Poucos sabem, mas uma das gigantes do transporte aéreo no Brasil foi projetada e tirada do papel em menos de meio ano. Com uma trajetória singular na aviação mundial – foi criada em seis meses, triplicou de tamanho nos dois primeiros anos e se consolidou como uma das líderes do mercado em pouquíssimo tempo –, a Gol apostou forte, e desde o princípio, na inovação.
A trajetória da empresa foi contada nessa terça-feira, 14, na reunião-almoço Tá na Hora, da ACI de Santa Cruz, por Tarcísio Gargioni, que é vice-presidente de Marketing e Serviços e autor do livro 26 semanas para voar. Inspirada em modelos de companhias low cost estrangeiras, a Gol foi criada em janeiro de 2001 com a premissa de oferecer passagens aéreas pelo menor preço possível.
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Diante da necessidade de conceber uma estrutura enxuta para que o negócio fosse sustentável, o projeto levou em conta uma série de complexidades do mercado. Estima-se que 60% do custo de uma companhia aérea esteja fora do controle dos gestores, por ser um setor altamente suscetível ao comportamento do câmbio e às oscilações de preços de insumos como combustível. Também é muito sensível a mudanças de cenários, como crises econômicas e conflitos – vide o que aconteceu durante a pandemia de coronavírus. Além disso, fatores como a forte sazonalidade e desequilíbrio de origem e destino também impõem desafios.
Por outro lado, os fundadores também enxergaram oportunidades interessantes. À época, estudos apontavam que apenas 5 milhões de pessoas no País usavam o transporte aéreo, enquanto outras 25 milhões gostariam de utilizar, mas eram impedidas pelas tarifas. A então recente desregulamentação do mercado e a ausência de modernização em outras operadoras que estavam em atividade, como Varig, Vasp e Transbrasil, igualmente estimulavam o investimento.
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Um dos maiores desafios, de acordo com Gargioni, foi adaptar à realidade brasileira o modelo de low cost como a norte-americana Southwest, a irlandesa Ryanair e a britânica Easyjet. Entre os obstáculos estavam problemas de infraestrutura, como falta de aeroportos secundários e restrições bem maiores quanto a, por exemplo, número de horas de voo diárias por pilotos. A solução, segundo ele, foi buscar outras formas de baratear a operação. “Não tínhamos como mexer na infraestrutura do Brasil e nem no comportamento do mercado. Então tivemos que encontrar caminhos e apostamos na criatividade das pessoas”, relatou.
A meta foi atingida em menos tempo do que o esperado: o projeto previa ter dez aeronaves e 8% do mercado em um ano, mas isso foi obtido em 11 meses.
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Para conseguir oferecer passagens por preços mais acessíveis, a Gol começou a operar com um custo em torno de 25% inferior ao de outras empresas. Para isso, apostou na retirada do serviço de bordo e em uma estrutura simples (com poucos dirigentes), aviões econômicos (com mais assentos), tecnologia (com a eliminação do bilhete físico) e em otimização de ativos.
O tempo de solo dos aviões, por exemplo, foi reduzido para 25 minutos – a média das demais companhias era de 45 minutos. De acordo com Tarcísio Gargioni, a empresa chegou a registrar um recorde em certa ocasião, quando, após um atraso em uma decolagem em Porto Alegre, permaneceu somente nove minutos em solo em Florianópolis, sem impacto sobre as demais escalas.
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Dois aspectos, segundo ele, foram determinantes. Primeiro, a formação de um grupo com, nas palavras de Gargioni, “DNA de mudança”. Depois, investimento pesado em um “marketing ousado”. A retirada do serviço de bordo, por exemplo, exigiu um trabalho forte já que era uma cultura enraizada entre os usuários.
Em 2003, apenas dois anos após o início da operação, a Gol já detinha um quarto do mercado e foi eleita pela revista Exame a melhor companhia do Brasil. No ano seguinte houve a abertura do capital, o que deu fôlego para a continuidade do crescimento.
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Conforme Targioni, o principal feito da Gol foi a popularização do transporte aéreo. “Não fosse a Gol, não teríamos passado de 20 milhões de passageiros por ano no Brasil para mais de 100 milhões.” Para ele, a agilidade e abertura a inovações, demonstradas desde a concepção, foram determinantes para o êxito. “É fundamental que você ande rápido porque o mundo está mudando muito rápido”, disse.
Outro painelista do Tá na Hora foi o consultor Telmo Schoeler, presidente da Orchestra Soluções de Gestão, que falou sobre a importância de inovação nas empresas. Conforme ele, embora muitas organizações ainda resistam, a mudança é um imperativo no mundo moderno e vai muito além de modificar a operação: envolve, sim, uma revisão de propósitos e valores, deixando de lado o que se convencionou chamar de “capitalismo selvagem” (em que a busca pelo lucro está acima de tudo) e adotando o chamado “capitalismo consciente”, que leva em conta a valorização dos colaboradores e a sustentabilidade.
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“O mundo de hoje, por ser ágil, é um mundo de conexão, de parcerias. Isso não tem nada a ver com socialismo ou comunismo. É sobre como todo mundo ganha dinheiro junto. Essa é a lógica: para eu ser perene, eu quero que meus fornecedores sejam perenes”, disse. O sucesso das empresas, conforme ele, passa por fatores como agilidade, portfólio enxuto e lideranças especiais.
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