Mario Quintana escreveu que sentia uma dor infinita das ruas de Porto Alegre, por onde jamais passaria. Na mesma direção, digo que sinto saudade dos países que nunca visitei. Durante a vida profissional, sempre priorizei meu trabalho, deixando para depois a esperança de conhecer o mundo. Vivia muito – e ainda vivo – a síntese de que ler é uma forma de viajar sem sair de casa. No entanto, nada substitui a sensação de ver com os próprios olhos aquilo que documentários, filmes ou livros põem ao nosso alcance.

Em outubro de 2023, finalmente acompanhei Carmen, minha esposa, para conhecer Portugal, país assentado sobre uma história fascinante, grande parte dela construída com heroísmo e sofrimento. “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”, resumiu Fernando Pessoa, um dos representantes de um plantel de nomes indiscutíveis, como Gil Vicente, Camões, Eça de Queirós, José Saramago, só para exemplificar.

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Muitos aspectos de Portugal impressionam, a começar pela legião de turistas que por lá circulam. Pessoas dos mais diferentes lugares, grande quantidade de línguas, espaços de visitação tomados por filas que parecem não ter fim. É preciso muita paciência para acessar, por exemplo, o Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, a Livraria Lelo, no Porto, ou o Palácio da Pena, em Sintra. Mas vale qualquer sacrifício. Acho que foi dali que Fernando Pessoa tirou os versos que “tudo vale a pena/se a alma não é pequena”.

Por onde se anda, a qualquer momento se está diante de algum monumento, alguns grandiosos, em homenagens significativas que os portugueses prestam a seus antepassados. É estupendo, só para citar um, o Monumento aos Navegantes, situado às margens do rio Tejo. As praças, no final das tardes, se encontram tomadas de pessoas que, em perceptível certeza, se sentem seguras onde estão. É muito grande a sensação de segurança que se tem nas ruas de Lisboa, a qualquer hora do dia ou da noite.

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Portugal não abriu mão do transporte ferroviário. Há bondes em Lisboa, trens conectam cidades, transportando milhares de pessoas. Fomos de trem até a cidade do Porto. Algumas dezenas de ônibus tomariam as rodovias se não houvesse trens a cumprir essa função. Além de as passagens ficarem mais em conta. Em confortável ônibus, fomos até Fátima, pequena cidade em cujo santuário parece morar a paz.

Em Portugal, não há apenas resquícios, há obras inteiras a contar a rica e longa história que teve palco em seu território. Tendo o turismo como sua principal indústria, os portugueses zelam pela preservação de suas igrejas, de seus palácios, de seus imponentes castelos, de seus museus. Paga-se para acessar qualquer desses lugares, entretanto cada euro ali investido vale a pena. Os atendentes, os taxistas, os garçons são atenciosos e gentis e, como lidam com milhares de visitantes, quase todos falam inglês ou alguma outra língua, principalmente as faladas nos países europeus.

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Há muitos brasileiros morando hoje em Portugal e muitos que sonham em ir para lá. Não só eles, mas quase todos os estrangeiros não são bem-vindos. Lendo os jornais ou conversando com as pessoas, vê-se insatisfação dos médicos, falta de professores nas escolas, salários defasados, aluguéis e imóveis muito caros, contestações políticas, enfim, os mesmos problemas com que se deparam as nações do mundo todo. Como turista, sempre se tem um olhar mais complacente. Por isso, posso dizer: é um país encantador.

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Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

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