Cartazes em punho. Gritos de guerra entoados com emoção. No fim da tarde dessa quarta-feira, 27, as principais ruas do Centro de Santa Cruz foram palco para um ato histórico. Enquanto mais um dia se aproximava do fim, cerca de mil pessoas protestaram. Cansados, desvalorizados, cheios de revolta e indignação, os professores ganharam o amparo da comunidade. Pessoas que também temem pelo futuro da educação e clamam por uma reviravolta positiva.
Pelo trajeto, da Escola Ernesto Alves até a Praça da Bandeira, o grupo relembrou a assembleia, também histórica, realizada na terça-feira em Porto Alegre. Lá, na Praça da Matriz, cerca de 20 mil pessoas participaram da mobilização contra o pacote para o funcionalismo, apresentado pelo governador Eduardo Leite. “Foi ele quem começou a greve, não fomos nós”, disse o professor de Língua Portuguesa Felipe Kopp, ao lado dos colegas de profissão. “Essa greve não é só pelo salário atrasado e defasado. É pelo futuro da educação e de todos.” E a mobilização continua nesta quinta-feira, 28, com uma caminhada luminosa a partir das 18 horas, na passarela do Arroio Grande, e às 19h15, do Colégio Luiz Dourado à Escola Santa Cruz.
Um futuro incerto
Apresentado pelo governador Eduardo Leite no fim da primeira quinzena de novembro, o pacote do funcionalismo também desagrada a servidores das áreas da Saúde e da Segurança. Diante das sugestões de mudanças propostas, o magistério declarou estado de greve no dia 18. Embora o governo aponte para uma redução na adesão ao movimento, o Cpers/Sindicato acredita que mais professores têm decidido entrar na guerra – como os próprios sindicalistas referem-se ao momento.
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Segundo o secretário-geral do 18º Núcleo do Cpers, Elbe Marques Belardinelli, agora os professores estão focados em defender a educação pública e derrubar o pacote apresentado. Planos de recuperação de aulas ainda não estão na pauta. “Se tivermos um pouco mais de força e de união, poderemos combater o governo”, acredita.
Para ele, se as mudanças forem aprovadas na Assembleia Legislativa, no mês de dezembro, será o fim da educação pública gaúcha. “Terminando com nossos direitos e com o plano de carreira, quem é que vai querer ser professor e se especializar? A luta é tão grande que até gente que nunca fez greve está fazendo”, ressalta Elbe.
Em nota, a presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, desabafou. Ela foi uma das 13 pessoas feridas na assembleia de terça-feira, em razão de um confronto com a Brigada Militar. “Sobrevivemos a cinco anos de massacre. Estamos há 47 meses com os salários parcelados e atrasados, sem dinheiro para ir trabalhar, acumulando empréstimos e escolhendo entre comer e pagar as contas.”
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Ainda segundo ela, a greve é o último recurso de qualquer categoria, única alternativa ao esgotamento da negociação. “É um grito de socorro para salvar a escola pública e os sonhos de milhões de gaúchos que dependem de uma educação gratuita e de qualidade. Resistimos para não deixar de existir.”
Dia de recomendações
Durante a tarde, enquanto manifestantes preparavam-se para a manifestação no Centro, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) assessorava as equipes diretivas sobre os trâmites em relação à greve. Conforme o coordenador, Luiz Ricardo Pinho de Moura, pelos dados levantados ao longo da quarta-feira, a equipe notou que algumas escolas totalmente paradas passaram à condição de paralisação parcial.
A coordenadoria também encaminhou um memorando a todas as escolas sobre o corte do ponto para os grevistas, que começou a ser aplicado na última segunda-feira. A medida foi anunciada pelo governador Eduardo Leite e publicada no Diário Oficial. Além disso, a CRE reforçou, junto às direções, que os docentes não podem ser impedidos de trabalhar no período de greve, caso queiram. “O diretor deve, dentro das suas atribuições, manter a escola aberta e de livre acesso”, frisou Moura.
Ainda conforme ele, os estudantes também não podem determinar ou não o andamento das aulas. “Ele não tem o direito de fazer greve. Se houver um estudante em sala, haverá aula.” Ao mesmo tempo, as escolas devem informar a comunidade sobre o funcionamento das atividades. Quanto ao calendário de encerramento do ano, as instituições de ensino precisam apresentar um plano de recuperação ao conselho escolar assim que as aulas forem retomadas.
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O cenário
Na região de abrangência da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE), até quarta à tarde 27 escolas continuavam totalmente fechadas e 48 mantinham atendimento parcial. Em atendimento normal havia 23. Já em Santa Cruz do Sul, 11 instituições haviam aderido à greve em sua totalidade e sete estavam funcionando de maneira parcial.
Questionada sobre o cenário para os próximos dias, a Secretaria Estadual da Educação informou que os dados mostram a diminuição da greve e da adesão total das escolas no território gaúcho. “Tínhamos 526, agora temos em torno de 490. As escolas com paralisação parcial são dados muito relativos, pois em 60% delas o pessoal está trabalhando. E esses dados se mantêm estáveis”, disse em nota da assessoria da comunicação.
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