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FORA DE PAUTA

Um brinde às conquistas

Muitas das pessoas que convivem comigo já tiveram uma experiência parecida. Foram apresentadas a uma foto da minha mãe seguida da frase: “acredita que ela tem ‘tantos’ anos?”. Isso acontece desde… Bom, nem lembro quando! Geralmente, a brincadeira é seguida por comentários do tipo: “não pode, é tua irmã”, ou “com todo respeito, ela é linda”, com os quais eu sorrio e fico toda boba, porque sim, ela é linda.

Um pequeno contexto: minha mãe engravidou muito jovem e eu nasci quando ela tinha só 15 anos. É claro que a gravidez não foi planejada, mas ela e meu pai enfrentaram a “bronca” sem pestanejar. Desde sempre a gente brincava com o momento em que eu teria 15 e ela 30 – a gente piscou e esse dia chegou. Piscamos de novo e se passaram dez anos.

Hoje, eu tenho 25 e ela, por mais que pareça não ter passado dos 30, tem 40 – inclusive, dividimos o mês de aniversário. Por isso não me surpreendo quando dizem que parecemos irmãs. Além de eu ter puxado muitos traços dela, nossa pouca diferença de idade fez a nossa relação ter esse quê de irmandade mesmo. É claro que teve muitas brigas (cof, cof, na minha adolescência), desentendimentos e momentos em que ela era a mãe bem carrasca. Mas eu também tenho culpa no cartório, como hoje enxergo.

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A parte boa é que construímos nossa relação sempre muito pautada na verdade, mesmo quando brigávamos. Eu sinceramente não consigo lembrar de um momento em que menti para minha mãe. Ela sempre soube de cada passo que eu dei, mas não de uma forma superprotetora. Esse “compartilhar tudo” veio de um lugar de carinho, apoio e compreensão. Veio de saber que ela não me julgaria – até porque teve os próprios demônios para enfrentar.

Lá em 1998, quando eu nasci, ela continuou indo para a escola. Terminou o Ensino Médio mesmo com um bebê no colo e já começou a trabalhar supercedo. Tanto que eu lembro de ser o mascotinho das colegas de trabalho quando pequena, estava sempre junto dela. Ela teve que amadurecer muito cedo e enfrentar situações bem difíceis. Mas ela superou cada uma delas, sempre acreditando que as coisas acontecem como precisam acontecer e que tem como tirar algo bom de tudo nessa vida.

Começou uma carreira singela no comércio de Santa Cruz muitos anos atrás. Mudou algumas vezes de empresa, mas seguia como vendedora. Destino ou oportunidade, entenda como quiser, aprendeu a projetar móveis. Acabou trocando de emprego nessa área e daí não se contentou mais. Aprendeu, errou, acertou e aprendeu mais um pouco. Logo começou a assumir papéis de liderança e, de novo, enfrentou os desafios de peito aberto. Viu ali a oportunidade de crescer profissionalmente e assim o fez. Aos quase 40, foi em busca de uma faculdade.

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E gente do céu, quanto orgulho eu sinto. Neste sábado, 15, ela se forma no curso de Gestão Comercial. Como boa capricorniana, ela é bem ligada ao trabalho e sabe que esse é um passo importante na carreira. Por aqui, o peito fica quentinho de poder acompanhar e aplaudir mais essa conquista dela. Ficam também as lembranças de todos os momentos que compartilhamos juntas e a expectativa por tudo que ainda tem por vir.

Minha mãe, irmã, amiga. Que puxou minha orelha, mas sempre esteve lá para me dar colo. Que não só me aceitou como eu sou, mas que é a maior leoa do mundo quando se trata de mim e do meu irmão. Virou advogada da causa LGBTQIA+ por minha causa e apresenta minha esposa com orgulho. “Essa é a minha filha e essa é a minha nora”, ela diz. E eu sei que fácil não foi.

Desde o positivo no teste de gravidez, ainda uma criança; me criar ao lado do meu pai (que também tinha zero experiência); não abandonar os estudos; se destacar em um mercado de trabalho bem competitivo; conciliar vida pessoal com tudo isso. Ela sempre fez com garra e graça, sabe? Ela é e sempre vai ser meu exemplo. Com ela aprendi tudo que sei e sou.

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Por isso, essa coluna é dedicada a ela. Às conquistas de uma mulher incrível, que enfrentou o mundo pelos filhos, que sorri, chora e vive. Pelas viagens que ela conquistou, pela profissão que ela escolheu e por cada superação do caminho. Neste sábado, ela vai receber um diploma e eu vou estar lá, aplaudindo emocionada, do mesmo jeito que ela fez quando eu me formei.

Pela história de vida dela e por nunca ter desistido, essa é uma singela homenagem à minha mãe. Agora, o povo que me aguente: a foto que eu vou mostrar é dela de toga e não espero nada menos do que elogios mil. Ela merece e sabe disso. O orgulho que eu tenho dela vem de sempre e é para sempre! Que venha a festa que a dona Aline merece!

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