De início, aviso que ficarei devendo a exata referência. Mas o conteúdo é interessante. Há alguns anos li um artigo cujo título era – reforço, com algum grau de imprecisão – algo como “O que vale mais: árvore, boi ou criança?”. O texto, escrito em um outro momento do país, instigava o leitor a pensar qual desses três personagens era mais importante para a sociedade, concluindo, pelo que lembro, que o mais desconsiderado era a criança. Destacava que ao gado, por seu valor econômico, nunca faltava comida e vacinas nas épocas certas, um cuidado que muitas vezes não era oferecido a grande parte da infância brasileira.
Um raciocínio parecido era traçado em relação às árvores, pois naquele momento histórico havia forte debate sobre preservação ambiental. Parecia que recém havíamos descoberto os danos que vínhamos causando no planeta há décadas… Também as árvores recebiam grande atenção, igualmente porque passamos a dar a elas a grande importância que, claro, sabemos que elas têm. O tom provocador do artigo era óbvio e as ideias gerais dele me acompanham. E, vez por outra, reaparecem.
LEIA TAMBÉM: Recortes de humanidade III
Publicidade
Atualmente, a Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul analisa um projeto de lei que cria o Programa de Redução Gradativa de Veículos de Tração Animal, de autoria da vereadora Bruna Molz (Republicanos). Ele determina a proibição da circulação desses veículos primeiro na área central de Santa Cruz e depois em toda a área urbana. O assunto é controverso, provocou acalorados debates em sessões do Legislativo. Quem se posiciona contra esse tipo de legislação lembra dos prejuízos que pode causar a quem utiliza a tração animal para o trabalho.
Também aqui existe o raciocínio segundo o qual a importância deste ou daquele tema se mede a partir da sua relevância econômica, e nada mais. Comparativamente, qual seria o peso econômico de animais que são submetidos a maus-tratos na rotina de puxar carroças? Nenhum. Nem se considera que a própria rotina de puxar carroças já é maus-tratos. Não achamos discutível que um boi, nesse contexto, receba certos cuidados, menos por ser animal e mais pelo que representa em dinheiro. Nem que exista, dentro da atividade agropecuária, um setor relevante em que cavalos são muito bem tratados porque têm valor econômico, chegando alguns exemplares a valores bem elevados.
LEIA TAMBÉM: Onde está o Inter?
Publicidade
Tomara que algum senso de humanidade, acima do raciocínio puramente econômico, se apodere da Câmara de Santa Cruz e leve a Casa a mudar essa situação relacionada ao uso de tração animal. E como há legisladores ligados ao tradicionalismo, que lembrem que o próprio gaúcho deve muito a esse animal. Nas saídas dos peões para recuperar cavalos que se dispersavam foram criados muitos hábitos ligados à cultura do Estado, como fazer churrasco no fogo de chão. O gaúcho, veja só, não deixa de ser uma invenção do cavalo, o que deveria inibir que qualquer um deles fosse maltratado em nosso meio.
Que essa dívida de gratidão não se restrinja à atenção dada a animais de raça. Que seja estendida aos exemplares “menos nobres” que puxam carroças.
LEIA MAIS COLUNAS DO FORA DE PAUTA
Publicidade
Chegou a newsletter do Gaz! 🤩 Tudo que você precisa saber direto no seu e-mail. Conteúdo exclusivo e confiável sobre Santa Cruz e região. É gratuito. Inscreva-se agora no link » cutt.ly/newsletter-do-Gaz 💙
This website uses cookies.