“Todos querem voltar à natureza, mas ninguém quer ir a pé.”
“O ser humano pode ser a única forma de o universo contemplar a si mesmo.”
Quisera eu que alguma dessas frases – ou quem sabe as duas… – fosse minha, mas isso seria impossível. E embora pareçam falar de temas discrepantes, considero que estão incrivelmente ligadas.
Por anos tentei identificar a autoria da primeira, que li em um artigo há muito tempo. Sabia apenas que era de uma ambientalista alemã, mas não havia jeito de lembrar quem. Pois agora, graças à internet, descubro de onde veio: Karin Petra Kelly, deputada do Partido Verde alemão falecida em 1992. Ressurgiu na minha cabeça agora, quando o Rio Grande do Sul vive dura estiagem.
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Não é correto usar esse momento, em que tantos sofrem os efeitos da seca, para ponderar sobre responsabilidades de forma mais direta. É fato, porém, que esquecemos o quanto fazemos parte da natureza, o quanto ela não é algo distante – e “caímos na real” apenas quando somos vítimas de efeitos climáticos severos.
A deputada alemã, em um contexto diferente, quis destacar que o discurso ambientalista é relativamente fácil – afinal, quem não quer a preservação da natureza? –, mas não aceitamos abrir mão do que nos traz conforto. E muito do que nos traz conforto é prejudicial ao planeta. Exaltamos o quanto progredimos ao longo dos séculos como espécie, a ponto de nos tornarmos globais. Por trás disso, a ideia de que temos o direito de usar os recursos naturais para nosso bem-estar, que eles estariam aí justamente para isso, talvez um “prêmio” por nossa capacidade de explorá-los. O que se demonstrou uma tragédia ao longo do tempo.
Em meio ao calor que passa fácil dos 35 graus, não é incomum ouvirmos reclamações sobre falta de água. Quando olho para a grande quantidade de casas e prédios em uma cidade como Santa Cruz, fico imaginando quantos desses locais dispõem, por exemplo, de reservatórios para coletar água da chuva. Como irrigam suas plantas, seus gramados? Como enchem suas piscinas? Certamente do jeito mais fácil. De novo, queremos voltar à natureza, mas não a pé.
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O que liga a primeira frase com a segunda, usada pelo físico inglês Stephen Hawking – que faleceu em 2018 – em um documentário. Diante da grande probabilidade de que só exista vida na Terra, talvez os humanos, por serem “inteligentes”, sejam a única visão que o universo tem de si mesmo. Ou seja, sem nós, as forças químicas e físicas que compõem tudo o que existe seriam apenas isso, forças sem algo que pudesse refletir sobre elas, analisá-las, tentar entendê-las.
Estarmos nessa condição, e também na de única espécie com potencial para destruir o planeta e toda a vida que há nele, seria uma grande ironia de alguém?
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