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Quando ia às faculdades de Comunicação falar com estudantes, duas perguntas eram inevitáveis: o jornal vai acabar? O que achas do diploma para jornalista? À primeira, digo que as empresas terão que investir em análise aprofundada e/ou na projeção dos fatos. O jornal de hoje são as notícias de ontem, superadas.

Quanto ao diploma, não tenho opinião definitiva. Conheço vários profissionais que jamais foram à faculdade, mas são exemplo de profissionalismo, caráter e ética. Mas também conheço vários colegas pós-graduados que envergonham a nossa profissão.

Portanto, como sempre, generalizar é injusto, cruel e desrespeitoso. Lamento, todos os dias, o uso covarde da notícia por parte de alguns veículos de imprensa que abdicaram da verdade para apostar em interesses financeiros e na política partidária da cobertura. Uma vergonha!

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