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Uma fogueira no meio do frio

Morreu o escritor Cormac McCarthy, aos 89 anos, na terça-feira. O nome desse norte-americano talvez não lhe diga muita coisa, então lembremos de Onde os Fracos Não Têm Vez. O filme dos irmãos Coen, vencedor do Oscar em 2008, é adaptação de um romance de McCarthy.

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Muitos conhecem a história. Um caçador descobre uma mala cheia de dinheiro do narcotráfico em uma área deserta no Texas, nos anos 80. Logo, um matador profissional é enviado no seu encalço e deixa um rastro de corpos. O assassino Anton Chigurh (no filme, Javier Bardem) é fatal não só no sentido de “mortífero”, mas de pura fatalidade: ele é inevitável, inexorável, nada pode detê-lo. Chigurh é o destino.

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Não pode detê-lo o perplexo xerife Ed Bell (Tommy Lee Jones), quase aposentado, que se esforça para entender a violência gratuita de uma nova época. “Os crimes que vemos hoje são difíceis de compreender. Não é que eu tenha medo disso. Mas não estou disposto a me arriscar à toa, sair por aí e encontrar uma coisa que não compreendo”, diz ele. Perplexo ele continuará.

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A literatura de McCarthy pode parecer pessimista, mas há espaços de esperança em suas histórias. No Country For Old Men termina com a narrativa de um sonho do xerife Bell. Ele anda a cavalo por uma trilha nas montanhas, em meio à neve. Então seu pai passa por ele, também a galope, levando uma chama no interior de um chifre, “como se fazia antigamente”. “Eu sabia que ele iria em frente, e que pretendia fazer uma fogueira no meio do frio e da escuridão. E sabia que, quando eu chegasse, ele estaria lá.”

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Claro que, depois disso, Bell acordou. Mas a esperança estava lá. Já em A Estrada, outro filme baseado em livro de McCarthy (ganhador do Prêmio Pulitzer em 2007), Viggo Mortensen (o Aragorn da trilogia O Senhor dos Anéis) tenta sobreviver ao lado do filho em um mundo pós-apocalíptico, onde a natureza foi completamente devastada. Não há zumbis à la Walking Dead, mas bandos de criminosos que agem sem limites, pois não há lei.

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No fim de tudo, o garoto receberá a missão de “carregar o fogo”, expressão cara para Cormac McCarthy. Levar adiante o que o ser humano tem de melhor: alguém precisa acender a fogueira na escuridão. Um autor que merece ser conhecido.

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