Depois da interrupção da maioria das atividades em razão da pandemia – que perdura, ainda que em menor intensidade –, as coisas começam a voltar ao normal. Atividades artísticas e religiosas foram retomadas. No dia 17 de novembro, o governo do Estado flexibilizou as regras de prevenção à Covid-19, permitindo a realização de eventos sem limite de público, desde que continuem sendo respeitados protocolos como utilização de máscara e de álcool em gel.
Em Santa Cruz do Sul, a Christkindfest foi aberta oficialmente na quarta-feira, com a descida do Papai Noel de uma das torres da Catedral São João Batista. O evento conta com diversas atividades, como parque de diversões e a ornamentação de pinheiros pelos lojistas da Marechal Floriano.
É uma data importante para o comércio. Mas o verdadeiro sentido do feriado tem origem cristã. Celebrado em 25 de dezembro, o Natal lembra o nascimento de Jesus Cristo. Ao retomar o cotidiano pré-pandemia e ser novamente palco da festa do nascimento de Cristo (Christkindfest), a cidade vê, aos poucos, sua população retomar a esperança em dias melhores.
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Celebração cristã
O Natal é a festa em que os cristãos comemoram o nascimento de Jesus Cristo. Para o pastor Edelberto Rubem Stachovski, da Comunidade Evangélica Luterana da Santa Cruz, poder realizar celebrações novamente, após tanto tempo de distanciamento, é fundamental. “Reunidas, as pessoas podem celebrar esta data tão importante, demonstrando sua alegria e gratidão a Deus por ter enviado seu Filho ao mundo para nos salvar.”
O período, que teve início em março de 2020, representou um tempo de aprendizados e desafios para a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), conforme o pastor Vilmar Abentroth. “Não poder celebrar presencialmente, mas manter a comunhão, só foi possível por meio das mídias. Agora, aos poucos, vamos tendo a oportunidade de celebrar, de reunir, de congregar, e isso é animador, nos traz alegria e esperança. Porém, percebemos que as pessoas ainda estão receosas e inseguras”, diz Abentroth.
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Com todos os protocolos, alguns grupos reiniciaram atividades, realizando ações diaconais e missionárias, que são a essência da vivência cristã. “A comunhão presencial é um dos fundamentos da Igreja. Poder se reencontrar abastece a fé e a fraternidade mesmo que ainda sem o abraço, que tanto faz falta”, observa o pastor.
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25 de dezembro sem Jesus
É tempo de reaproximação humana e divina, conforme dom Aloísio Alberto Dilli, bispo de Santa Cruz do Sul. “Com o longo tempo da pandemia, que nos distanciou fisicamente, sentimos necessidade de encontros que nos reaproximem em todas as dimensões da vida. Também a fé vive esta realidade: estamos ansiosos por nos reencontrar em nossas comunidades eclesiais. É o que estamos percebendo em nossas recentes celebrações de crisma pelas paróquias da diocese. Em breve, viveremos mais um Natal do Senhor entre nós”, enfatiza o bispo.
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Dom Aloísio reforça que é necessário lembrar-se que o Natal fala sobre o nascimento de Jesus Cristo. “Com o nascimento do Menino de Belém, a pessoa humana ganhou um rosto divino e Deus assumiu um rosto humano. Sem entender esse mistério, o mundo ateu e secularizado optou, neste tempo do Natal, pelo Papai Noel, uma figura mítica, fictícia ou imaginária.”
Segundo o bispo, quando se tenta substituir Jesus Cristo pelo Papai Noel, este último se torna uma figura enganosa, vazia de sentido teológico e espiritual. “Um 25 de dezembro sem a presença de Jesus Cristo não pode ser chamado Natal, pois, como a própria palavra diz, é o dia do seu nascimento. E o aspecto festivo ganha sentido na medida em que celebramos a vinda de Deus entre nós”, conclui.
