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CASOS DE ARQUIVO

Um ano do crime que abalou Linha Eugênia; vídeo mostra ação dos bandidos

Um dos crimes mais graves registrados em Santa Cruz do Sul nos últimos tempos permanece sem resolução. Em 13 de fevereiro de 2022, Silvio Aloísio Soder, o popular Tuti, de 64 anos, morreu com um tiro no peito durante a tentativa de roubo ao armazém de sua família, em Linha Eugênia, lugarejo próximo de Monte Alverne. O caso, que completou um ano nessa segunda-feira, 13, deixou marcas não só em Silvério Wagner, de 63 anos, que é irmão de Silvio e sobreviveu – mesmo sendo alvejado por um disparo de arma de fogo –, mas também na comunidade, que não estava acostumada com tamanha violência.

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A investigação, que continua em andamento, ficou a cargo da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Até agora, ninguém foi preso ou responsabilizado por esse crime, considerado um latrocínio – roubo seguido de morte. Um ano depois, a Gazeta do Sul relembra o caso, com imagens e informações até então não reveladas. A equipe também teve acesso exclusivo a um vídeo que mostra os bastidores do crime no interior (veja acima) e traz os detalhes do trabalho policial e de perícia realizado até o momento, na sexta reportagem da série Casos do Arquivo.

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Voltar à rotina tranquila vai ser difícil, diz familiar

Solteiros e sem filhos, Silvio e Silvério estavam sempre orbitando ao redor do armazém do irmão, Guido. Gostavam de ficar próximos dos familiares e do clima alegre do lugar. Na noite de 13 de fevereiro de 2022, às 21h26, Silvério estava em uma parte ao lado do estabelecimento, na área externa, quando foi surpreendido por dois criminosos armados e encapuzados. Eles o renderam enquanto o santa-cruzense fumava.

O homem de 63 anos ainda chegou a gritar para avisar os outros familiares de que estava acontecendo um assalto. Em seguida os dois ladrões, levando Silvério, foram para a frente do Armazém Soder, onde outros cinco familiares, incluindo Silvio, estavam sentados tomando chimarrão, junto de dois cães. Enquanto um dos criminosos forçou Silvério a ingressar na sala de estar – que tem uma porta exclusiva, na fachada do prédio – o outro bandido avançou na direção da entrada principal e disparou contra as pessoas.

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Em imagens de câmeras de segurança, foi possível visualizar a sequência do delito. Houve luta corporal e muitos disparos. Um dos tiros acabou acertando o peito de Silvio, atingindo pulmão e coração, o que provocou sua morte. No meio da confusão, um dos assaltantes ainda bateu várias vezes com a cabeça de Silvério no trinco da porta, chegando a entortar a maçaneta.

Em outro momento, o ladrão tentou acertar um chute no oponente, mas só atingiu a parede, deixando-a marcada com a sola do calçado. Durante a briga, Silvério levou um tiro que atravessou o ombro. Sem levar nada, os assaltantes fugiram do local. O dono do armazém e irmão dos dois baleados, Guido José Soder, também acabou ferido, por conta de uma coronhada. Toda a ocorrência não demorou mais que cinco minutos.

Em uma família com sete irmãos – cinco homens e duas mulheres –, Silvio foi o primeiro a falecer. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Linha Araçá. As pessoas da comunidade ficaram em estado de choque, apavoradas com a situação. Não estavam acostumadas a esse tipo de crime. Um ano após o triste episódio, os Soder evitam falar do assunto. “É muito doloroso. Ainda estamos abalados e voltar à rotina tranquila que tínhamos vai ser difícil”, afirmou uma pessoa da família, que prefere ter seu nome mantido em sigilo.

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DNA em botina e luminol no automóvel

Desde que o caso aconteceu, a Polícia Civil vem trabalhando para desvendá-lo. Pelo menos oito testemunhas foram ouvidas no curso da investigação. Os agentes também cumpriram uma série de mandados de busca e apreensão, autorizados pelo Poder Judiciário. Em um deles, um Chevrolet Vectra preto que poderia ter sido usado no delito foi apreendido. A pedido da Draco, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) analisou o interior do automóvel.

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À Gazeta do Sul, Paulo Ricardo Ost Frank, 61 anos, considerado um dos mais prestigiados peritos do Estado e atual coordenador da 10ª Coordenadoria Regional de Perícias (10ª CRP), com sede em Santa Cruz, detalhou o trabalho feito no caso. Ele esteve em Linha Eugênia na noite do crime. “Verificamos, naquela oportunidade, disparos por vários lugares do estabelecimento e manchas de sangue em diversos pontos. Coletamos o material para confronto de DNA na maçaneta e em outros locais, como no chão”, salientou o perito, que foi diretor estadual do Departamento de Criminalística do IGP de 2015 a 2018.

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Sobre o carro, ele conta que no interior do veículo foi passado o chamado luminol, produto químico que reage emitindo uma luz quando em contato com sangue. Alguns vestígios foram encontrados no Vectra. Uma botina que havia sido perdida por um dos assaltantes foi recolhida. Em entrevista à Gazeta dias após o crime, Silvério Wagner contou que foi ele quem arrancou o calçado de um dos criminosos, quando este iniciou a fuga junto do comparsa.

“Recolhemos essa botina, que era de um dos autores do crime, e cortamos para retirar DNA de contato interno da ponta dos dedos na palmilha”, detalhou Frank, que é natural de Canoas, foi professor da disciplina de Exame de Cena de Crime no Curso de Formação de Peritos Criminais do Estado e, desde 2018, trabalha em Santa Cruz.

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Um taco de sinuca, que segundo testemunhas foi quebrado por Silvio na cabeça de um dos ladrões, também foi periciado. “Examinamos o taco e não tinha vestígios de sangue nem de cabelo que pudessem indicar algum DNA”, salientou o coordenador da 10ª CRP. Os últimos laudos entregues pelo IGP à polícia datam de agosto. O material de perícia seria confrontado com DNA de suspeitos. Segundo o delegado Marcelo Chiara Teixeira, ainda faltam diligências para poder concluir o inquérito do caso. Em 12 de abril do ano passado, a última novidade havia sido revelada pelo delegado Luciano Menezes.

Ele confirmou que Marco Antônio de Carvalho, 47 anos, conhecido pelo apelido de Véio, foi um dos autores do crime. Véio, que estava sendo investigado pelo delito, foi morto por disparo de um policial militar quando tentou assaltar um banco em 8 de abril, em Santana da Boa Vista. Desde essa revelação, não houve mais novidades confirmadas sobre o latrocínio.

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