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RECIFE

Um passeio pela história

Viajar a Recife é visitar um dos raros ambientes no Brasil que já pertenceram a uma outra nação que não Portugal. Está certo que a Guanabara, atual Rio de Janeiro, e São Luís, no Maranhão, por um breve tempo tiveram a presença francesa em seu território, mas nada se compara à capital de Pernambuco, que ainda guarda até hoje, muito vivas, as marcas de sua colonização holandesa. Afinal, foi sob o governo de Maurício de Nassau, um alemão a serviço da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, nos anos de 1630, que o próprio povoamento ocorreu.

Quando a esquadra de Nassau chegou, ela tomou e arrasou Olinda, situada ao norte dos arrecifes que depois deram nome ao local. Ao desmantelar a base dos portugueses, então vinculados à Espanha desde 1580 na União Ibérica, Nassau escolheu um novo ponto alguns poucos quilômetros mais ao sul, às margens do Rio Capibaribe. Ali, ele construiu até um castelo, na chamada Ilha Maurícia.

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E em 1640 iniciou a construção da primeira ponte de pedra da América Latina, hoje conhecida como Ponte Maurício de Nassau, ligando essa ilha ao continente. Foi concluída em 1643, mas já em 1654 Recife foi recuperada pelos portugueses, e a colonização holandesa chegava ao fim.

Não sem ter deixado marcas perenes. Além da ponte, depois destruída (a atual, reconstruída no mesmo local, é de 1917), o traçado urbano de Recife, proposto por Nassau, segue muito visível. Como são visíveis prédios de época, ao estilo de Amsterdam e de Roterdam, estreitos, colados, e de vários andares.
E ficou, claro, o legado na arte. Em um tempo no qual os portugueses em nada se interessavam em registros dessa espécie, Nassau trouxe pintores (Frans Post e Albert Eckhout, em destaque), escritores (Gaspar Barléu é leitura obrigatória), botânicos e cientistas que nos revelam um Brasil (holandês) de cores vivas e cultura intensa.

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Capital cultural

Com seus 1,5 milhão de habitantes, tamanho muito similar ao de Porto Alegre, Recife hoje oferece o caldeamento e a cristalização de muitas culturas. Desde o princípio explorada pelo pau-brasil, largamente disponível em suas matas atlânticas, a nova terra logo revelou-se generosa também em açúcar, obtido da cana-de-açúcar, e que abastecia a Europa e o mundo. Foi em busca deste adoçante que vieram os holandeses, tão logo Portugal fora incorporado à União Ibérica.

Dos engenhos de açúcar espalhados ao longo da costa atlântica saíram os navios com carregamentos. E esta mesma atividade deu suporte a uma aristocracia, dos engenhos, das casas-grandes (e das senzalas), que promoveu uma culinária diferenciada e um modo de vida único. Esse passado, de várias raças e culturas, pode ser lido na obra do recifense Gilberto Freyre, em especial em Casa-Grande & Senzala e Sobrados e mucambos. Freyre que, ao lado de Joaquim Nabuco e de Joaquim Cardozo, e ainda de José Lins do Rego e de Ariano Suassuna, que ali se radicaram, é o grande porta-voz do imaginário recifense.

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