Mais uma eleição se aproxima e os brasileiros terão oportunidade de escolher os legisladores e o chefe de governo da base da federação, que é o município. Emergem, nesta época do votar, as grandes questões ligadas ao exercício da cidadania, vale dizer, ao exercício do poder que emana de cada eleitor. Chega a hora decisiva de escolher o número a ser digitado. Não pode ser por sorteio, aleatório. Porque decidir futuro é vital ou fatal. Um em cada cinco eleitores preferem não fazer escolha alguma, assustados com os candidatos arranjados pelos partidos.
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Ao longo dos anos, podemos avaliar a qualidade das escolhas pelos resultados. E aí a gente vê que, em geral, não houve boas escolhas, porque não se melhora como poderíamos. Peguemos a escolha do presidente da República como referência. No início do século, foi eleito o candidato do PT, prometendo acabar com a fome. Convenceu o Brasil e o mundo. Virou celebridade no mundo por acabar com a fome no Brasil. O candidato e seu partido ficaram no poder na maior parte desses 21 anos, e agora eles próprios se queixam de que o Brasil tem 33 milhões de famintos. Passam atestado, eles mesmos, de que foi só discurso para continuarem no poder.
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Por atitude ingênua de eleitores é que os poderosos da política julgam que são todos tuteláveis; massa de manobra que não pensa, não reflete e é fácil de ser conduzida. Enquanto forem carentes, serão atendidos com bolsa-família e auxílios afins. O governo é tido como o pai bonzinho e nem sequer lhes passa pela cabeça perguntar de onde vem o dinheiro. Esses tutores, para reforçar o vínculo (vínculo vem de corrente, em latim), usam a instrução, o ensino escolar, para catequizar as crianças em sua religião ateísta e materialista. Alienar para conduzir. Acabo de ver nas redes sociais que muitos jovens não sabem o que se comemora no 7 de Setembro. Já tomaram os votos de hoje; querem tomar também as mentes de amanhã.
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Aquilo que o poder político faz desde Cabral, o poder judiciário percebeu que também pode fazer, “empoderando-se”. Testou na pandemia, cancelando direitos e garantias fundamentais, e todo mundo obedeceu. Aí passou a investigar seus ofensores, bloquear seus canais e contas, cassar-lhes os passaportes e prendê-los. Direito de manifestação ficou sob censura; deputados e senadores passaram a ser violáveis por suas palavras. E todo mundo ficou quieto. Hoje essa tutela provém dos três poderes. E o poder original, o povo, foi digerindo isso como natural e normal. Afinal, o governo dá bolsa-família e afins. Alimente-os e domine-os. E vão nos domesticando.
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Não é chocante, tudo isso? Parece ficção, mas é crescente realidade. Estamos nesse processo de domínio. Parece 1984, de Orwell, e temos que evitar que o futuro seja o de A máquina do tempo, a ficção de H.G. Wells, em que os Morlocks acabam por dominar os Elois, os ingênuos bonzinhos que não perceberam enquanto cediam suas liberdades. Dia 7 de Setembro uma parte desses Elois saiu para as ruas, mobilizados pela voz digital libertadora. A verdade que liberta carece de vozes que saibam argumentar, além de gritar. O poder inflado e ilegal não cede e reforça seu espírito-de-corpo. A rede digital que deu voz a todos também estimulou o conforto de muito dizer e pouco fazer. E assim vamos, coerentes à nossa história, cheia de enganos e engodos, enquanto se aproveita a falta de conhecimento para exercer a tutela.
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