Está certo que, por essência da arte, um escritor seja o criador de muitos personagens. Mas no caso do português Fernando Pessoa, ele é o criador de muitos “autores”, o que não é algo comum na história. E essa multiplicidade de heterônimos, de supostas personalidades com biografias individuais e específicas, que tiveram uma produção com estilo e temáticas diferentes, talvez explique a extensão do volume Pessoa: uma biografia, elaborada pelo norte-americano Richard Zenith, que a Companhia das Letras colocará nas livrarias a partir da próxima quarta-feira, em tradução de Pedro Maia Soares.

São impactantes 1.160 páginas, quase uma Bíblia, resultado de mais de três décadas de mergulho na obra de Pessoa por um dos seus mais respeitados especialistas, de 66 anos. O exemplar custará R$ 199,00, mas há a considerar que a obra de Pessoa, esse autor que se multiplicou por várias “pessoas”, efetivamente vale por vários livros, várias obras ou vários escritores.

E Zenith não poupou esforços para recuperar detalhes da vida de Pessoa, ele próprio, e da obra de cada um de seus heterônimos. Destes, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos são os mais citados e conhecidos, a ponto de merecerem, cada um, sozinho, fã-clubes. Mas há Fernando, o cidadão de carne e osso, esse que nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1888 e que na mesma cidade morreu, em 30 de novembro de 1935. Faleceu com 47 anos, e poucos fizeram ou escreveram tanto em um tempo tão exíguo de vida. Ainda que, de certo modo, Pessoa seja eterno.

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