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200 ANOS DE IMIGRAÇÃO

Uma conexão histórica entre Alemanha e Brasil

Bettina Cadenbach assumiu o cargo de embaixadora da Alemanha no Brasil em setembro do ano passado

A relação diplomática entre o Brasil e a Alemanha, em realidade nacional, está simbolizada em uma pessoa: a embaixadora alemã Bettina Cadenbach, que assumiu essa missão em setembro de 2023. É ela que acompanha atentamente as comemorações e as celebrações que já ocorrem, muito especialmente na região Sul, em torno do bicentenário da imigração alemã no País, que transcorre em 25 de julho.

Na iminência da chegada a essa data especial, Bettina concedeu entrevista exclusiva, por e-mail, à Gazeta do Sul, respondendo a uma série de questões que propõem uma reflexão sobre as relações entre Brasil e Alemanha nas mais diversas áreas, da economia à cultura.

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Em uma mensagem de boas vindas, no momento em que assumiu o cargo diplomático no País, ela já havia referido a proximidade de longa data entre as duas nações: “A ligação entre o Brasil e a Alemanha é antiga e multifacetada”, definiu. E apontou que a primeira leva de imigrantes a se fixar no Rio Grande do Sul, em 1824, foi determinante para essa máxima integração cultural.

“Hoje, o Brasil é o país com o maior número de falantes de alemão fora da Europa, o parceiro comercial mais importante da Alemanha na América do Sul e o único parceiro estratégico da Alemanha na América Latina e no Caribe”, assinalou.

“Com essa excelente base, queremos aprofundar nossas relações bilaterais para que possamos moldar conjuntamente as principais questões globais, principalmente o gerenciamento da crise climática e a transição energética global. Isso também inclui a expansão de nossa intensa cooperação científica.”

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Em outubro, a embaixadora alemã deve vir a Santa Cruz

A embaixadora alemã no Brasil, Bettina Cadenbach, tem participado de diversos eventos nos quais o bicentenário é enfatizado. Um desses momentos foi a sessão solene em homenagem aos 200 anos da imigração alemã no Brasil feita no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, por iniciativa do deputado federal santa-cruzense Heitor Schuch (PSB). Bettina foi prestigiar esse ato, acompanhado por várias outras lideranças de entidades e de organizações que aproximam ou representam esses dois países.

Bettina em agenda com o deputado Heitor Schuch

Além de a embaixadora ter marcado presença no evento na Câmara, Heitor Schuch esteve na Embaixada alemã na semana passada a fim de contribuir com a equipe diplomática em uma programação alusiva ao bicentenário. Na agenda de Bettina está uma série de visitas a localidades que se originaram de colonização alemã. E a expectativa é de que no início de outubro ela venha justamente a Santa Cruz do Sul, onde ficaria possivelmente por dois dias, para conhecer a cidade e a região próxima.

Além da própria Embaixada, no Rio Grande do Sul o Consulado Geral alemão tem se engajado em uma série de ações e de agendas para marcar o bicentenário da imigração, ainda que a enchente de maio tenha inibido parte dessas atividades.

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Entrevista com Bettina Cadenbach, embaixadora da Alemanha no Brasil

Como repercute junto ao governo alemão a programação que tem sido montada em diferentes estados, em especial no Rio Grande do Sul, em celebração aos 200 anos de imigração alemã para o Brasil? Há pleno conhecimento desse fato?

Os 200 anos de imigração alemã para o Brasil são algo especial para a Alemanha e mostram os profundos laços entre nossos dois países. Essas iniciativas culturais e históricas não apenas destacam a profunda conexão entre os dois países, mas também fortalecem os laços diplomáticos e culturais entre a Alemanha e o Brasil. Por isso, estamos muito felizes com a grande variedade de eventos programados para celebrar o bicentenário, embora, infelizmente, as inundações no Estado do Rio Grande do Sul tenham impedido muitos planos de forma dramática. A Alemanha se solidariza com as pessoas das áreas atingidas; já estamos bastante empenhados na ajuda imediata a projetos de reconstrução na região.

A senhora teve oportunidade de visitar regiões brasileiras nas quais houve projetos de colonização com imigrantes alemães? Ou pretende visitá-las ao longo do ano? Como a senhora vê essa contribuição alemã no País?

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Durante a primavera, estive pela primeira vez no Rio Grande do Sul. No final do ano passado, membros da Embaixada também viajaram para Santa Catarina. Em ambos os estados, visitamos comunidades e centros culturais, fortemente marcados pela imigração alemã. Em muitos locais, essa conexão histórica vem até hoje, criando uma identidade. É bonito ver que os muitos brasileiros descendentes de alemães são uma parte importante de um povo brasileiro muito diverso. Me alegro com essas conexões tradicionais, que podem ser a condição para o entrelaçamento da sociedade civil e a difusão de uma imagem moderna da Alemanha.

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Brasil e Alemanha são grandes parceiros comerciais. Essa presença massiva de imigrantes alemães no Brasil, em que medida hoje contribui para o estreitamento de laços?

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De fato, em São Paulo está a maior câmara alemã de comércio exterior do mundo; mais de 1.000 empresas alemãs têm suas atividades no Brasil. A importância das relações comerciais entre a Alemanha e o Brasil é imensurável. Nós olhamos para o futuro. Existem muitas possibilidades de crescimento, principalmente no setor da economia verde, mas também em relação à meta do Brasil referente ao aumento da produtividade industrial.

