Polícia

“Um guerreiro”, diz mãe de vítima do incêndio no Cetrat

“Tchau mãe. Dorme com Deus.” Eram 21h28 da última quinta-feira, 23, quando o celular de Glair Jussara da Silva, de 67 anos, desligou, após o longo papo com o filho Deive da Silva, de 47. A conversa pelo celular era religiosa. Todas as noites eles se falavam. O santa-cruzense estava há seis anos no Centro de Tratamento e Apoio a Dependentes Químicos de Carazinho (Cetrat). Da batalha contra o vício em drogas, ele tirou a inspiração para se livrar da dependência química. Mais do que isso, para também trabalhar para recuperar outras pessoas – de interno, transformou-se em exemplo de superação, tornando-se monitor do local.

“Ele foi um guerreiro. Tentou salvar todo mundo que pôde naquela noite. Esse é o legado que tenho dele. Meu orgulho”, disse dona Glair. Ela conversou com a Gazeta do Sul nesse domingo, 26. O filho Deive foi um dos 11 mortos no trágico incêndio no Cetrat, que aconteceu por volta das 22h30. Diferente dos outros dez, que faleceram dentro do estabelecimento, o santa-cruzense chegou a ser levado com vida ao hospital, mas morreu devido às queimaduras. O corpo foi trazido a Santa Cruz e sepultado nesse sábado, 25, pela manhã, no Cemitério Santo Antônio.

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Incêndio no Cetrat, na cidade de Carazinho, aconteceu por volta das 22h30 da última quinta-feira e resultou em 11 pessoas mortas | Foto: Corpo de Bombeiros

Ainda abalada pela perda, Glair relembrou com carinho do filho, que era o mais velho de três irmãos – Marcos Vinícios tem 39 anos e Márcio Rodrigo, 42. Segundo ela, o santa-cruzense pretendia iniciar um curso superior em Enfermagem, era o plano para os próximos meses. “Ele era maravilhoso. Foi se tratar em Carazinho, ficou trabalhando lá, depois fez curso, se tornou monitor. Aqui ele tinha só o Ensino Fundamental. Depois que foi para lá terminou o Médio e agora estava querendo ir para a faculdade, queria ser enfermeiro.”

Vida reconstruída no Cetrat

Colorado fanático e criado no Bairro Senai, próximo à Igreja São José, o santa-cruzense vinha para Santa Cruz esporadicamente, mas as visitas mais frequentes eram da mãe. “Ele quase não conseguia largar lá para vir para cá. Ele não parava de ajudar, tinha muitas amizades. Nem nos finais de semana, pois participava de eventos de arrecadação de material para a clínica, vendia na feira os produtos da horta que eles produziam, cantava no culto, fazia de tudo”, comentou Glair.

Em entrevista concedida no mês passado à Rádio Gazeta de Carazinho, Deive falou sobre os benefícios do Cetrat na vida dele. Foi durante o lançamento da campanha Aquece, voltada para doações de agasalhos na comunidade local. “O Cetrat restaura a vida de muitas pessoas e restaurou a minha. Eu sou uma pessoa que esteve na drogadição desde pequeno. Comecei com 12 anos. Hoje estou com 47. No Centro desde meus 41 anos, foi aqui que reconstituí minha vida, com muitas atividades e trabalhando a espiritualidade.”

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Mesmo longe da mãe, a conversa era diária. “Toda noite ele me ligava. Era sagrado.” Glair costuma desligar o telefone, após falar com o filho, para dormir. Não viu ligações na manhã de sexta-feira, 24. Ficou sabendo da morte do filho por volta de 11 horas, quando integrantes do Grupo de Apoio a Pessoas com Dependência Química (GAF), da Igreja Batista de Santa Cruz do Sul, foram até sua casa. “Jamais pensei que, logo depois de falarmos, naquela noite, ia acontecer toda aquela tragédia”, enfatizou a mãe. Um pastor de Carazinho também ligou para dona Glair, chorando, para falar do trabalho do filho. “Ele me disse que perderam uma pérola que tinham lá. Ninguém tem o que falar dele. Índole muito boa. Quis mudar de vida, sair das drogas e fazer o bem. É triste perdê-lo, mas o que vou levar da vida dele é que ele deu a volta por cima e morreu fazendo o bem.”

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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