A história do bolo reverbera neste início de ano. Não é a crise climática ou o governo Lula o assunto do momento. É o bolo. Coisa de serial killer, de psicopata? Uma pessoa mentalmente perturbada? Uma interesseira? À medida que surgem novas informações, vivemos uma espécie de mal-estar.

Para começar, nos cabe questionar: foi mesmo a nora a responsável por contaminar a farinha? Com tanta mídia, tanto holofote, não seria de duvidar que daqui a um tempo surgissem provas em outro sentido. No auge dos acontecimentos, cautela por parte das autoridades é sempre interessante.

Ressalva feita, vamos ao que se tem de fato. Três pessoas morreram no Litoral Norte após comerem um bolo contaminado com arsênio. Uma outra pessoa, morta meses atrás, teve o corpo exumado e constatou-se a mesma substância.

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Enquanto a mulher apontada pela polícia como autora nega, não há como desconsiderar o efeito do episódio em nossas vidas. Quantas sogras – e sogros – devem estar pensando na probabilidade de passar pelo mesmo? Quantos maridos, esposas? Ou, ainda, no risco de morrer quando nem se é o alvo?

A trajetória humana está repleta de mortes por envenenamento. De gente famosa e de anônimos. De reis e súditos. Teve caráter oficial na Grécia e na China antigas. E mesmo depois de cair em desuso como norma legal, seguiu firme como meio eficiente e clandestino de se livrar de desafetos. Em disputas pelo poder político, há incontáveis assassinatos com drogas fatais. No passado e hoje. Quem nunca ouviu falar dos russos envenenados com Novichok e dioxina, talvez os casos recentes de maior repercussão mundial?

Quando vários morrem, como em Torres e no Piauí, ficamos impactados. Alguns, temerosos. Ainda mais se for por perto. O cérebro dá voltas, a possibilidade nos perturba. Será que pode acontecer comigo? Quem pode prever que uma pessoa próxima seja capaz de fazer algo tão horrível?

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A dissimulação é talvez o que mais inquieta. Não é um assassinato às claras, um revólver apontado para a nossa cabeça, um empurrão no precipício, uma faca, um pedaço de pau. Nada disso. É um bolo. Um bolo comum de frutas cristalizadas coberto com açúcar de confeiteiro. É a certeza de que aquelas pessoas, em absoluta inocência, não tiveram direito a nenhuma tentativa de defesa.

É uma cronologia de terror. Matar sem desculpa. Talvez sem uma crise de raiva ou uma doença mental que justifique um milésimo do desatino. Planejar, executar e esperar a morte do outro.
Durma-se com isso.

LEIA MAIS NA COLUNA DE ROSE ROMERO

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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