Lembro de um conto de ficção científica que li na adolescência. O autor era Fredric Brown, e o título era Algo verde. O personagem era um náufrago espacial, um astronauta terrestre perdido em um planeta dominado por cores quentes, onde não existia nenhum tom, nenhum vestígio de verde. Era só na sua memória que permanecia o colorido da vegetação, das florestas e dos campos da Terra, “o único planeta onde o verde era a cor predominante”.

A lembrança vem por ocasião da conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que acontece agora na Escócia, e da situação bizarra – para dizer o mínimo – da proteção ambiental no Brasil. Ao mesmo tempo que o desmatamento avança, o próprio Ministério do Meio Ambiente dificulta o trabalho dos órgãos de fiscalização. Servidores do Ibama e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) já se queixaram publicamente da paralisação de suas atividades por iniciativa do governo. Mas a vida segue.

Um país que destrói suas florestas não está se destruindo? Lembro agora de Mauro Klafke. Em 2014, esse escritor santa-cruzense lançou o livro Apenas um jogo, do qual faz parte o conto Como uma fábula. Nessa história, que se passa em lugar e tempo incertos, um lenhador vê o próprio corpo ser mutilado na mesma medida em que se empenha na derrubada de árvores, sem medir consequências. Impulsionado por sua juventude e força, não se importa com a destruição da floresta em sua região, nem com a devastação que se repete pelo mundo. As notícias de catástrofes não lhe interessam.

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Então, no manuseio da motosserra, acidentes estranhos se sucedem: a perda de um dedo, depois parte de uma perna… Os anos passam, e o corpo do lenhador vai se desfigurando até o inconcebível. Chega o momento em que ele se tornou um velho, e “a extinção dramática da sua força coincidiu com a extinção completa da floresta, outrora exuberante e quase impenetrável”. Resta agora o deserto, talvez o planeta sem verde de Fredric Brown.

As árvores se vão, cortadas ou incineradas, enquanto assistimos. Alguém ao lado diz, “não é tão grave assim”. E respiramos aliviados.

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