Comércio retoma o fôlego
Tanto tempo sem encontros e festas fez com que aflorasse nas pessoas a vontade de confraternizar com amigos, familiares e colegas de trabalho. Por isso, um dos segmentos que sentem maior impacto neste fim de ano é o do comércio que vende itens para a brincadeira do amigo-secreto. Nas Lojas Prata de Santa Cruz do Sul, por exemplo, a busca por presentes para esse tipo de confraternização aumentou consideravelmente, conforme a gerente Tainá Soares.
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“Estamos com muita procura por presentes para amigo-secreto. As pessoas estão mais carentes, todo mundo quer beijar, abraçar.” Com isso, cresceu a venda de itens como blusas, camisas polo e básicas. Tainá frisa que o movimento está superando as expectativas e que outros produtos muito procurados são itens da moda, vestidos e demais roupas para festas – que estão voltando a acontecer. “Estamos também com condições boas de pagamento – primeiro pagamento para março. O cliente, automaticamente, já está vindo.”
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Na Afubra, além de eletrodomésticos e móveis, o que sai muito nesta época do ano são copos e materiais de decoração para a mesa da ceia. A gerente da loja, Nádia Rohr, detalha que a Afubra está bem preparada para receber os clientes e a equipe espera superar as vendas feitas no ano anterior. “Ainda é cedo para sentir o efeito do Natal, mas esperamos que isso aconteça principalmente a partir do dia 15. As pessoas também compram ar-condicionado, ventilador, cafeteira, são presentes diversificados que saem. E copo! Copo é uma coisa que sai muito em dezembro – com frases e térmicos, que são moda agora. E também muito vale-presente”, observa a gerente.
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Flor de Natal
A pesquisadora e escritora Lissi Bender explica a origem da flor tradicional desta época do ano: a Poinsettia. Segundo ela, quando Jesus nasceu, apareceram três magos do Oriente em Jerusalém à procura do recém-nascido rei dos judeus. “Disseram que haviam visto uma estrela surgir no céu e que os conduziu até ali. Haviam feito a caminhada guiados pela estrela, para ver e adorar Cristo. A estrela-guia se tornou um dos símbolos mais expressivos da celebração do aniversário de Jesus.”
Ao longo do tempo, conforme a pesquisa de Lissi, muitas teorias tentaram explicar a presença da estrela de Belém. “Foi um cometa? Uma supernova (explosão de uma estrela)? Uma conjunção especial de planetas que promoveu um brilho singular, nos anos em que Cristo nasceu? Para muitos teólogos, trata-se de uma lenda. Matheus a teria incorporado em seu evangelho no Novo Testamento porque no Antigo Testamento constava a profecia de que a vinda do Messias seria anunciada pelo brilho de uma estrela”, acrescenta Lissi.
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Portanto, na celebração do aniversário de Jesus, plantas e flores têm um lugar especial. “A Poinsettia é considerada a estrela natalina por excelência. Na verdade, não se trata de uma flor, mas da coroa vermelha de suas folhas. A cor mais conhecida entre nós é o vermelho, mas ela existe em diferentes tonalidades.”
Decoração com muitas luzes
É na época do Natal que as pessoas também optam por uma iluminação diferenciada em suas residências ou até mesmo nos locais de trabalho. Pensando nisso, a Gasima atua com diversos tipos de pisca-pisca e luzes de Natal. “Dentro da linha tradicional de piscas, temos redes e cascatas. Trabalhamos muito também com armações e cordas luminosas, que podem ser usadas externamente. Neste ano nos adiantamos e, no início de outubro, já tínhamos essa mercadoria, mas a procura começa mais na metade para o fim de novembro”, comenta o gerente Leandro Gerlach. Neste ano, uma fita de neon vendida em metro é a novidade da Gasima. “Na realidade é uma fita de LED, que dá um efeito diferente da corda”, completa.
