Nada como a vida para passar. Um dia, eis que você é confrontado de modo inescapável com a responsabilidade que tem pelos seus. Sabia perfeitamente que esse momento chegaria, só não imaginava como. É noite. Você olha para um espelho embaçado (ele ou a sua visão) e se pergunta: onde estive nesse tempo todo? Por que não fui capaz de fazer o que, sem dúvida, sabia que precisava ser feito?
Lembro do grego Aristóteles na Ética a Nicômaco, em que ele define o que significa alguém ter discernimento: não é apenas saber como se deve agir, mas sobretudo ser capaz de agir como se deve. Quando for necessário. Nada mais claro, mais direto.
Conversa um tanto cifrada, pessoal. Mas quem nunca passou pela experiência da autoavaliação rigorosa? E, à luz incerta do passado, atuou como promotor e réu no seu próprio processo? Mas esse é um exercício inútil. O que passou, passou; não há força capaz de mudar isso, como bem escreveu Ferreira Gullar. A luz pretérita ilumina pouco.
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O passado é movediço, o futuro é uma incógnita e o presente teima em nos escapar dos dedos. Perde-se muito tempo, na verdade. Discutem-se as “grandes coisas”, os problemas da sociedade e do mundo, e obviamente é necessário. Teremos no domingo as eleições mais tensas das últimas três décadas, até onde sei, em uma campanha marcada por violência inaudita. Nunca vi nada igual. Mas estou aqui, remoendo entranhas.
É que, parece-me, tenho perdido a dimensão do que é essencial. E nada é mais revelante do que os entes queridos, o sorriso, a alegria e a esperança de quem efetivamente compartilha a vida conosco. Nada é mais importante do que lutar por eles. Fácil de dizer, fácil de eventualmente esquecer. Perto disso, toda a filosofia, os livros, a arte e a cultura empalidecem.
“Aprendi que estar com as pessoas que quero é tudo quanto me basta”, afirmou certa vez o escritor espanhol Jorge Semprun. E é assim, circunstâncias me fazem compreender bem esse sentimento.
É noite (quando escrevo arduamente este texto), mas daqui a algumas horas será dia novamente. Como sempre. Um dia depois do outro, um instante, e as coisas mudam. E agora vou colocar um ponto final, pois tem gente me esperando. Antes que me esqueça: vote em quem quiser no próximo domingo, 2, mas, por favor, respeite o resultado da eleição.
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