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Especial

Um futuro sem fumaça? Para onde caminha a fumicultura

É em um produto que não gera fumaça ou cinzas que pode estar a saída para o setor fumageiro driblar a pressão antitabagista em escala mundial e, ao mesmo tempo, garantir a sobrevivência da produção de tabaco, tão cara à região do Vale do Rio Pardo. Menos prejudiciais à saúde humana em comparação com os cigarros convencionais, os chamados produtos de tabaco aquecido vêm sendo apontados como um futuro promissor para o mercado.

Apresentados como alternativas mais saudáveis para fumantes, os produtos têm como principal diferencial o fato de não envolver combustão na sua utilização. Ao invés de queimar, como ocorre no cigarro, o tabaco é apenas aquecido, gerando um vapor.

Pesquisas realizadas pelas indústrias indicam que é justamente na combustão que a maior parte dos componentes tóxicos do cigarro são liberados. Ao eliminar esse processo, o prejuízo se tornaria bem menor, apesar dos danos diretamente associados à ingestão de nicotina. Sem a fumaça, o impacto sobre a qualidade do ar em lugares fechados também é menor e o usuário deixa de ser um gerador de fumantes passivos. Além disso, o modelo também preserva o ritual, já que a experiência é muito semelhante à do cigarro.

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Um desses produtos foi desenvolvido pela Philip Morris. Lançado em 2014 no Japão, onde já responde por 7% do mercado, e atualmente vendido em 23 países, o IQOS é resultado de uma década de testes e investimentos na ordem de US$ 3 bilhões. A novidade surge em um cenário de redução no consumo de cigarros no mundo: segundo dados da Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA), foram 5,7 trilhões de unidades consumidas em 2012, ante 6,3 trilhões em 2000.

Até agora, 2 milhões de fumantes já migraram para o IQOS. Segundo o diretor de assuntos corporativos da multinacional, Fernando Vieira, é seguro afirmar que o futuro da indústria passa por produtos como esse. “No longo prazo, as pessoas vão substituir o cigarro. Hoje temos tecnologia para oferecer uma opção melhor e essa é a coisa certa a se fazer. Acreditamos que o futuro está aí”, disse. A aposta fica clara nos últimos movimentos da empresa: duas fábricas de cigarro, uma na Grécia e outra na Alemanha, estão sendo convertidas em fábricas de heets (tubos de tabaco usados no IQOS). Outras gigantes do setor também estão entrando nesse segmento, como a JTI (com o Ploom) e a BAT (com o Glo).

ONDE JÁ EXISTE O IQOS
AMÉRICAS
Canadá e Colômbia

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EUROPA
Alemanha, Dinamarca, Grécia, Itália, Mônaco, Holanda, Portugal, Romênia, Espanha, Suíça, Reino Unido, Ucrânia, Rússia, Lituânia, Polônia e Sérvia

ÁFRICA
África do Sul

OCEANIA
Nova Zelândia

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ÁSIA
Israel, Cazaquistão e Japão

SAIBA MAIS

Qual o público-alvo?

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  • O produto é apresentado como uma alternativa aos cigarros para adultos fumantes que querem seguir consumindo produtos de tabaco. A Philip Morris nega que o foco seja atrair novos consumidores.

Qual o preço?

  • Um aparelho IQOS custa na Europa em torno de 70 euros, o equivalente hoje a R$ 260,00. O preço no Brasil, porém, vai depender da tributação. 
  • Já um pacote de tubos de tabaco (heets) tem preço semelhante a um maço de cigarros convencional.

Onde são vendidos?

  • Nos países onde já foi lançado, o IQOS pode ser encontrado em lojas próprias, tabacarias ou outros estabelecimentos.

Onde são produzidos?

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  • O IQOS foi desenvolvido na Suíça e seus principais elementos – o aquecedor e o carregador – são montados na Malásia.
  • Os heets são fabricados por afiliadas da Philip Morris em Neuchatel (Suíça) e Bolonha (Itália).

