Que a leitura oferece diversos benefícios e propriedades para as pessoas que leem, isso você já sabe. O que você talvez ainda não saiba é que o hábito de ler pode se transformar em terapia e salvar vidas. Como o próprio nome diz, a biblioterapia – terapia a partir dos livros –, é um dos benefícios da leitura e que vai além daqueles ganhos mais conhecidos, como entretenimento cultural, informação, conhecimento, ou, o de simplesmente passar o tempo.
Em entrevista ao programa Rede Social, da Rádio Gazeta FM 107,9 (ouça a íntegra abaixo), o jornalista e escritor Galeno Amorim explicou como é possível dar à leitura fins terapêuticos. De acordo com Amorim, o método da terapia pelos livros oferece ferramentas que auxiliam no processo reelaboração de questões internas e de como o sujeito se relaciona socialmente. Trata-se daqueles potenciais de conhecimento associados à empatia e à catarse tradicionalmente identificados na experiência poética.
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“A biblioterapia acontece quando a gente lê um livro e entra dentro da história. A gente se associa com os personagens, com o enredo, com a trama. Depois, em conversa com o biblioterapeuta, quando estamos falando sobre a história ou sobre o aconteceu no livro, na verdade estamos falando de nós mesmos. Isso pode ser um processo catártico, que faz a gente se conectar, se associar com os personagens ou com o próprio narrador da história”, explicou.
Conforme Galeno Amorim, a biblioterapia age a partir de uma associação empática, o que faz com que as pessoas sejam estimuladas a colocarem para fora as emoções. “Muitos dos problemas pelos quais passamos na vida têm origem no campo emocional, como questões mal resolvidas, situações de tristeza, bullying, angústia ou ansiedade. Coisas que, no momento atual em que se vive, são ainda mais profundas e que aparecem com mais intensidade e que depois podem resultar em desdobramentos no campo físico.” Por isso, segundo Amorim, a partir da leitura de um texto, ou fragmentos de textos ou poesias, a biblioterapia estimula as pessoas a falar e externar aquelas situações internalizadas.
O escritor é presidente da Biblioteca Nacional e do Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc) e responsável pela criação do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL). É autor de 18 livros, entre os quais Retratos da Leitura no Brasil. Também é presidente do Observatório do Livro e da Leitura.
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Ele conta que aprendeu a bliblioterapia na prática, participando de sessões individuais e em grupos e, somente mais tarde, começou a introduzir essa prática nos projetos. Segundo Amorim, a técnica já beneficiou mais de 500 mil pessoas no Observatório do Livro e da Leitura.
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Galeno Amorim explica que não existe um curso de graduação para ser biblioterapeuta. Não é uma profissão regulamentada e qualquer pessoa pode se habilitar, inclusive sem formação acadêmica. No entanto, existe uma série de critérios para se tornar um biblioterapeuta. “Há cursos de biblioteconomia em que existe uma disciplina de biblioterapia. O próprio Observatório do Livro oferece um curso específico de 60 horas.”
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Buscar conhecimento sobre as técnicas e funcionamento da prática é algo altamente recomendável, no entanto, Amorim cita a arte de “gostar de pessoas” como uma das principais características para poder atuar na função de biblioterapeuta. “Se não gostarmos de pessoas e de ouvi-las teremos dificuldades”, diz.
A biblioterapia, contudo, não pode ser confundida com conhecimentos sobre literatura. Conforme explicou o jornalista, a biblioterapia é uma ferramenta de expressão de sentimentos e não uma interpretação de textos onde queremos saber o que o autor ou o narrador quis dizer com determinado trecho. “O mediador, como o próprio nome já sugere, vai mediar e fazer aquele processo de facilitação, como escolher o livro e fazer algumas perguntas geradoras, mas o livro em si que fará as provocações a partir do enredo, trama ou tema que foi escolhido.”
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