A Alemanha chega a estudar uma intensificação, por exemplo, de trocas culturais ou de estabelecimento de parcerias com essas comunidades formadas na origem por imigrantes alemães? O que seria possível alinhar para o futuro, nesse sentido?

Diversos eventos e parcerias entre a Alemanha e o Brasil estão acontecendo, especialmente para marcar o bicentenário. Esses eventos variam entre exposições, festas, concertos, viagens ao Brasil e aos locais dos primeiros imigrantes alemães, corais, conjuntos, intercâmbios escolares e culturais, e muito mais. No Estado de São Paulo, por exemplo, o dia 25 de julho será feriado, quando se comemora o bicentenário da imigração alemã. Esses eventos não são organizados apenas pela Embaixada ou por consulados, mas, muitas vezes, também em nível privado e comunitário. Também se pode constatar que muitas trocas culturais foram planejadas nas regiões onde começou a imigração alemã no Brasil.

O que mais particulariza, na avaliação da senhora, a relação atual entre Brasil e Alemanha? O que o Brasil significa para a Alemanha em termos de parceria e interação cultural?

O Brasil e a Alemanha mantêm relações boas e duradouras. O intercâmbio entre nossos países é vívido. O Brasil é o único parceiro estratégico da Alemanha na América Latina. No final de 2023, foram realizadas as segundas consultas governamentais entre o Brasil e a Alemanha, em Berlim, e vejo com alegria as próximas consultas, que serão realizadas no ano que vem. Nós ficamos felizes em poder trazer, no âmbito do intercâmbio cultural, artistas que poderão tornar a cena cultural moderna alemã mais conhecida. Por outro lado, há muitos artistas brasileiros na Alemanha, e que são muito bem-sucedidos. Dessa forma, eles levam consigo um pequeno pedaço do Brasil para a Alemanha.

O mundo atual é marcado por uma série de conflitos ou de distúrbios. O caso da América Latina, tendo o Brasil como referência, em que esse tipo de atrito não se verifica entre nações vizinhas (com pequenas exceções, como o caso Venezuela-Guiana), poderia inspirar outros povos a uma convivência mais harmônica?

Para a Alemanha, a lei e a ordem internacionais, conforme consta no estatuto das Nações Unidas, são as diretrizes para a conduta internacional. Tentativas de transpor barreiras com violência não podem ser ignoradas e nem mesmo toleradas. O Brasil, como o chamado “Sul Global“, tem um papel muito importante. Mesmo que algumas guerras e conflitos deste mundo pareçam muito distantes, vistos do Brasil, é muito importante defendermos a ordem juntos.

A forte presença de imigrantes alemães e de seus descendentes em especial na região Sul do Brasil poderia estimular ou inspirar programas mais amplos ou efetivos de relacionamento com essas áreas?

Claro que a imigração alemã no sul do Brasil é um componente importante da estreita integração da sociedade civil, que tem muita relevância para áreas como cooperação científica, econômica e o intercâmbio entre estudantes e jovens em idade escolar. Formas diversas à margem da cooperação do Estado, como, por exemplo, as iniciativas de geminação de cidades, comprovam isto. Como Embaixada, temos, naturalmente, um olhar para o Brasil como um todo, e vemos importantes potenciais de cooperação em muitas regiões diferentes.

Com outras nações a Alemanha tem laços estreitados em virtude de movimento imigratório ocorrido no passado? Há exemplos nesse sentido?

A Alemanha é hoje um país de imigração. Nos anos sessenta, muitas pessoas de países como Itália, Portugal e Espanha, e, principalmente, da Turquia, foram para a Alemanha, decidiram ficar e hoje têm a segunda e terceira geração morando em nosso país. Muitos descendentes de alemães foram da Rússia para a Alemanha e vice-versa. Os alemães migraram para diferentes países; a maior parte foi para os Estados Unidos. Mas até hoje há alemães mudando-se para a Suíça e alguns para o Brasil.

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De que atividades ou de que ações a Embaixada da Alemanha tem participado, no Brasil, no contexto das celebrações dos 200 anos de imigração alemã para o país?

A Embaixada e os Consulados Gerais no Brasil participaram de várias atividades no contexto do bicentenário. Organizaram várias festas, exposições, mostras de cinema, concertos, seminários, e muito mais. Em conjunto com o serviço postal brasileiro, foi criado até mesmo um selo para marcar essa ocasião especial. E também foi criado um selo comemorativo na Alemanha.

Tomando como base o contexto atual, na avaliação da senhora, a vinda de alemães para o Brasil e o acolhimento que eles tiveram aqui, bem como a forte participação deles para o desenvolvimento, isso poderia inspirar sociedades ainda hoje no que tange a migrações e a acolhimento?

Os tempos atuais não podem ser exatamente comparados com a época de 200 ou 150 anos atrás. O mundo se aproximou muito mais. É por isso que a Alemanha e o Brasil vêm trabalhando juntos há muito tempo em questões internacionais importantes. Isso inclui, por exemplo, o chamado “Grupo dos 4”, no qual estamos trabalhando juntos para reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas também, por exemplo, em questões de direitos humanos no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. E, é claro, a COP30, a Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, que será realizada no Brasil, em 2025, tem suma importância. Aqui, o Brasil e a Alemanha estão trabalhando juntos para aumentar os esforços para proteger o planeta.

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