Natural de Sobradinho e com coração santa-cruzense, o historiador e professor Rafael Petry Trapp, de 34 anos, lança o livro O elefante negro: Eduardo de Oliveira e Oliveira, raça e o pensamento social no Brasil (Alameda Editorial, 336 páginas). Formado em História pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), o pesquisador já possui intensa carreira acadêmica e é autor de publicações relacionadas às interfaces entre História e Educação das Relações ÉtnicoRaciais no Brasil.
Tanto no mestrado quanto no doutorado, Rafael investigou os mecanismos pelos quais o racismo se reproduz na construção do pensamento científico. “O livro é basicamente minha tese de doutorado, numa versão resumida. Meu interesse pela temática da história afro-brasileira foi despertado pelo professor Mozart Linhares da Silva, na Unisc. Tanto ele quanto Rosana Candeloro, que na época era professora da universidade, me incentivaram a seguir na vida acadêmica”, conta o autor.
No livro, ele relembra as histórias de pesquisadores e intelectuais negros que, apesar de terem cumprido papel essencial na formação política do Movimento Negro contemporâneo no Brasil, foram marginalizados, silenciados e esquecidos durante a ditadura militar. Um desses pensadores foi o sociólogo Eduardo de Oliveira e Oliveira (1924-1980), cuja trajetória de vida e pensamento organiza a narrativa historiográfica do livro.
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O título da obra, O elefante negro, vem de um filme de 1982 que seria feito em São Paulo inspirado na vida do sociólogo. “O filme, assim como as pesquisas sociológicas de Oliveira, não foi finalizado, mas decidi tomar de empréstimo a força poética do título para sugerir a necessidade de identificarmos a importância das ideias e da criatividade de muitos ‘elefantes na sala’ que não ‘vemos’; ou seja, de pensadores negros e de outros grupos marginalizados que historicamente têm sido desprezados pela sociedade brasileira, seja por ignorância, covardia ou simplesmente como reflexo do racismo estrutural, em suas várias faces.”
A pesquisa que resultou no livro durou cerca de quatro anos, enquanto o pesquisador vasculhava documentos históricos em diversos lugares no Brasil e nos Estados Unidos. A banca avaliadora do trabalho incentivou a publicação do livro, um passo necessário no processo de divulgação das experiências históricas discutidas na pesquisa. A obra está disponível para compra pela internet e pode ser adquirido no site da Alameda Editoral: https://www. alamedaeditorial.com.br/historia/o-elefante-negro-de-rafael-petry-trapp.
Atualmente, além das atividades como professor universitário, o historiador mantém pesquisas que abordam a produção de materiais didáticos antirracistas por meio de mitos, lendas e brincadeiras antigas de povos tradicionais da região Oeste da Bahia, como quilombolas e indígenas.
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Lembranças da região
Rafael Petry Trapp nasceu em Sobradinho e chegou a morar por um ano em Passa Sete com familiares da mãe, e logo depois se mudou para Santa Cruz do Sul, onde passou a maior parte da vida. “Me considero santa-cruzense de vivência e coração. Minha família morava no Bonfim, e estudei a vida escolar inteira no Colégio Estadual Luiz Dourado – inclusive ganhei uma medalha por isso, na formatura –, no Arroio Grande. Ele confessa que visita pouco a região, mas ainda carrega muito carinho pelo município. “Nos últimos anos, por força das circunstâncias e das distâncias neste país continental, visito pouco a cidade. Viajo principalmente por causa da família, mas admiro muito a beleza e a qualidade de vida de Santa Cruz e da região do Vale do Rio Pardo.”
Na adolescência, ele gostava muito de ler e passar os dias à procura de artefatos indígenas antigos. Acabou encontrando cerâmicas, machados de pedra e pontas de flecha nas plantações de tabaco dos avós em Passa Sete e na área do cinturão verde no Bairro Bonfim, em Santa Cruz. Dali surgiu o interesse inicial pela História, que cursou na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), de 2007 a 2011.
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“Cursei a faculdade graças ao trabalho como instrutor de marcenaria da Prefeitura no Centro de Referência em Assistência Social (Cras) Beatriz Frantz Jungblut, no Bairro Santa Vitória.” Depois da graduação, Rafael fez mestrado em História na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, entre 2012 e 2014, e o doutorado também em História na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), entre 2014 e 2018.
Durante o doutorado, em 2017, Trapp passou nove meses em Nova York, fazendo um estágio de pesquisa no Institute of Latin American Studies da Universidade Columbia. Desde junho de 2018, é professor na Universidade do Estado da Bahia, em Barreiras, na região Oeste do Estado. Em 2019, tornou-se também docente do Mestrado em Ensino e Educação Étnico-Racial da Universidade Federal do Sul da Bahia, em Itabuna.
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