Desde novembro, o medo é constante na vida de Fátima Rosane Vieira Koch, de 54 anos. No segundo dia em sua nova residência, alugada no Bairro Goiás, ela passou por momentos de terror. Além de ser assaltada, foi agredida pelo ladrão, que tentou sufocá-la. O aumento da sensação de insegurança sentido pela dona de casa e pela comunidade de Santa Cruz ao longo de 2015 foi confirmado pelos dados divulgados nessa semana pela Secretaria de Segurança Pública. No ano passado, foram registrados no município 448 assaltos – 109 a mais do que em 2014. A média é de um roubo a cada 19 horas.
As janelas agora têm grades. O mesmo acontece na porta da garagem, por onde o ladrão invadiu a casa em uma calma noite de quinta-feira. As luzes, após o sol se pôr, são mantidas sempre acesas. E a presença dos dois filhos na casa de Fátima é diária. Tudo para evitar que o pesadelo da mãe volte a acontecer. “Desde aquele dia, o medo nunca passou”, admite. As caixas de papelão da mudança ainda estavam empilhadas quando houve o assalto. Após 30 anos morando em um apartamento na Rua Princesa Isabel, ela optou por um local menor para viver com a tia, de 94 anos. “Eu nunca havia sido assaltada. Nem pensava muito nisso. No meu apartamento, eu até dormia na sacada. Hoje tudo ficou diferente”, conta.
O ladrão arrombou a residência quando a nova moradora saiu para visitar um dos filhos. Ao retornar, por volta das 23 horas, Fátima não percebeu o vidro quebrado na porta da garagem, pois tudo estava escuro. “Minha tia havia ficado dormindo em casa e nem acordou. Eu entrei e logo fui surpreendida por ele. Quando gritei, ele tentou me sufocar, apertando a minha garganta.” Após, o homem empurrou Fátima contra as caixas de papelão da mudança e fugiu correndo. Ele levou a bolsa dela, com cerca de R$ 1 mil, e uma filmadora que estava em um dos quartos.
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Os gritos de desespero acordaram a vizinhança. “Meus filhos e meus vizinhos me ajudam muito. Estão sempre por aqui, para me sentir mais segura. Mas não adianta muito. Sempre que chego em casa, enxergo o assaltante escondido no escuro”, lamenta. Ela procurou ajuda psicológica para tentar vencer o medo. “Ficou muito difícil depois daquela noite. A presença de parentes e amigos me tranquiliza, a polícia também passa por aqui frequentemente, mas o trauma ainda é grande.” Mesmo assim, ela agradece por sua história não ter acabado de forma trágica. “Pelo menos eu sobrevivi. Se ele estivesse armado, poderia estar morta. Agradeço a Deus todos os dias por ainda estar aqui.” O autor do crime não foi identificado.
Ajuris cobra melhorias nos presídios
Nessa semana, quando o delegado Emerson Wendt assumiu a chefia da Polícia Civil, seu antecessor, Guilherme Wondracek, criticou justamente o fato de “a polícia prender e a Justiça soltar”. A Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) rebateu a crítica. Por nota, o presidente Gilberto Schäfer disse que vê a análise com preocupação. Ele cobrou que o Estado resolva “urgentemente os problemas que assolam o sistema prisional superlotado e que geram efeitos nefastos para a sociedade”.
A nota diz ainda que “a distribuição constitucional das competências públicas impõe a compreensão de toda a sociedade e dos agentes de segurança de que cabe ao Judiciário observar o devido processo legal e o contraditório para fazer o controle da legalidade da persecução criminal, agindo apenas por provocação e a partir do caso concreto”. Por fim, destaca que é responsabilidade do Poder Executivo “planejar, debater com a sociedade e executar uma política pública de segurança, aliada a outras diversas formas de intervenção na organização social, para frear e combater o aumento da criminalidade”.
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OS ÍNDICES
VIDA
HOMICÍDIO LATROCÍNIO
2015 20 0
2014 30 3
2013 27 0
2012 15 1
2011 9 1
2010 9 2
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Se compararmos o ano de 2015 com o anterior, a queda é de 34% no número de homicídios. No entanto, o dado ainda é alto se confrontado com os índices registrados entre 2010 e 2012. Em 2014 houve o maior registro de assassinatos, com 30 casos. Em 2013, já haviam sido cometidos 27 homicídios em Santa Cruz – índice 80% maior do que o do ano anterior. Aliado a isso, o ano de 2016 vem apresentado um alto índice de homicídios, com dez casos em apenas 42 dias. Os latrocínios tiveram redução em 2015, quando nenhum caso foi registrado. Em 2014 foram três roubos seguidos de morte no município, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
PATRIMÔNIO
FURTO ROUBO
2015 1.811 448
2014 2.353 339
2013 2.1 04 330
2012 1.967 264
2011 2.088 307
2010 2.040 328
VEÍCULOS
FURTO ROUBO
2015 643 36
2014 314 25
2013 273 15
2012 338 17
2011 281 20
2010 179 21
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Os assaltos tiveram crescimento de 34% em 2015, com 109 casos a mais do que em 2014. Entre os anos de 2010 e 2014, os índices desse tipo de crime estiveram mais estáveis. O furto de veículo mais que dobrou, com 643 registros. Em 2014 foram 314. Já o roubo de veículos também teve acréscimo de 44%, com 36 casos. Entre os crimes desse tipo, o que apresentou redução foi o furto, com queda de 24%. Em 2015 foram 1.811 registros contra 2.353 do ano anterior.