Nesta terça-feira, completam-se dois meses da principal ofensiva policial realizada em 2023 no Vale do Rio Pardo. A megaoperação Afluência, deflagrada em 30 de novembro pela Polícia Federal (PF) de Santa Cruz do Sul e Polícia Civil de Venâncio Aires, contou com a participação de cem agentes e mirou uma suposta organização criminosa que comandaria uma rede de contrabando especializada em crimes como lavagem de dinheiro e descaminho de mercadorias, principalmente bebidas.
No dia da ofensiva, foram executados 50 mandados de busca e apreensão, cinco de prisão preventiva e 22 medidas cautelares substitutivas de prisão, além de decretos judiciais de sequestro de 133 veículos e 30 imóveis – bens avaliados em aproximadamente R$ 20 milhões – e o bloqueio de valores depositados em contas de investigados e empresas. Conforme as apurações, a lavagem de dinheiro chegava a R$ 100 mil por dia.
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No momento, a apuração segue em andamento com a análise dos materiais apreendidos no dia da operação, que contou com ações nos municípios gaúchos de Lajeado, Estrela, Cruzeiro do Sul, Aceguá, Bagé, Jaguarão, Pelotas e Morro Redondo, e também nas cidades paulistas de São Paulo e Tarumã, na cidade do Rio de Janeiro e em Belo Horizonte (Minas Gerais). Porém, teve seu ponto principal em Venâncio Aires, onde seria o centro financeiro do grupo.
Conforme os investigadores, a Capital do Chimarrão era a grande “lavanderia” da organização, pois o homem apontado pela polícia como líder do grupo, Matias Dullius, que é de Lajeado, mantinha uma relação com empresários de Venâncio. A movimentação de valores nos estabelecimentos dos empresários do município do Vale do Rio Pardo chamou a atenção da polícia. Cinco mandados de prisão preventiva foram expedidos pela Justiça, e quatro deles foram executados no dia da operação.
Além da captura de Dullius em um hotel de Belo Horizonte, Luciano Delavi, de 29 anos, que é empresário do ramo da construção civil, foi preso em sua residência no Bairro Santa Tecla, em Venâncio Aires; Maicon Lehmen, de 32 anos, empresário do ramo de automóveis, foi capturado no Bairro União, também na Capital do Chimarrão; e Lauri Schulz, 56 anos, empresário do ramo de cigarros, também morador de Venâncio, terminou detido no litoral gaúcho, em Arroio do Sal.
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Quinto investigado com prisão decretada, Ricardo Caetano, de 34 anos, não foi localizado na data e se tornou foragido. Havia a hipótese de ele estar fora do País durante a deflagração da megaoperação Afluência. Conforme as investigações da PF e da Polícia Civil, ele seria um suposto braço direito de Matias Dullius dentro da organização criminosa. Na tarde da última terça-feira, no entanto, ele acabou se apresentando na Delegacia da Polícia Federal de Santa Cruz do Sul, e foi conduzido ao Presídio Regional.
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Confirmação
Segundo a PF, o grupo contava com a participação de fornecedores e intermediários para aquisição dos produtos nos free shops uruguaios ou em lojas de vinhos argentinas. O pagamento era de forma “física” ou através da utilização de “doleiros”. Após ingressarem no Brasil, as bebidas eram transportadas aos depósitos da organização.
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Posteriormente, eram remetidas a atacados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Em 15 de dezembro, a PF representou à Justiça pela revogação, mediante fiança, das prisões preventivas dos quatro acusados detidos – Caetano estava foragido. Para o delegado Mauro Lima Silveira, não havia mais necessidade de mantê-los presos, pois a coleta de provas já tinha sido feita e os depoimentos necessários haviam sido tomados.
Para Dullius foi estipulado o valor de R$ 100 mil e uso de tornozeleira eletrônica. Para Schulz, foi fixado o valor de R$ 50 mil, e para Delavi e Lehmen ficou o valor de R$ 30 mil cada um. Os quatro pagaram a fiança e deixaram o presídio. Caetano se entregou terça e segue detido. Segundo o delegado Mauro, a previsão é de que o inquérito da Afluência seja concluído até o final do primeiro semestre deste ano.
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“Seguimos analisando celulares e computadores. O que temos de momento é a confirmação das hipóteses que já trabalhávamos”, disse ele. “Estamos convictos do que já tínhamos apurado. E os motivos que ensejaram a deflagração da operação estão sendo confirmados, tanto no material apreendido já averiguado como na análise bancária com a quebra dos sigilos.”
Defesa aguarda inquérito
A Gazeta do Sul buscou contato com as defesas dos cinco acusados pela PF de integrarem a suposta organização criminosa. Advogado de Matias Dullius e Ricardo Caetano, o criminalista Luiz Carlos Rech detalhou os pontos de sua defesa. “O Rodrigo nos procurou e a nossa indicação para ele, que se encontrava na condição de foragido, era se apresentar à PF e se colocar perante a Justiça para responder ao caso. E foi o que fizemos. Temos a certeza de que vamos provar sua inocência”, comentou o defensor.
“Sobre o Matias, tem uma série de questões patrimoniais dele, da situação de liderança que terá de ser confirmada, pois pairam muitas dúvidas nesse sentido, em especial ao alegado patrimônio que ele possui, que com certeza não é verdadeiro. Aguardaremos a conclusão do inquérito e iremos fazer a defesa com muita tranquilidade perante o Poder Judiciário”, complementou Luiz Carlos Rech.
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Advogado de Lauri Schulz, Roberto Tailor Bandeira afirmou que o empresário não tem relação com as outras pessoas citadas no inquérito. “Meu cliente manuseava dinheiro, pois vende cigarros, e por isso tinha valores em espécie em mãos, mas não tem vínculo com nenhum dos outros investigados. Ele não sobrevive do ramo de bebidas, e sim de cigarros brasileiros que ele comprava em São Paulo e Rio de Janeiro. É um processo muito grande e esperamos o relatório final do delegado”, disse.
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Na bancada da defesa de Luciano Delavi, os advogados Gustavo Bretana e Ana Paula Krug afirmaram ter convicção da ausência de qualquer participação do empresário nos atos investigados, conforme esclarecido em seu interrogatório. “Trata-se de uma investigação complexa e que certamente chegará a essa mesma conclusão. Em eventualmente respondendo a processo criminal, teremos ampla possibilidade de esclarecer os fatos e demonstrar a inocência de Luciano”, disseram os defensores, em nota.
Também por meio de nota, a defesa de Maicon Lehmen, formada pelos advogados Ezequiel Vetoretti e Renan Hart da Rosa, disse entender que qualquer manifestação acerca do mérito das investigações é precipitada e em nada contribuirá para o esclarecimento dos fatos. “Uma operação policial desta natureza normalmente inicia dilatada e apenas com a companhia experiente do tempo acaba adquirindo o seu tamanho normal, com o esclarecimento de pontos e o afastamento de acusações infundadas”, diz parte da nota.
“Muitos pontos, no entanto, já foram esclarecidos por Maicon no alvorecer da investigação, tudo a demonstrar a inexistência de qualquer prática ilegal envolvendo sua pessoa e sua empresa. Em respeito ao Juízo, nos manifestaremos no único, legítimo, democrático e adequado ambiente que é o processo”, complementa o texto, assinado pelos advogados Ezequiel Vetoretti e Renan Hart da Rosa.
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