Quando vai ser vendido no Brasil?

  • Ainda não se sabe, pois depende de regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O esforço da empresa é no sentido de diferenciar os produtos de tabaco aquecido dos cigarros.

Qual a diferença para o cigarro eletrônico?

  • Ao contrário do cigarro eletrônico, que geralmente tem apenas uma solução líquida de nicotina, o IQOS possui tabaco na composição.
  • 100 bilhões de unidades deve ser a produção anual de IQOS a partir do ano que vem
  • 35 países terão comercialização de IQOS até o fim do ano, segundo as projeções da Philip Morris

O QUE PENSAM

Sem dúvida, aprovamos. Entendemos que a existência de produtos alternativos ao cigarro convencional, desde que contenham tabaco na composição, é positiva. Isso nos dá uma garantia, pois deixa evidenciado que a produção de tabaco terá vida longa.
Benício Werner, presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra)

É difícil fazer qualquer tipo de projeção sobre esses produtos, pois depende de regulamentação, do preço e inclusive de como os antitabagistas vão reagir. Mas certamente esse é um dos caminhos que vamos trilhar, embora ainda não se saiba com que velocidade.
Iro Schünke, presidente do Sindicato da Indústria do Tabaco (Sinditabaco)

COMO FUNCIONA O IQOS

  1. O chamado heets é um tubo de tabaco com aproximadamente um terço do tamanho de um cigarro. Esse tabaco é processado de uma forma especial: depois de triturado e reconstituído em folha, ele é compactado para que possa entregar a nicotina e os agentes de sabor a temperaturas mais baixas.
  2. Para ser utilizado, o aparelho precisa ser carregado na luz por cerca de 40 minutos. Cada carga garante o consumo de até 20 tubos, ou seja, um pacote.
  3. O aquecedor é do tamanho e formato de uma caneta. Após a carga, o tubo é inserido numa extremidade, onde há uma lâmina. Essa lâmina esquenta o tabaco em uma temperatura controlada, que não passa de 350 graus. O processo dura seis minutos ou até 14 tragadas.
  4. Como o tabaco é esquentado e não queimado, ao invés de fumaça é gerado um vapor de nicotina. Além do tabaco, um tubo contém elementos que servem para resfriar esse vapor. A absorção de nicotina proporcionada pelo produto é semelhante à de um cigarro.
  5. Uma vez que não há combustão, o IQOS também não produz cinzas. Após o consumo, o tubo permanece com praticamente a mesma aparência.

“A região continua importantíssima”

O volume de tabaco existente em um tubo de IQOS é inferior ao de um cigarro – a quantidade exata não é divulgada por questões estratégicas. Segundo a empresa, porém, não há perspectiva no curto e médio prazo de impactos significativos na demanda por tabaco in natura.

Segundo o diretor de assuntos corporativos Fernando Vieira, embora a Philip Morris aposte pesado nos produtos de tabaco aquecido, essa é uma visão de longo prazo. Em razão disso, também não há qualquer previsão de encolhimento da produção convencional de cigarros. “Um futuro sem fumaça não é um futuro sem tabaco. Não temos perspectiva de descontinuar nada. Por muitos e muitos anos, ainda vamos conviver com o cigarro convencional”, observou.

Vieira também garantiu que não se vislumbra qualquer mudança na atuação da empresa na região de Santa Cruz, onde está presente há 44 anos e mantém hoje uma de suas operações mais completas, com planta de beneficiamento e fábrica de cigarros. A Philip Morris Brasil é, há vários anos, a empresa líder em arrecadação de ICMS no município, respondendo por nada menos que 42,22% do valor adicionado fiscal municipal. “A região e o Rio Grande do Sul continuam importantíssimos para o desenvolvimento da empresa, e acreditamos que ainda vamos contribuir muito. Tanto que recentemente inauguramos um centro de distribuição em Porto Alegre”, acrescentou.

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