Vários momentos neste ano do Bicentenário da Imigração Alemã no Rio Grande do Sul e 175 anos em Santa Cruz do Sul evocam um justo reconhecimento à perpetuação de valores culturais essenciais dos imigrantes, como a música e o canto (em específico, o canto coral). Na última semana, mais dois marcantes eventos celebraram essa manifestação: o Concerto do Coro e Orquestra de Câmara da nossa universidade Unisc, em um de seus auditórios, e o Encontro de Corais da Oktoberfest, na Igreja Evangélica do Centro, com seis grupos do município e região.
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As iniciativas fizeram-me lembrar do provável primeiro coral santa-cruzense organizado, a associação de canto “Gesangverein Liedertafel”, fundada em 1887, com sede no “Club União”, na cidade, que comemorou seu cinquentenário em 1937, com publicação especial que encontrei em minhas frequentes pesquisas históricas. Já no recente livro Peter & Lis, que tem como fio condutor a proibição da língua e manifestações culturais alemãs nas guerras mundiais, fiz alusão a esse coral, que também paralisou atividades no primeiro conflito global e provavelmente não resistiu ao segundo, já que não há mais notícias dele depois daquele período.
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Pois esse grupo era famoso no Estado, tanto que chegou a conquistar em 1898 o primeiro prêmio em Festa de Cantores Alemães na Capital do Estado, com a canção “Der Trompeter an der Katzbach” (“O Trompetista no Katzbach”), cujo certificado foi publicado no referido livro. Nos festejos alusivos aos 50 anos, onde também se incluía concerto com orquestra (a Estudiantina), essa canção estava presente, conforme a programação divulgada pelo então presidente Helmuth Dreher e regente Arthur Etges.
O coral era apenas masculino (Männerchor), conforme a tradição da época, e tinha entre os convidados para a apresentação outro grupo local de homens (o Cäcelienverein – Coral Santa Cecília, da então Matriz São João Batista, e que em 2024 completa 90 anos). Essa tradição é mantida também pelo Coral Cruzeiro do Sul, do distrito de Boa Vista, provavelmente a sociedade de cantores mais antiga da região (fundada em 1927 e perto do seu centenário), e pelo jovem Coro Masculino da Afubra, que em 2025 faz 15 anos, enquanto vai a 30 anos o grupo misto (Coral) da mesma entidade, que por sua vez está próxima de seu 70º aniversário.
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Esses três corais marcaram presença no belo encontro da semana passada, conduzido pelo professor Mártin Goldmeyer, da Comissão de Cultura da Oktoberfest, e mostraram, como os demais, e por meio da dedicação dos seus regentes (Astor Hauser, Celso e Gustavo Sehnem), lindas canções alemãs: Jetzt kommen die lustigen Tagen (“Agora vêm os dias alegres”), Herber Abschied (“Amarga Despedida”), Wunderbar ist Jesus (“Jesus é maravilhoso”), Rote Rosen (“Rosas Vermelhas”) e Heimweh (“Saudades de Casa”). De Vale do Sol, veio o Coral Municipal com Jesus bleibet meine Freude (“Jesus permaneça minha alegria”, canção de 1723, de Johann Bach, que também integrou o repertório do Concerto da Unisc, dirigido pelo maestro Leandro Schaeffer, todo com autores alemães).
Já os cantores da AABB trouxeram Du baust mich auf (Você me levanta) e os felizes Fröhliche Sanger; do Centro Cultural 25 de Julho, três alegres cantos alemães: Liechtensteiner Polka, Gute Freunde kann niemand trennen (“Bons Amigos Ninguém Separa”) e Der Sommer kommt immer wieder (“O verão vem sempre de novo”).
A publicação dos 50 anos do antigo “Gesangverein Liedertafel”, toda em alemão gótico, traz na sua capa uma frase em destaque: “Treu dem Lied und treu dem Wort, deutsche Lied ist deustcher Hort” (em tradução livre: “Fiel à canção e fiel à palavra, a canção alemã é um tesouro alemão”). A epígrafe nos leva a refletir sobre a relevância que essa expressão cultural teve para os imigrantes e como se torna indispensável aos descendentes preservarem esse legado, assim como fazem vários abnegados. Estejam certos, estamos guardando um tesouro!
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