A Índia é uma nação extremamente complexa, que parece impossível decifrar. Ao longo de quase 20 anos, visitei o país em 37 oportunidades, de norte a sul, e, embora compreenda algumas particularidades sobre a cultura, o povo, as religiões, e os problemas do chamado subcontinente indiano, sinto que ainda estou muito longe de entendê-lo em um contexto mais abrangente. Além da acumulação de conhecimento e das tradições milenares, a civilização indiana foi impactada de forma contundente por choques culturais, causados por invasões, revoluções e cataclismos, que se somaram ao padrão existente, e acabaram sendo igualmente definitivos.
É o caso, por exemplo, da influência de persas e muçulmanos, que, entre tantas outras coisas, produziu o mais famoso cartão-postal da Índia, o Taj Mahal, que fiz questão de visitar logo em minha primeira visita, em 2001. Saí cedinho de Delhi em um domingo, a bordo de uma van, com destino a Agra, a sudeste da capital. Após uma trepidante viagem de quatro horas, o primeiro impacto na antiga capital do Império Mogol foram os milhares de macacos, que estão por toda parte. Sobre os carros que param no semáforo, nos telhados, nas calçadas, ou circulando naturalmente em meio à população. Da caótica Agra, chegase à região do Taj Mahal, um oásis de limpeza e organização, onde veículos de combustão não são permitidos. Até hoje, é o local mais mágico que visitei na Índia, por sua história, beleza e pela aura romântica em torno de sua concepção.
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O complexo do Taj Mahal é resultado de uma fusão cultural indoislâmica, iniciada com a dominação muçulmana no norte da Índia a partir do século 13. Erguido entre 1632 e 1653 pelo imperador Shah Jahan para sua amada esposa Mumtaz Mahal, o mausoléu, com o tempo, sublimou sua condição de simples túmulo. Hoje, representa uma joia da arquitetura mundial e, para quem conhece um pouco mais de sua história, um templo ao amor. O escritor britânico Rudyard Kipling o descreveu como um portão pelo qual todos os sonhos bons passam. O poeta indiano Tagore o resumiu, de forma ainda mais poética, como uma lágrima no rosto do tempo.
O luxo do mausoléu dá uma ideia da importância do império mogol, que ia bem além da Índia atual. Seu primeiro grande imperador, Babur, tinha origem turca e mongol. Mogol, aliás, é o termo persa para mongol. Ele unificou a Índia, que era até então um mosaico de reinos hindus e muçulmanos. Respeitando a cultura hindu, Babur conquistou todos esses reinos, e, como seu antepassado Gengis Khan, permitiu que as tradições locais fossem mantidas, formando assim um império muito respeitado. Algumas gerações mais tarde, um de seus descendentes, Khurram, assumiu o poder, e, seguindo a tradição, recebeu novo nome: Shah Jahan, que significa “imperador do mundo”. Na época, seus domínios tinham 130 milhões de súditos, o maior do planeta, com 30% do PIB mundial, e seu poder era expresso principalmente pela arquitetura, com a construção de jardins, palácios e cidades inteiras por toda a Índia.
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Embora a imagem popular do Taj Mahal seja a de uma construção branca, de perto pode-se admirar as inscrições do Corão e os coloridos desenhos, feitos com 40 tipos de pedras semipreciosas encravadas nos blocos alvos de mármore. No núcleo do monumento principal estão dois túmulos, onde jazem, lado a lado, Mumtaz e Shah Jahan. Por mais que a mensagem que tenha permanecido seja a de um amor eterno, é preciso dizer que Shah Jahan era viciado em ópio, álcool e nas mais de 300 mulheres do harém imperial. No fim da vida, foi aprisionado pelo próprio filho, que matou três irmãos na luta pelo poder. Como consolo, de sua cela no alto do Forte de Agra, ele podia avistar o Taj Mahal, e ali morreu, em 1666, aos 73 anos de idade.
O novo e fratricida imperador, Aurangzeb, coibiu as drogas, o álcool e, infelizmente, não tinha o gosto do pai pela arquitetura e pela arte. Nas décadas seguintes, o império foi se desintegrando. O último imperador mogol, Bahadur Shah II, foi exilado em 1858 pelos britânicos na Birmânia, hoje Mianmar, onde morreu quatro anos depois.
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