Papai Noel santa-cruzense
Nesta época do ano, por volta das 19 horas, uma parte do Parque da Oktoberfest se transforma em um espaço de muita magia, onde aflora a imaginação de crianças e até de adultos. Luzes coloridas levam até os duendes que fazem a recepção da Vila Noel e na casa do Bom Velhinho. No local, o Papai Noel espera pelos visitantes para ouvir os pedidos, conversar com crianças e, claro, dar balinhas para quem passa por lá para fotografar o momento.
Há 18 anos trabalhando como Papai Noel, o santa-cruzense afirma que gosta muito do que faz e se sente recompensado pelo carinho recebido de tantas pessoas. Tudo começou em uma ação voluntária no hospital. Depois, foi sendo chamado e contratado para eventos, mas seguiu realizando ações gratuitas. “Eu sempre gostei de fazer isso, me transformo. Eu adoro criança, levo na brincadeira.”
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O Papai Noel conta que são muitas as histórias nesses anos de atuação. “Já aconteceu de a mãe dizer que o menino fazia xixi na cama, e eu conversei com ele. No ano seguinte, ela voltou e me contou que ele havia parado de fazer porque o Papai Noel falou”, recorda. Porém, ele diz que não gosta de dar broncas. “Eu converso, trato bem, acho que o Papai Noel não pode assustar. A gente conversa sobre colégio, sobre comer coisas saudáveis, escovar os dentes”, salienta.
Muito caprichoso, o Bom Velhinho de Santa Cruz do Sul preza pela inovação a cada ano. “Sempre procuro fazer uma roupa nova. Neste ano eu mandei fazer duas, até me empolguei.” Ele trabalha com variadas classes sociais, conta que é contratado para ir em residências e já tem clientes fixos de anos. Mas destaca que também vai em escolas e bairros, de forma gratuita.
Bolachinhas de Natal
A produção de bolachinhas de Natal já é uma tradição de décadas da agroindústria da família de Sonja Müller Sehnem, 51 anos. Os produtos expostos segundas, quartas e sextas-feiras na Feira Rural do centro de Santa Cruz do Sul contam com variações para diversos gostos e tolerâncias. “Em uma nós usamos melado em vez de açúcar, outra é feita com farinha branca e açúcar normal. Em outra, colocamos mel e gengibre. Tem também uma em que é empregada manteiga que nós mesmos produzimos, e nesse período enfeitamos mais por causa das crianças”, detalha Sonja.
O segredo, segundo ela, é usar produtos naturais. “Tentamos ir também para esse lado, trabalhamos com muitos produtos sem glúten, sem lactose. Temos uma bolachinha de Natal que é feita com amêndoas.” Cada bandeja de bolachas na banca é vendida a R$ 10,00.
A origem histórica dos biscoitos
Lissi Bender comenta que os biscoitos natalinos fazem parte de uma antiga tradição dos povos germânicos. Sua origem remonta a um tempo anterior à era cristã e está ligada às oferendas ao deus sol, durante o solstício de inverno. “Eram ofertados à divindade, para o sol voltar a aquecer a terra. Terra coberta de neve, em meio a um tempo escuro e gelado. Originalmente, eram feitos apenas com farinha e mel. Esses doces foram os precursores dos biscoitos natalinos. Aqui receberam cobertura de clara de ovo. O branco no biscoito lembrava aos imigrantes os Natais em meio à neve”, observa.
Estudiosa da cultura alemã, Lissi salienta que a padaria natalina é um hábito que na Alemanha mobiliza toda a família. “Biscoitos em diferentes formatos tradicionais, como estrela, coração, lua, pinheirinho. Aqui entre nós as bolachinhas recebem esses mesmos moldes. Fazer biscoitinhos natalinos é praticar uma antiga e linda tradição. Muito especial também por unir a família nos preparativos para o Natal, por envolver o lar com aromas maravilhosos. Também podemos presentear nossos familiares, amigos e colegas com delícias feitas por nós.” Lissi completa que as especiarias natalinas mais tradicionais são Zimt (canela); Nelken (cravos); Vanille (baunilha; Koriander (coentro); Anis (Kardamom – cardamomo) e Muskat (noz-moscada).
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