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OPINIÃO

Ulisses Da Motta: “Dia 2 – Diversidade de estéticas”

A mostra competitiva nacional do Festival Santa Cruz de Cinema começou nesta terça-feira, 25. A diversidade de estéticas parece ser uma das tônicas dessa seleção.

Cineminha no Beco (direção de Renato Oliveira): um documentário costuma ser tão bom quanto o seu personagem-tema. É o caso de Lindenberg Silva: uma espécie de “agitador cultural” no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, que narra sua iniciativa de projetar filmes para crianças nos becos da comunidade. A história é obviamente inspiradora por si só e o protagonista, um encanto. Talvez a melhor passagem seja aquela em que ele vai de porta em porta apresentando à equipe do curta os moradores que o apoiaram na ideia. No geral, o filme se beneficiaria se tivesse dois minutinhos a menos.

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Em Nome do Pai (direção de Diego Müller): o gaúcho Diego Müller tem uma estrada consolidada e exercita sua maturidade artística nesse título, que se enquadra no que eu costumo chamar de “mini-longa”: um curta com acabamento, ritmo e estrutura para um filme maior. Acredito que todo o curta-metragista faz um trabalho assim em algum ponto da sua jornada. A obra abusa da fantástica fotografia do genial Bruno Polidoro, o melhor dessa função no estado. O elenco é grande – como eu disse, tem cara de longa –, atua bem e a história é dramática. Porém, a obra seria mais envolvente se tivesse espaço para se desenvolver. Mas aí precisaria ser um longa mesmo.

Pausa para o Café (direção de Tamiris Tertuliano): falo acima de curtas que são na verdade “mini-longas”. Isso me remete a um dito do meu amigo roteirista Roger Monteiro: “um longa é uma luta de boxe que se vence por pontos; já o curta se vence por nocaute”. Pausa para o Café é um curta-metragem de facto: uma premissa sólida, duas personagens, cenário único. Não chega a vencer por nocaute, porque falta aquela pequena catarse final. Mas tem tudo no lugar, em especial a ótima atuação de Rosana Stavis e a inteligente decupagem da diretora Tamiris Tertuliano, que consegue aumentar a tensão de um curto diálogo com uma simples evolução de planos e contraplanos.

Qual é a Grandeza? (direção de Marcus Curvelo): os primeiros dois minutos deste híbrido de documentário e ficção me conquistaram de cara e Qual é a Grandeza? é meu predileto do Festival até o momento. É um filme sobre cinema: um jovem cineasta desiludido chega numa ilha para se livrar de seus filmes e abandonar o ofício. O início tem frases divinamente sarcásticas sobre a situação de se fazer e viver de audiovisual nos nossos tempos. Aos poucos, a narrativa vai ficando experimental e o final, mesmo que subjetivo, é repleto de melancolia.

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Sinal de Alerta: Lory F. (direção de Frederico Restori): documentário que entra no veio de filmes-afeto, que resgatam a memória de alguém já falecido através de imagens de arquivos e depoimentos confessionais de familiares. Porém, aqui o realizador não é parente da figura resgatada, a musicista Lory Finocchiaro. Mulher fascinante, ela tomou de assalto a cena roqueira de Porto Alegre e faleceu precocemente. Quando a câmera vem para o contemporâneo e entrevista o filho Ricardo, a emoção transborda da tela. No entanto, não me apraz a escolha estética de tratar a imagem com excesso de ruído que imita fitas de vídeo velhas (bem mais do que parece ser a realidade das imagens de arquivo). Essa virtuose de finalização pareceu competir com a personagem-tema a atenção da plateia.

Fantasma Neon (direção de Leonardo Martinelli): produção que vem com as credenciais do importante Festival de Locarno. Em seus 20 minutos, trabalha conceitos bastante rebuscados, ao gosto das curadorias de festivais. Faz sentido: a experiência fica muito complexa e puxa amplas discussões. Tanta elaboração parte de uma premissa simples: um entregador de aplicativo que sonha em ter uma moto, enquanto vive as agruras do seu trabalho. Deste ponto de partida temos números musicais, um flerte rápido com o formato documental, personagens encarando o público (a famosa “quebra da quarta parede”) e um fantasma de computação gráfica, tudo ressaltando críticas sociais e humanas. O trabalhador de aplicativo sequer tem tempo para morrer neste universo. Obra fascinante cujo maior mérito é fugir do hermético.

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