Já confessei aqui que sou leitor assíduo de obituários. Esse hábito vem de longa data. Explico. É uma sessão típica de jornais impressos, mas que é raridade, assim como os veículos impressos, cujo futuro é incerto. Antigamente era um espaço consagrado para reconhecer “próceres da comunidade”, personalidades/celebridades internacionais ou apenas para registrar o “passamento” de mortais comuns que foram lembrados por pessoas próximas.
Ao contrário do que alguns dizem, não se trata de um prazer mórbido. Ser adepto desse tipo de leitura remete à descoberta de biografias que orgulham a condição dos seres humanos dignos que, apesar da simplicidade do cotidiano, foram pessoas justas, honestas e comprometidas em suas comunidades.
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No dia 4 de abril, folheando os jornais do dia, deparei com um texto interessante no quesito humano. O relato contava a trajetória de Juan Vicente Pérez Mora. Ele era considerado, desde 2022, o homem mais velho do mundo. Ele morreu aos 114 anos e deu à Venezuela a primazia de o feito ser anotado no Guinness Records, publicação mundialmente conhecida por dados curiosos.
Conhecido como Tio Vicente, ele foi o nono de uma prole numerosa composta por dez filhos. Nasceu em El Cobre, no estado de Táchira, em 27 de maio de 1909. O livro revela que, como acontecia antigamente, ele começou a trabalhar com 5 anos, na companhia do pai e dos irmãos, na agricultura, ajudando na colheita de cana-de-açúcar e café. Sem dúvida, uma vida dura, de sacrifícios e dedicação à terra.
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O até então mais longevo homem do mundo foi casado com Ediofina del Rosario Garcia, falecida em 1997. Dessa relação, que durou 60 anos, nasceram 11 filhos, 40 netos e 12 bisnetos. No livro de recordes, consta que a vida longa de Tio Vicente se deveu “ao trabalho duro, descanso nos dias de folga, ir para a cama cedo, beber um copo de cachaça todos os dias, amar a Deus e sempre carregá-lo em seu coração”.
O idoso venezuelano frequentou a escola por apenas cinco meses, aos 10 anos, quando seu professor adoeceu e morreu. Aprendeu a ler e escrever com auxílio de um livro doado pelo professor. O velho dos homens do mundo achou um jeito de se alfabetizar e enfrentar as agruras da vida, sem ficar choramingando pelos cantos da vida.
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Esta história comprova que a determinação é fundamental na superação das dificuldades. Vivemos num mundo de facilidades, onde o automatismo da rotina ignora o fator humano, cujo custo por vezes nos obriga a perguntar: vale a pena tanto sacrifício para conquistar avanços tecnológicos e conforto?
Jamais tivemos tanta informação à disposição. Parece, por vezes, que a bestialidade humana cresce proporcionalmente. Não crescemos em inteligência para melhorar o mundo e reduzir desigualdades.
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