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Uma conversa com o ativista Daniel Munduruku: “Toda conquista é sempre uma luta”

O escritor Daniel Munduruku é uma das principais referências em literatura indígena, com cerca de 60 livros

O escritor Daniel Munduruku é uma das principais referências em literatura indígena, com cerca de 60 livros

Na sexta-feira, 9, foi celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1995, com o propósito de dar visibilidade aos interesses das populações originárias. E se tem alguém que, em realidade de Brasil, se dedica ao esforço de salientar, enaltecer e defender a importância da cultura dos povos que já viviam no território brasileiro quando da chegada dos europeus, é o escritor, ator, ativista e líder Daniel Munduruku.

Aos 60 anos, completados em 28 de fevereiro, nascido em Belém, capital do Pará, evidencia no sobrenome a etnia da qual descende. De guardião das tradições do povo Munduruku ele se tornou um defensor de toda a cultura indígena em sentido amplo. E o fez lançando mão de seus dons, em especial a habilidade de compor narrativas orais e escritas. Nestas, seu virtuosismo pode ser conferido em mais de 60 livros que já lançou, alguns dos quais com ampla circulação e vendagem.

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Mais do que artista, Daniel é um pensador das questões indígenas. Formado em Filosofia, História e Psicologia, atuou no programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP). É convidado para eventos e feiras do livro no País e no exterior, nos quais realiza palestras e autografa suas obras.

Foi o que aconteceu em julho de 2023 em Venâncio Aires, quando esteve na cidade para conversar com professores em atividade promovida pela Secretaria Municipal de Educação, ocasião em que conversou com a Gazeta. A partir do contato ali estabelecido, mais recentemente Munduruku concedeu nova entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, conversa programada para inaugurar nova série, dedicada à Literatura dos Povos Originários. Sempre gentil e atencioso, ele, que teve ampla projeção no Brasil inteiro no papel do pajé Jurecê, na novela Terra e Paixão, da TV Globo, refletiu sobre as condições hoje existentes para os povos indígenas.

ENTREVISTA

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Daniel Munduruku
Escritor e ator

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Além da carreira artística, como ator e escritor, o senhor também está na política. Como é, nos dias atuais, a receptividade aos temas que dizem respeito aos povos indígenas nas instituições representativas, como a Câmara dos Deputados? Houve evolução nesse sentido?

A temática indígena nunca teve visibilidade na esfera política institucional. Toda conquista é sempre uma luta travada no seio da sociedade brasileira. Historicamente, nossas populações nunca tiveram representação que pudesse criar respostas positivas e definitivas na direção dos direitos e do modo de vida indígenas.

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Isso começa a acontecer muito recentemente por conta da entrada de sujeitos indígenas na esfera da política partidária. Embora isso esteja trazendo algum avanço, ainda assim tem sido de forma muito morosa e sem a força necessária para se fazer alguma transformação real. Vale dizer que a temática indígena continua sendo um nó na cabeça reacionária do Congresso Nacional, que não consegue enxergar para além dos interesses corporativistas que ele defende.

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O senhor pretende persistir na carreira política? Que propósitos movem o senhor nesse sentido?

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Em que medida o papel como pajé Jurecê, na novela Terra e Paixão, contribuiu para que o senhor pudesse dar mais visibilidade à cultura de seu povo, e como tem sido a repercussão em suas demais atividades culturais?

Pessoalmente, houve uma visibilidade enorme. Mas não posso dizer que isso alterou qualquer sentimento real na compreensão que as pessoas têm dos povos indígenas. Como nunca me iludi com esse relativo sucesso, não creio que isso tenha repercutido de forma orgânica na sociedade nacional.

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Há algum novo projeto em vista na televisão aberta ou mesmo em outra iniciativa de alcance nacional?

Tenho sido convidado para vários projetos cinematográficos. Tanto para leitura de roteiros ou ajuda na confecção de roteiros, quanto convites para atuar pontualmente em alguma produção. Neste momento, estou mais focado nas eleições deste ano.

O senhor se candidatara em vaga a cadeira na Academia Brasileira de Letras, ao lado, inclusive, de Ailton Krenak, que acabou sendo o eleito. Pretende persistir nessa candidatura já nas próximas ocasiões? O que representa essa eleição de Krenak, para os povos indígenas?

Para os povos indígenas, certamente foi muito positiva a eleição do Krenak. Creio que ele irá fazer um bom trabalho lá dentro, uma vez que é um bom articulador político. De minha parte, a academia continua sendo um sonho de que não pretendo desistir. Apenas darei um tempo para que as coisas se acomodem. Quando sentir que pode surgir uma boa oportunidade, voltarei à carga, e espero contar com o apoio, também, do Krenak.

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Tem contato regular com Krenak? Vocês são próximos ou conversam seguido? Além dele, como é a relação do senhor com outros expoentes da literatura produzida por indígenas?

Eu sou o “inventor” da literatura chamada indígena. Todos os escritores que foram surgindo o fizeram a partir de minha atuação e empenho. Não digo isso por vaidade, mas por entender que é assim que a sociedade me reconhece. Conheço todos os escritores e as escritoras que hoje estão em atuação no mercado editorial. Por isso também não me considero um oportunista ou coisa parecida. Na medida do possível, continuo articulando para que a literatura indígena seja conhecida e reconhecida em sua qualidade e protagonismo. Quando preciso falar com eles, tenho liberdade para ligar.

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