Em tempos de concorrência cada vez mais acirrada, movimentos no sentido oposto causam ao mesmo tempo estranheza e esperança. Há alguns dias, precisamos de uma jarra nova para cafeteira elétrica lá de casa. Poderia fazer uma busca no Google e achar as dezenas de opções disponíveis nos sites e receber em dois ou três dias sem trabalho algum. Seria muito mais fácil e, quem sabe, barato. Preferi o caminho tradicional. Coloquei a peça antiga de vidro em uma sacola, selecionei lugares onde poderia encontrar uma do mesmo tamanho e modelo e fui às compras.
Em uma loja de ferragens nos altos da Rua Venâncio Aires, aqui em Santa Cruz, perguntei se tinham a tal jarra. A atendente, com uma cordialidade ímpar, se desculpou e disse que não trabalhava com aquele item. Outro funcionário ouviu a conversa e sugeriu mais dois lugares onde poderia encontrar. Agradeci e segui aos locais indicados.
Era uma manhã de Oktoberfest. O carro do chope iria cruzar a Marechal Floriano e uns quatro ou cinco ônibus estavam nos arredores da Catedral São João Batista. Os turistas fotografavam tudo. Optei, então, por estacionar na Ramiro Barcelos, quase esquina com a Thomaz Flores. Dali, fui à primeira loja indicada. O produto estava em falta, mas a senhora que atendeu se colocou à disposição para encomendar se eu não encontrasse nos demais estabelecimentos. No caminho, parei em outra eletrônica e recebi mais uma indicação de uma representante especializada daquela marca. Poucos metros adiante, na Tenente Coronel Brito, em uma loja daquelas que tem de tudo um pouco e que eu particularmente adoro visitar, chegou o fim a saga da cafeteira. E ainda a vendedora se prontificou a encaminhar a peça antiga, que estava trincada, para a reciclagem.
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A lição que fica desta situação toda não é, necessariamente, a peregrinação pelo comércio em busca de um dado produto, algo que acontece todos os dias. Por trás da história está a cordialidade dos lojistas, a maioria deles com origem local, em indicar onde seria possível encontrar o que precisava. Eles poderiam simplesmente dizer que não tinham o que eu buscava. Mas preferiram apontar alternativas de estabelecimentos que, por vezes, podem ser considerados concorrentes em razão de atuarem no mesmo segmento.
Pode ser política da boa vizinhança, o que é louvável, mas, como disse um colega aqui da Gazeta do Sul, é sinal de maturidade. Indireta ou diretamente, aquele rapaz que sugeriu, lá na primeira loja, onde eu poderia achar o que procurava, de certo modo ajudou a movimentar a economia, mesmo que o valor do produto em questão fosse relativamente baixo.
São atitudes simples e que fazem a diferença no dia a dia. Da próxima vez em que precisar de algo para casa, certamente vou lembrar dos estabelecimentos por onde passei e indicar o bom atendimento prestado. Costumamos registrar as experiências negativas, mas não custa nada compartilhar aquilo de bom que acontece.
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