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CONVERSA SENTADA

Um Natal mágico

De nuevo estoy de vuelta/ Después de larga ausencia/ Igual que la calandria/ Que azota el vendaval/ Y traigo mil canciones/ Como leñita seca/ Recuerdo de fogones/Que invitan a matear
(JOSE IGNACIO RODRIGUEZ)

Cumpri meu período sabático. Andei por serras e campos, espiei possibilidades. Recorri caminhos passados.
Tudo muito lindo.

Mas me convenci que o Brasil não está tão ruim. O Brasil do agro é que nos empurra para o sucesso.
Então aqui estou para uma conversa sentada.

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Um forte abraço ao pessoal da Gazeta, gente querida, aos quais quero muito bem.

Aproveitei para varrer umas cataratas das vistas, minha mulher também o fez.

Quero pedir de novo que não me queiram mal ou me rotulem de pretensioso. Mas a verdade tem que ser dita. Fui e sou um homem feliz e como diz o poeta “soy feliz, soy un hombre feliz y quiero que me perdonen”.

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Tive a grande ventura de nascer no interior de Santa Cruz. Aos 6 anos nos mudamos para a cidade.

Estudei no São Luís e no Mauá. Só boas lembranças.

Me lembro bem do Natal daqueles tempos.

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Nada de porres, festas ruidosas, perus (nem se sabia o que era isso). Era receber um presentinho singelo, cantar o Noite Feliz e ir dormir.

Mas hoje quero narrar um Natal absolutamente diferente.

Eu recém tinha me casado com Maristela (a minha rainha do gado e das ovelhas) e compramos uma gleba relativamente grande de campo onde havia mangueiras, galpões, poço artesiano, mas a casa de moradia era malcuidada e não tinha energia elétrica.

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Nos pusemos, na véspera do Natal, a tirar fora coisas velhas, limpar cozinha, banheiro e quartos, com baldes.
Exaurido, falei: “vamos dormir aqui mesmo? trouxe umas linguiças, pão, e duas garrafas de vinho (quente, é claro)”.

Nos deitamos na cama precária e quis ligar o rádio de pilhas para adormecer. Maristela me disse: “para um pouco com rádio e vamos ouvir os bichos, passarinhos, o balir das ovelhas, o ronco dos bugios”.

É incrível o que acontece ao amanhecer ainda madrugada. É uma sinfonia de trinados. Parece que os seres que habitam os campos e matos estão sob a regência de um ser supremo.

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Saímos e nos dirigimos até uma sanga que corre perto da casa. Está protegida por árvores nativas, compondo assim as florestas ciliares. Estas são as heroínas quando começa a estiagem: são a garantia contra a seca.

Entramos, então, no arroio e juntos tomamos um banho de várias horas.

Foi aí que resolvemos recuperar a casa, puxar a energia elétrica, aumentar o número de açudes e adquirir mais glebas de campo encostadas às nossas.

Aquele Natal mudou nossas vidas.

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