“Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu. Tá tudo assim, tão diferente”, cantava Cássia Eller. Ela já nos deixou e não viu que o tão diferente seria tão diferente assim. O inverno gaúcho, tradicionalmente frio e úmido, tem registrado temperaturas que pedem um passeio, como os dos seis manés, dos Kmaradas, que foram no sentido Litoral, curtindo Red Hot, Bob Marley e Charlie Brown. E não precisou ir para o Rio, de Fernandinha Abreu, que chega aos 40 graus.
Apesar dessa variação dos termômetros e do julho ter sido o mais quente da história, não posso dizer que isso me desagrada. Pelo contrário. Gosto do calor, porque, como cantam Rionegro e Solimões, “o frio da madrugada já surrou meu corpo, nesta cidade quase fiquei louco”. E, sempre que estou no outono, fico pensando como Tim Maia: “quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti; pode o outono voltar, eu quero estar junto a ti”.
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Gosto do calor, mas fico preocupado, porque em uma prática de empatia, penso em quem produz, que vê as plantas perdidas nas estações florescendo em pleno período de friaca e geada. Salvas estão as flores dos Titãs, que são de plástico e não morrem. Quem já percebeu isso é a Tati Portella. Antecipou-se ao presentear com versos simples, porque as flores secam e caem ao chão.
O calor no inverno me remete, além de quem planta, àqueles que confeccionam ou vendem as roupas quentes. Quem comprará uma blusa de lã com temperaturas tão elevadas? Qual será o ganho daquela turma que “quando é tempo de tosquia já clareia o dia com outro sabor; em que as tesouras cortam em um só compasso enrijecendo o braço do esquilador”? E aqueles que vivem do turismo do frio, que atrai os visitantes para o Rio Grande do Sul, na certeza de que nas palavras de Fogaça e com a voz dos Almôndegas, “o vento negro, campo afora, vai correr, e quem vai embora, tem que saber, é viração”.
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As temperaturas invernais gaúchas não são mais as mesmas, o tempo de florescer não é mais o mesmo, as roupas que usamos talvez não precisem da lã, resultado do trabalho do esquilador, mas continuamos os mesmos, sentados na mesma praça, no mesmo banco, com as mesmas flores e o mesmo jardim.
Voltar ao que poderíamos considerar normal talvez nem seja possível, mas temos condições e capacidade para fazer melhor, para evitar que as mudanças continuem em um ritmo desenfreado para condições degradantes ao nosso planeta. É ele que temos, e só ele por enquanto. Então, não dá para fazer como Chico Buarque, à toa na vida, esperando que o amor chame para ver a banda passar cantando coisas de amor. Cada um pode fazer a sua parte e deve começar: A-GO-RA!
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