Um inferno pior que o de Dante

Não sei se tu, caro leitor, viste o filme Melancolia.

Um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a Terra, o que resultaria em sua destruição por completo. Neste contexto, Justine (Kirsten Dunst) está prestes a se casar com Michael (Alexander Skarsgard). Ela recebe a ajuda de sua irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg), que, juntamente com seu marido John (Kiefer Sutherland), realiza uma festa suntuosa para a comemoração.

É de arrepiar, porque aos poucos se vão as esperanças e o choque se torna inevitável, destruindo o planeta Terra.

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Na passagem do dia 31 de dezembro para o ano seguinte, me pareceu que não haveria mais salvação.

Ainda no dia 31 pela tarde se ouviam ruídos semelhantes a um disparo de arma de fogo, mas em tempos esparsos. A tarde corria extremamente quente. Ouviam-se barulhos de carros, coisa normal em dias úteis.

Lá pelas 18 horas começaram a surgir os rojões. Alguns muito fortes.

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Temos conosco, como parte da família, duas cadelas. A Sissi, que é uma boxer, extremamente inteligente e afetuosa. Pressente sons estranhos muito antes de nós. É ágil e quase voa, tal seu preparo físico. Quando tem fome, aproxima-se de um de nós e nos cutuca nas pernas. Tem um bom vocabulário que ela emite e nós decodificamos.

A outra é uma Pug que sempre está acima de seu peso. Só pensa em comer e só faz o que lhe aprouver. Teimosa, portanto. Sempre dorme junto com sua parceira, a Sissi.

Chama-se Rusalka, porque desde pequena gostava de ouvir a bela obra de Dvorák.

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Voltando ao assunto principal, estávamos sentados em torno da piscina, quando o que nos parecia um trovão explodiu nos nossos tímpanos. As duas cadelas começaram a gritar e correram para debaixo das camas. Foram aumentando os trovões gerados pelos humanos sem noção.

Dez minutos antes da meia-noite o demônio surgiu sobre a Terra. Parecia que o mundo ia terminar. Nas outras casas, onde havia cães, o gritedo era um só, num uníssono desesperado. Estávamos às portas do inferno de Dante. Nunca tinha ouvido, em toda minha vida, um foguetório assim. Me pergunto: qual a graça?

Colocamos algodão nos ouvidos das cadelas, mas elas, tomadas pelo pavor, só uivavam de puro medo. Trancamos janelas e portas e ficamos com as pobres vítimas no colo. Colocamos música de que elas gostavam, mas o suplício só amainou pelas três horas da madrugada.

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Eu havia advertido sobre isso na Gazeta, mas não aquilatava que seria nessa proporção.

Venceram os idiotas. Eles são a maioria. Que país é este?

Na próxima: “A teoria das janelas quebradas”.

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